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CRÍTICA
Músico encontra o "zen" com linguagem de outra época
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele surgiu sendo somente
"Cabeça", ele já tentou manter o "Coração Tranquilo". Hoje,
passados quase 30 anos do início
da história e quase 20 da interrupção da carreira fonográfica, Walter Franco demonstra-se disposto
a buscar o "zen", o equilíbrio neutro entre cabeça e coração.
"Tutano" é o resultado dessa
procura, e isso não significa conformismo, mesmo quando as letras da pesada e compacta faixa-título e da hierárquica "Quem Puxa aos Seus Não Degenera" induzem a certa impressão de imobilismo, ou de "tanto faz".
É em "Zen", a música do festival
com versos da parceira Cristina
Villaboim, que essa suspeita
ameaça se dissolver: "Tá tudo tão
torto/ mas tá tudo bem/ tá tudo
tão turvo/ mas tudo está bem".
Pode haver imobilidade, mas isso
não causa conforto, nunca.
O desconforto vem não só da
constatação de que por baixo da
tranquilidade aparente há o "torto" e o "turvo", mas também, inevitavelmente, da quantidade
enorme de tempo que se esconde
nos interstícios do "Tutano" de
Walter Franco.
Dos anos em que ele chocou algumas cabeças brasileiras com
sua receita de concretismo pós-tropicalista de protesto até hoje, o
prato musical e poético que Franco serviu ao Brasil envelheceu.
É difícil ouvir o CD sem a impressão de estar em contato com
o antigo, com algo que pertence a
outra época (por isso a letra de
"Gema do Novo" soa algo caricatural em sua voz experiente).
Isso acontece, por mais que músicos contemporâneos competentes como Apollo 9 e Anvil FX enriqueçam faixas como "Tutano",
"Senha do Motim" e "Acerto com
a Natureza". E acontece pelo peso
aquático, setentista, de arranjos
repletos de vibrafones (por Guga
Stroeter) e teclados (por Anvil FX
e Constant Papineau).
O perigo do juízo de valor virá
sobressaltar esse ponto -o do sabor de antiquário-, mas quem
queira acompanhar a evolução e a
continuação do que não é mais
novo encontrará em Walter Franco e em "Tutano" um pequeno,
tranquilo e esmerado parque de
diversões conceituais e musicais.
Como se ouve em "Na Ponta da
Língua", "Totem", "Quem Puxa
aos Seus Não Degenera" e outras,
as letras cortantes, a voz doce e as
melodias colantes de Walter
Franco são cordas afinadas de um
mesmo instrumento, diligentes
em servir à cabeça e ao coração,
tudo junto. E ele se faz, de fato, o
senhor "zen" que sonhava ser.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Tutano
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Artista: Walter Franco
Lançamento: YB Music
Quanto: R$ 25, em média
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