São Paulo, sábado, 24 de outubro de 1998

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"ISTO É BOSSA NOVA, ISTO É MUITO NATURAL"

da Reportagem Local

Leia abaixo comentários sobre os títulos que integram a série "Isto É Bossa Nova, Isto É Muito Natural". (PAS)

˛ Os inéditos em CD
"A Bossa dos Cariocas" (63), Os Cariocas - Este é o primeiro disco do quarteto vocal já na era bossa nova. Inclui versões esmeradas nos arranjos vocais de "Samba de Uma Nota Só", "Desafinado", "Samba do Avião", "Só Danço Samba" -mais a indefectível "Garota de Ipanema".
"Bossa Session" (64), Sylvia Telles, Lúcio Alves e Roberto Menescal e Seu Conjunto - Os cantores Sylvia Telles e Lúcio Alves lideram aqui fenômeno de adesão que acabou atingindo os precursores da bossa nova nos anos 60.
O resultado é assombroso. Apesar de arranjos que tendem não raro a padrões mais kitsch de bossa (à Sérgio Mendes), os exímios cantores Lúcio e Sylvia dão interpretações ímpares a temas como "Ela É Carioca", "Moça da Praia" (ele), "Vivo Sonhando", "Definitivamente", "Primavera" (ela).
Quase melhores são os encontros vocais dos dois, em bossinhas brejeiras como "Telefone" e "Baiãozinho". O final é que "Bossa Session" revela quão importante -e subestimado- havia sido o pré-bossa.
"De Vinicius e Baden Especialmente para Ciro Monteiro" (65) - O poeta Vinicius de Moraes e o violonista Baden Powell se reuniram em Paris para compor uma série de canções pensando no cantor histórico Ciro Monteiro, que veio a interpretá-las. Daí saíram de sambas pândegos ("Garota Porongondons") a temas desabalados de amor ("Amei Tanto").
"Aquele Som dos Gatos" (66), Os Gatos - A peculiaridade do grupo (quase sempre) instrumental Os Gatos é ter revelado o instrumentista Eumir Deodato, que depois fez carreira no exterior e hoje arranja trabalhos de Björk. Liderados por Durval Ferreira, utilizavam instrumentistas como Paulo Moura e Wilson das Neves.
"Dez Anos Depois" (71), Nara Leão - Este é um dos eventos do pacote, trazendo enfim um -unzinho- exemplar da obra da primeira Nara Leão. Ela contava então com dez anos de carreira, mas o que já havia feito podia preencher um livro de história.
Musa da bossa, já fizera todas as diabruras com sua pequena e dulcíssima voz: adotara os compositores de samba do morro (Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti), os músicos de protesto (João do Vale, Zé Keti outra vez, Chico Buarque, Edu Lobo), os príncipes do novo samba (Paulinho da Viola), até se filiara ao tropicalismo.
Comparativamente, o álbum duplo "Dez Anos Depois" é menos importante que os discos que o antecederam. Refilia Nara à bossa ortodoxa, numa celebração de voz e violão aos velhos clássicos de sempre -"Insensatez", "Samba de Uma Nota Só", "Corcovado", "Garota de Ipanema", "Chega de Saudade", "Desafinado" etc. etc. etc.
Conservadorismo à parte, a voz de Nara é só deleite, ainda mais quando pinça canções menos óbvias, como "Estrada do Sol" (do repertório pré-bossa de Dolores Duran), "Rapaz de Bem" (de Johnny Alf), "Sabiá" (bossa de protesto de Chico Buarque e Tom Jobim).
˛ Os fora de catálogo
"Wave" (67) e "Tide" (70), Tom Jobim - São dois dos discos "made in America" de Tom Jobim. "Wave", quase todo instrumental, é conduzido e arranjado por Claus Ogerman. "Tide", na mesma linha, é arranjado e conduzido por Eumir Deodato, traz participação de Hermeto Pascoal (em "Tema Jazz") e abrange de "Garota de Ipanema" (aqui "Girl from Ipanema") a "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro.
˛ Os outros
O pacote se completa com um bocado de títulos já disponíveis no mercado (às vezes por preços menores), alguns deles recém-lançados, outros nem tanto.
Desses, destacam-se álbuns fundamentais de bossa nova -o instante de gênese do movimento, quando Elizeth Cardoso canta Tom e Vinicius em "Canção do Amor Demais" (58); "Getz/Gilberto" (64), o encontro entre João Gilberto e o saxofonista Stan Getz, gravado nos EUA com participações de Tom Jobim, Astrud Gilberto e Milton Banana; "Eu e a Brisa", de Johnny Alf (lançado originalmente em 66 com outro título e sem "Eu e a Brisa"); "Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim" (67), lendário encontro de Sinatra com Jobim.
Algumas coletâneas recuperam artistas pré-bossa ("A Bossa Nova por Maysa"), de bossa (Zimbo Trio, Tamba Trio) e pós-bossa (Elis e Tom em 74, Edu e Tom em 81, Carlos Lyra no Japão em 93, João Gilberto em 94 e... Leila Pinheiro -essa não é bossa nova, não é nada natural). Ufa.



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