São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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TEATRO

Grupo é formado por pacientes do hospital A Casa para o desenvolvimento da saúde mental

Ueinzz comemora cinco anos com "Gothan SP"

MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A Cia. Ueinzz, formada por pacientes do hopital-dia A Casa para o desenvolvimento da saúde mental e psicossocial, está comemorando cinco anos com a estréia de "Gothan SP", com direção de Sergio Penna e Renato Cohen.
O terceiro espetáculo da trupe fala sobre a solidão nos grandes centros urbanos e tem como ponto de partida o livro "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino. "Cada ator trouxe um pouco de sua cidade interior para montarmos uma cidade imaginária", diz Penna.
A mistura da Gothan City, de Batman, e São Paulo surgiu da intervenção de um ator que trouxe para cena o homem-morcego durante os ensaios.
"Temos um Batman paulistano que gosta de frequentar os metrôs, de andar debaixo do minhocão. São muitos anônimos nas ruas e em apartamentos que, de vez em quando, entram no foco da luz", diz Cohen.
Além dos fragmentos do texto de Calvino, "Gothan SP" tem inserções de poemas de Paulo Leminsky, Chacal e Ana Cristina César, sem contar as criações dos próprios atores durante os ensaios. "Temos o que chamamos de atores-autores", diz Penna. "Eles ficaram tanto tempo impossibilitados de se expressar, que, quando entram no palco, tudo já está pronto."
De acordo com os diretores, o caos narrativo, a quebra da linearidade, a performance e o improviso fazem parte do chamado teatro do inconsciente.
Tanto nos ensaios como nas apresentações, o roteiro é maleável, sem marcações precisas, aberto ao improviso. "Trabalhamos com o ator vivo", diz Cohen.
Um deles é a empresária Yara Leda Paledzki, 37, que, em junho de 92, aproveitava suas férias para fazer um tratamento psiquiátrico devido ao estresse e à depressão. "Não teve mais volta, foram várias internações", diz Paledzki, que não poderia prever que hoje subiria ao palco em "Gothan SP".
"O teatro ajuda a valorizar e reintegrar na sociedade, levanta a auto-estima", diz Paledzki, ou Polaca, o "nome de guerra" da atriz.
Segundo o terapeuta e ator Peter Pál Pelbart, 45, do hospital A Casa, o trabalho da companhia não tem nada a ver com psicodrama. "Não estamos usando o teatro para fazer tearapia, é o contrário disso", explica Pelbart, que também participa da peça.
Para o terapeuta, os trajetos de vida sofridos e singulares dos atores ganham força no contexto cênico. "Suas riquezas e fragilidades são potencializadas no palco."
Como "Ueinzz Viagem à Babel" e "Dédalus", as peças anteriores do grupo, "Gothan SP" também é apresentada no teatro Oficina. "Eles nos recebem sempre de braços abertos. Nosso trabalho tem muito a ver com a liberdade do teatro ritual que eles fazem. Todos os deuses que estão aqui no Oficina nos ajudam a realizar o espetáculo", afirma Penna.


GOTHAN SP. Direção: Sergio Penna e Renato Cohen. Com: Cia. Ueinzz. Quando: hoje, às 21h. Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/3106-2818). Quanto: R$ 15.



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