São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Pintor carioca expõe novas telas que tematizam arquitetura

Daniel Senise retorna ao Brasil mais conceitual

RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL

Daniel Senise, 45, estala em São Paulo com trabalho novo, diferente, instigante. Caso raro de artista com demanda maior que produção, o pintor-pop-star, fenômeno no surto da pintura nos anos 80, aterrissa no Brasil depois de dois anos vivendo em Nova York, numa espécie de retiro do qual seu trabalho saiu lucrando.
É o resultado dessa fase que Senise mostra a partir desta noite na galeria Brito Cimino. Na série de pinturas, o conceito parece ocupar um papel central no entendimento das obras. Trata-se de representações de espaços arquitetônicos, em sua maioria de museus ou do ateliê do artista.
A partir de uma impressão do chão do ateliê, o artista constrói as perspectivas sobre a superfície com recorte e colagem, dissolvendo de certa maneira qualquer aspecto planar que sua pintura pudesse ter. Obtém-se, com essa operação, o que o artista chama de espaço real e espaço virtual.
"Para mim, sempre foi fundamental a noção de que a tela é um objeto, mas também uma janela para a ilusão. É um suporte passivo e ativo. E, de certa forma, a maioria da pintura contemporânea, que vem depois do modernismo, é isso. Ela se manifesta pela presença física do objeto e trata das coisas que a pintura sempre tratou. Para a pintura continuar a existir, a solução natural é essa."
Essa colocação, digamos, mais reflexiva da pintura não chega a ser novidade na obra de Senise. Só que se mostra mais acirrada ainda nessa produção recente. Caso mais evidente é a série que ocupa agora as cavalariças do parque Lage, que representam o próprio espaço que ocupam e foram feitas a partir de impressões do chão das cavalariças. É o conceito das novas obras em versão "fully", como diz o artista. "O retorno aos fundamentos da pintura, depois desse hiato do modernismo, é tentar pintar o que ainda falta ser pintado. Esse é o meu mote: pintar apesar e com a história da pintura."
E Nova York teve algum efeito para esta fase mais "cabeça"? "Resolvi dar um tempo, ver no que o contexto ia influenciar o trabalho. Cheguei lá há dois anos e demorei seis meses para me decidir a mostrar essas obras. Deixar o Rio foi importante porque era uma cidade que tinha o meu tamanho, muita influência do meio. Nova York é bem maior do que eu, e isso me deu muita disciplina."


DANIEL SENISE - exposição individual do pintor. Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, SP, tel. 0/xx/ 11/3842-0634). Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 14/11. Quanto: entrada franca.



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