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BIENAL DE QUADRINHOS
"Moby Dick", história produzida para a TV, não é animação, afirma artista norte-americano
Will Eisner exibe vídeo inédito em BH
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
O norte-americano Will Eisner,
80, criador de histórias publicadas
em revistas do mundo inteiro,
mostrou em Belo Horizonte faceta
diferente do seu trabalho: uma his
tória em quadrinhos para a TV.
Eisner, que está em Belo Hori
zonte a convite da prefeitura e da
3ª Bienal Internacional de Quadri
nhos, disse que resolveu exibir o
vídeo para ilustrar suas idéias so
bre a diferença entre filmes e histó
rias em quadrinhos.
O vídeo "Moby Dick, The White
Whale" (Moby Dick, a Baleia
Branca) foi visto por cerca de 600
pessoas que lotaram o Espaço Lu
minis para assistir à conferência de
Eisner, "Um Século da História
em Quadrinhos", anteontem.
Segundo ele, foi a primeira vez
que o vídeo foi exibido em público.
Antes ele tinha sido mostrado nos
EUA para patrocinadores em po
tencial, pedagogos e estudantes.
"Moby Dick", baseado no livro
de Herman Melville (1819-1891),
foi produzido há quatro anos pela
PBS, emissora pública de televisão
dos EUA, como piloto de uma sé
rie de adaptações de clássicos da
literatura, "Comic Classics".
Por falta de financiamento, a sé
rie não foi realizada e o piloto nun
ca foi ao ar. "Nos EUA, estão di
minuindo cada vez mais as verbas
destinadas à cultura", reclamou.
"Moby Dick" conta a história,
passada no século 19, de um maru
jo novato que é o único sobrevi
vente do naufrágio de um baleeiro,
destruído pela luta entre seu capi
tão e uma baleia feroz.
Sem animações
Ao contrário dos desenhos ani
mados tradicionais, o vídeo de Eis
ner é feito de desenhos fixos.
O movimento fica por conta do
texto e é inserido nos balões para
ilustrar os diálogos.
"Usei cerca de 200 tiras como
produziria para uma história con
vencional. Nenhuma animação foi
utilizada nos desenhos. Tentamos
manter a prática de pedir ao leitor
que contribua para a história."
No final do vídeo, por exemplo,
o capitão Ahab lança um arpão e
atinge Moby Dick. Em seguida, seu
pé fica preso pela corda do arpão e
ele é arrastado para as profundezas
do mar pela baleia.
"O espectador tem de saber co
mo a corda do arpão funciona. A
animação trabalha com o tempo
real, aqui eu trabalhei com o tem
po percebido", disse.
A proposta de fazer quadrinhos
em vídeo foi questionada pelo ar
tista brasileiro Lourenço Mutare
lli, que participa da bienal. Ele pe
diu a Eisner que resistisse mais às
novas tecnologias.
"Meu conselho é: não tente re
sistir, porque a tecnologia é maior
que você e vai vencê-lo. É muito
difícil preservar o papel. O que eu
peço é que se preserve a dimensão
intelectual das histórias em qua
drinhos", respondeu Eisner.
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