São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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Crítica/"Fora do Jogo"

Com futebol, Panahi volta a focar Irã feminino

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Jafar Panahi já havia submergido no universo feminino no espetacular "O Círculo", exibido na Mostra de 2000. Com "Fora do Jogo", volta a abordar as restrições que regem a vida das mulheres em seu Irã natal -que, embora seja um dos países mais intelectualmente sofisticados do Oriente Médio, experimenta um retrocesso de costumes evidenciado com a chegada de Mahmoud Ahmadinejad à Presidência em 2005.
Alegoria inusitada, o cenário escolhido para levantar questões sobre a falta de liberdade das mulheres é um jogo de futebol -a partida contra o Bahrein que classificou o Irã para a Copa da Alemanha deste ano.
Num país onde o esporte é adorado por todos mas só neste ano as mulheres obtiveram permissão para assistir aos treinos (nos jogos elas ainda são vetadas), um grupo de meninas é detido após tentar entrar vestido de homens no estádio e passa a partida crucial num cercadinho, sob guarda de policiais que mal sabem o motivo de tantas proibições. "Nos jogos gritam muitos palavrões.
Vocês não podem ouvir palavrões", arrisca um deles às incrédulas torcedoras fanáticas. Restringindo a ação quase toda ao estádio e usando o humor para enfileirar perguntas, Panahi fez um filme mais leve -e menos contundente- do que "O Círculo". Mas tem o mérito de se comunicar facilmente com o público -algo pouco corrente na filmografia de seu país- e de se firmar, com suas cenas cotidianas e seus personagens quase prosaicos, como um cronista essencial da paradoxal sociedade iraniana.


FORA DO JOGO   
Direção: Jafar Panahi
Onde: Hoje, às 21h10, no Cinesesc, e amanhã, às 18h20, no Cine Bombril


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