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Crítica/"Fora do Jogo"
Com futebol, Panahi volta a focar Irã feminino
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
Jafar Panahi já havia submergido no universo feminino no espetacular
"O Círculo", exibido na Mostra
de 2000. Com "Fora do Jogo",
volta a abordar as restrições
que regem a vida das mulheres
em seu Irã natal -que, embora
seja um dos países mais intelectualmente sofisticados do
Oriente Médio, experimenta
um retrocesso de costumes evidenciado com a chegada de
Mahmoud Ahmadinejad à Presidência em 2005.
Alegoria inusitada, o cenário
escolhido para levantar questões sobre a falta de liberdade
das mulheres é um jogo de futebol -a partida contra o Bahrein
que classificou o Irã para a Copa da Alemanha deste ano.
Num país onde o esporte é
adorado por todos mas só neste
ano as mulheres obtiveram
permissão para assistir aos
treinos (nos jogos elas ainda
são vetadas), um grupo de meninas é detido após tentar entrar vestido de homens no estádio e passa a partida crucial
num cercadinho, sob guarda de
policiais que mal sabem o motivo de tantas proibições. "Nos
jogos gritam muitos palavrões.
Vocês não podem ouvir palavrões", arrisca um deles às incrédulas torcedoras fanáticas.
Restringindo a ação quase toda ao estádio e usando o humor
para enfileirar perguntas, Panahi fez um filme mais leve -e
menos contundente- do que
"O Círculo". Mas tem o mérito
de se comunicar facilmente
com o público -algo pouco corrente na filmografia de seu
país- e de se firmar, com suas
cenas cotidianas e seus personagens quase prosaicos, como
um cronista essencial da paradoxal sociedade iraniana.
FORA DO JOGO
Direção: Jafar Panahi
Onde: Hoje, às 21h10, no Cinesesc, e amanhã, às 18h20, no Cine Bombril
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