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TEATRO-DANÇA
Caetano festeja Pina Bausch na Alemanha
CARLOS GARDIN
especial para a Folha
Caetano Veloso é hoje a bola da
vez em Wuppertal (Alemanha), localidade que adotou uma das mais
famosas companhias de dança do
mundo, a de Pina Bausch. O cantor
protagoniza um show-homenagem para a coreógrafa que comemora 25 anos de sua dança-teatro
na cidade alemã .
E Wuppertal, até o dia 31 deste
mês, se converte num espaço de
celebração mundial da trajetória
inovadora de Bausch.
Os convidados para a festa confirmam as referências e a importância desta artista para a diversidade da arte no século 20: Sankai
Juku, do Japão; Marie Claude Pietragalla, da Ópera de Paris; o grupo
Rosas, da Bélgica; Mikhail Baryshnikov; companhias de Bali e hip
hop dance da Alemanha.
De quebra, o mundo terá a oportunidade rara de presenciar uma
síntese do trabalho realizado pela
homenageada em 25 anos de coreografias que foram causadoras
das mais radicais mudanças na linguagem da dança neste século.
Pina Bausch apresentará oito de
suas principais coreografias, começando por uma das primeiras,
"Ifigênia em Táuris", de 1974, que
foi apresentada no Rio de Janeiro
no ano passado.
Trata-se de um momento único
em que se pode verificar com clareza a evolução da linguagem do
movimento que fundamenta o estilo específico dessa artista -cujo
trabalho não só revolucionou o
conceito da dança como interferiu
na linguagem do teatro com um
diálogo perturbador.
Ela criou sua linguagem própria
na busca incansável da síntese do
movimento no espaço. A sua referência primeira são os gestos recolhidos no cotidiano das pessoas.
Seus bailarinos/atores, além de
exibirem uma técnica precisa, fruto de um árduo trabalho, são pesquisadores do movimento.
Colhem suas idéias na pesquisa
pelas ruas das cidades do mundo,
idéias que são transformadas numa celebração poética do palco,
numa encenação radical que, como uma cápsula, ao ser deflagrada,
provoca o espectador pela forma,
pelos sentidos e pela construção
lógica.
O padrão de Bausch é a diversidade. Sua síntese é a da mônada,
ou seja, a do signo que contém inúmeras possibilidades de sentido,
que passam pelo sensorial até atingir o lógico e o intelectual. Por isso,
a diversidade como marca está
presente em todos os níveis do seu
trabalho: seus bailarinos são de
múltiplas raças, a sonoplastia utilizada nas coreografias contém desde clássicos a canções populares de
diferentes países.
Os bailarinos são também atores
no sentido de executarem ações
dramáticas, e essa atitude cênica
fez com que o teatro, depois de
Bausch, tivesse que se alimentar da
capacidade de movimento do corpo na dança. O corpo, enfim, é visto como signo e, como tal, tem intenções de provocar interpretações tanto lógicas como sensoriais.
A festa de 25 anos de dança-teatro de Pina Bausch em Wuppertal
consagra a síntese da diversidade.
Como queria Oswald de Andrade,
uma forma canibal de ser.
˛
Carlos Gardin é doutor em Comunicação e Semiótica, professor do Departamento de Jornalismo da PUC-SP e diretor de teatro
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