São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Diretor turco surpreende com drama policial

35ª MOSTRA DE SP Novo filme do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan é uma experiência cinematográfica exigente

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Apesar de ter abarrotado sua estante com prêmios do Festival de Cannes nos últimos anos -para filmes como "Uzak" (2002), "Climas" (2006) e "3 Macacos" (08)-, o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan parecia destinado a um beco sem saída em sua carreira.
Ele começou a empregar seu evidente talento audiovisual -sua capacidade de enfileirar planos lindamente enquadrados e iluminados- para produzir trabalhos sempre interessantes e originais, mas cada vez mais afetados e maneiristas.
Nesse trajeto, "Era uma Vez na Anatólia", seu novo filme, surge como uma surpreendente correção de rota, em que as virtudes de Ceylan são decantadas para chegar a um resultado mais próximo ao essencial.
Uma experiência cinematográfica exigente, com mais de duas horas e meia de duração, com poucos diálogos e ainda menos ação, e uma maioria de cenas escuras. Mas, ao fim, uma experiência recompensadora.
O filme acompanha uma noite e um dia de investigação policial. Em três carros, um grupo formado por policiais, militares, um médico, um promotor e alguns ajudantes leva dois suspeitos de um assassinato para descobrir o local onde eles teriam enterrado a vítima.
Por conta desse fiapo de trama, "Era uma Vez na Anatólia" foi identificado como um filme policial, uma renovação do gênero, uma contraposição ao modelo hollywoodiano. Sim, faz sentido.
A produção pode ser vista como um policial rarefeito, em que os culpados, as circunstâncias e as razões são menos relevantes do que os procedimentos de investigação, descritos minuciosamente pelo filme.
Mas há muito de "western" nessa jornada de desbravamento de um território inóspito, marcada por longos momentos de tédio e exaustão, pequenos gestos de companheirismo, grandes irrupções de violência e algum alívio cômico.
Ao longo da sombria investigação, Ceylan joga um pouco de luz sobre os dramas individuais dos integrantes daquele comboio e desperta empatia com cada um deles, do policial ao criminoso.
Em seu melhor filme até aqui, o cineasta turco consegue um feito raro: narrar uma história com a frieza de um boletim de ocorrência e, ainda assim, criar um poderoso libelo humanista.

ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA
DIREÇÃO Nuri Bilge Ceylan
PRODUÇÃO Turquia/Bósnia-Herzegovina, 2011
QUANDO hoje, às 15h, na Cinemateca e amanhã, às 15h50, no Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo



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