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OPINIÃO
Fritz Lang ilustra utopias e pesadelos do século 20
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Metrópolis" é o século 20.
É a ciência e o obscurantismo. O monumental e o miserável. O alto e o baixo. Os senhores e os escravos.
É o século da luta de classes que ali se anuncia. Século
do comunismo e do nazismo.
Das utopias que viram pesadelos. Das metrópoles que
também viram pesadelos.
Tudo isso fala da atualidade do filme de Fritz Lang que
Hitler e Goebbels, não por
acaso, admiravam.
Há muitas razões, inclusive equívocas, para gostar de
um filme. Mas algo aqui comunga com as ideias dos
dois: "Metrópolis" é, por excelência, o filme do preto e
branco, das sombras pintadas que discriminam com nitidez o claro do escuro, a luz
da treva. De uma certa ordem
rígida, absoluta, que devia
andar de acordo com o pensamento dos nazistas.
No entanto, a ideia de duplicidade que Lang introduz
na trama transtorna um tanto esse panorama unívoco. É
uma ideia que o acompanha
desde sempre, presente em
praticamente todos os seus
filmes. É como se dissesse:
todo homem é duplo, comporta o seu contrário.
Em "Metrópolis", esse papel cabe a Maria, a líder dos
operários, o anjo do subterrâneo onde vive a classe dos escravos, a que, por seu encanto e pureza, seduz de imediato o herdeiro do "mundo do
alto", do paraíso terrestre.
Mas a tecnologia forjará
seu duplo perverso, a falsa
Maria, o que se poderia chamar de "agente provocador"
que incita à revolta.
É esse ambiente de fricção,
conflito, dúvida permanente
sobre o outro que Lang evoca
magistralmente neste que é
seu filme mais próximo do
expressionismo.
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