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TEATRO
Grupo é formado por pacientes do hospital A Casa para o desenvolvimento da saúde mental
Ueinzz comemora cinco anos com "Gothan SP"
MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Cia. Ueinzz, formada por pacientes do hopital-dia A Casa para
o desenvolvimento da saúde
mental e psicossocial, está comemorando cinco anos com a estréia
de "Gothan SP", com direção de
Sergio Penna e Renato Cohen.
O terceiro espetáculo da trupe
fala sobre a solidão nos grandes
centros urbanos e tem como ponto de partida o livro "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino. "Cada
ator trouxe um pouco de sua cidade interior para montarmos uma
cidade imaginária", diz Penna.
A mistura da Gothan City, de
Batman, e São Paulo surgiu da intervenção de um ator que trouxe
para cena o homem-morcego durante os ensaios.
"Temos um Batman paulistano
que gosta de frequentar os metrôs, de andar debaixo do minhocão. São muitos anônimos nas
ruas e em apartamentos que, de
vez em quando, entram no foco
da luz", diz Cohen.
Além dos fragmentos do texto
de Calvino, "Gothan SP" tem inserções de poemas de Paulo Leminsky, Chacal e Ana Cristina César, sem contar as criações dos
próprios atores durante os ensaios. "Temos o que chamamos
de atores-autores", diz Penna.
"Eles ficaram tanto tempo impossibilitados de se expressar, que,
quando entram no palco, tudo já
está pronto."
De acordo com os diretores, o
caos narrativo, a quebra da linearidade, a performance e o improviso fazem parte do chamado teatro do inconsciente.
Tanto nos ensaios como nas
apresentações, o roteiro é maleável, sem marcações precisas, aberto ao improviso. "Trabalhamos
com o ator vivo", diz Cohen.
Um deles é a empresária Yara
Leda Paledzki, 37, que, em junho
de 92, aproveitava suas férias para
fazer um tratamento psiquiátrico
devido ao estresse e à depressão.
"Não teve mais volta, foram várias internações", diz Paledzki,
que não poderia prever que hoje
subiria ao palco em "Gothan SP".
"O teatro ajuda a valorizar e
reintegrar na sociedade, levanta a
auto-estima", diz Paledzki, ou Polaca, o "nome de guerra" da atriz.
Segundo o terapeuta e ator Peter Pál Pelbart, 45, do hospital A
Casa, o trabalho da companhia
não tem nada a ver com psicodrama. "Não estamos usando o teatro para fazer tearapia, é o contrário disso", explica Pelbart, que
também participa da peça.
Para o terapeuta, os trajetos de
vida sofridos e singulares dos atores ganham força no contexto cênico. "Suas riquezas e fragilidades
são potencializadas no palco."
Como "Ueinzz Viagem à Babel"
e "Dédalus", as peças anteriores
do grupo, "Gothan SP" também é
apresentada no teatro Oficina.
"Eles nos recebem sempre de braços abertos. Nosso trabalho tem
muito a ver com a liberdade do
teatro ritual que eles fazem. Todos
os deuses que estão aqui no Oficina nos ajudam a realizar o espetáculo", afirma Penna.
GOTHAN SP. Direção: Sergio Penna e
Renato Cohen. Com: Cia. Ueinzz.
Quando: hoje, às 21h. Onde: teatro
Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, SP,
tel. 0/xx/11/3106-2818). Quanto: R$ 15.
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