São Paulo, segunda, 24 de novembro de 1997.




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TELEVISÃO
Concessões não redimem TV norte-americana

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin

Na TV americana, Cinderela pode ser negra e a Máfia pode ser liderada por um grupo de mulheres.
Entre "sitcoms" (comédias de costumes) e seriados, as emissoras temperam a programação com produções cinematográficas especiais, que procuram chamar atenção não com inovações de linguagem ou densidade de substância, mas simplesmente por trazerem novas versões de histórias de popularidade garantida.
Na semana passada, a CBS exibiu a minissérie "Bella Mafia", sobre um grupo de viúvas e filhas de uma família mafiosa ítalo-americana que, privadas de seus maridos e/ou pais assassinados, assumem a liderança de mundo essencialmente masculino.
A minissérie feminista exibida em dois episódios de duas horas, de autoria da escritora e atriz inglesa Lynda La Plante, trouxe um elenco respeitável. Vanessa Redgrave faz o papel da matriarca e Nastassja Kinski representa a nora que assume a liderança da família.
O primeiro episódio foi tão bem nos índices de audiência que a emissora manifestou interesse em transformar o programa em um seriado.
Em "Bella Mafia", as mulheres continuam a limpar o chão, mas dessa vez para se livrar do sangue de inimigos caídos no hall de casa. Como convém a uma versão feminina, elas lidam não com a violência planejada dos mafiosos, mas com a violência demente de um filho adotivo da família inimiga, com quem se envolvem de maneira afetiva e sensual.
O terror penetra e desvirtua o filme de ação, apesar da bela atuação de Nastassja Kinski.
Há algumas semanas, a ABC exibiu sua versão da Cinderela negra, anunciada desde setembro entre os destaques da temporada. Toda a atração do filme vinha dessa pequena, mas significativa ousadia.
Pequena, porque no país do politicamente correto, os negros vêm conquistando muito espaço na mídia. Ao contrário do que ocorre no Brasil, onde a TV representa um país muito mais branco do que o que se vê nas ruas, a TV americana talvez represente um país até mais negro do que se vê nas ruas (o que não significa que aqui haja menos discriminação).
Viva a diferença. Negros, mulheres e gays conquistaram seu espaço na mídia americana. A televisão nem sempre vem na frente.
Filmes como esses se limitam a atualizar, ou melhor, alargar, velhas fórmulas. As mulheres estão aptas a participar da Máfia e a heroína pode ser negra. Mas o sabor de mesmice, inevitável. Resta um desejo de novos esquemas para novas sensibilidades.

E-mailą ehamb@uol.com.br



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