São Paulo, sexta, 24 de outubro de 1997.




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BIENAL DE QUADRINHOS
"Moby Dick", história produzida para a TV, não é animação, afirma artista norte-americano
Will Eisner exibe vídeo inédito em BH

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O norte-americano Will Eisner, 80, criador de histórias publicadas em revistas do mundo inteiro, mostrou em Belo Horizonte faceta diferente do seu trabalho: uma his tória em quadrinhos para a TV.
Eisner, que está em Belo Hori zonte a convite da prefeitura e da 3ª Bienal Internacional de Quadri nhos, disse que resolveu exibir o vídeo para ilustrar suas idéias so bre a diferença entre filmes e histó rias em quadrinhos.
O vídeo "Moby Dick, The White Whale" (Moby Dick, a Baleia Branca) foi visto por cerca de 600 pessoas que lotaram o Espaço Lu minis para assistir à conferência de Eisner, "Um Século da História em Quadrinhos", anteontem.
Segundo ele, foi a primeira vez que o vídeo foi exibido em público. Antes ele tinha sido mostrado nos EUA para patrocinadores em po tencial, pedagogos e estudantes.
"Moby Dick", baseado no livro de Herman Melville (1819-1891), foi produzido há quatro anos pela PBS, emissora pública de televisão dos EUA, como piloto de uma sé rie de adaptações de clássicos da literatura, "Comic Classics".
Por falta de financiamento, a sé rie não foi realizada e o piloto nun ca foi ao ar. "Nos EUA, estão di minuindo cada vez mais as verbas destinadas à cultura", reclamou.
"Moby Dick" conta a história, passada no século 19, de um maru jo novato que é o único sobrevi vente do naufrágio de um baleeiro, destruído pela luta entre seu capi tão e uma baleia feroz.
Sem animações
Ao contrário dos desenhos ani mados tradicionais, o vídeo de Eis ner é feito de desenhos fixos.
O movimento fica por conta do texto e é inserido nos balões para ilustrar os diálogos.
"Usei cerca de 200 tiras como produziria para uma história con vencional. Nenhuma animação foi utilizada nos desenhos. Tentamos manter a prática de pedir ao leitor que contribua para a história."
No final do vídeo, por exemplo, o capitão Ahab lança um arpão e atinge Moby Dick. Em seguida, seu pé fica preso pela corda do arpão e ele é arrastado para as profundezas do mar pela baleia.
"O espectador tem de saber co mo a corda do arpão funciona. A animação trabalha com o tempo real, aqui eu trabalhei com o tem po percebido", disse.
A proposta de fazer quadrinhos em vídeo foi questionada pelo ar tista brasileiro Lourenço Mutare lli, que participa da bienal. Ele pe diu a Eisner que resistisse mais às novas tecnologias.
"Meu conselho é: não tente re sistir, porque a tecnologia é maior que você e vai vencê-lo. É muito difícil preservar o papel. O que eu peço é que se preserve a dimensão intelectual das histórias em qua drinhos", respondeu Eisner.



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