São Paulo, sábado, 24 de outubro de 1998

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TEATRO-DANÇA
Caetano festeja Pina Bausch na Alemanha

CARLOS GARDIN
especial para a Folha

Caetano Veloso é hoje a bola da vez em Wuppertal (Alemanha), localidade que adotou uma das mais famosas companhias de dança do mundo, a de Pina Bausch. O cantor protagoniza um show-homenagem para a coreógrafa que comemora 25 anos de sua dança-teatro na cidade alemã .
E Wuppertal, até o dia 31 deste mês, se converte num espaço de celebração mundial da trajetória inovadora de Bausch.
Os convidados para a festa confirmam as referências e a importância desta artista para a diversidade da arte no século 20: Sankai Juku, do Japão; Marie Claude Pietragalla, da Ópera de Paris; o grupo Rosas, da Bélgica; Mikhail Baryshnikov; companhias de Bali e hip hop dance da Alemanha.
De quebra, o mundo terá a oportunidade rara de presenciar uma síntese do trabalho realizado pela homenageada em 25 anos de coreografias que foram causadoras das mais radicais mudanças na linguagem da dança neste século.
Pina Bausch apresentará oito de suas principais coreografias, começando por uma das primeiras, "Ifigênia em Táuris", de 1974, que foi apresentada no Rio de Janeiro no ano passado.
Trata-se de um momento único em que se pode verificar com clareza a evolução da linguagem do movimento que fundamenta o estilo específico dessa artista -cujo trabalho não só revolucionou o conceito da dança como interferiu na linguagem do teatro com um diálogo perturbador.
Ela criou sua linguagem própria na busca incansável da síntese do movimento no espaço. A sua referência primeira são os gestos recolhidos no cotidiano das pessoas.
Seus bailarinos/atores, além de exibirem uma técnica precisa, fruto de um árduo trabalho, são pesquisadores do movimento.
Colhem suas idéias na pesquisa pelas ruas das cidades do mundo, idéias que são transformadas numa celebração poética do palco, numa encenação radical que, como uma cápsula, ao ser deflagrada, provoca o espectador pela forma, pelos sentidos e pela construção lógica.
O padrão de Bausch é a diversidade. Sua síntese é a da mônada, ou seja, a do signo que contém inúmeras possibilidades de sentido, que passam pelo sensorial até atingir o lógico e o intelectual. Por isso, a diversidade como marca está presente em todos os níveis do seu trabalho: seus bailarinos são de múltiplas raças, a sonoplastia utilizada nas coreografias contém desde clássicos a canções populares de diferentes países.
Os bailarinos são também atores no sentido de executarem ações dramáticas, e essa atitude cênica fez com que o teatro, depois de Bausch, tivesse que se alimentar da capacidade de movimento do corpo na dança. O corpo, enfim, é visto como signo e, como tal, tem intenções de provocar interpretações tanto lógicas como sensoriais.
A festa de 25 anos de dança-teatro de Pina Bausch em Wuppertal consagra a síntese da diversidade. Como queria Oswald de Andrade, uma forma canibal de ser.
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Carlos Gardin é doutor em Comunicação e Semiótica, professor do Departamento de Jornalismo da PUC-SP e diretor de teatro


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