São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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JAZZ
Faltou um pouco de sal para Wynton Marsalis

ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Lincoln Center Jazz Orchestra é uma grande orquestra de jazz? É. Wynton Marsalis é o maior trompetista vivo? Provavelmente. E a Orquestra Experimental de Repertório deu conta do recado? Com altos e baixos, mas deu. Então o concerto foi maravilhoso? Não. Dá para explicar? Talvez.
Começando pelo melhor. No segundo bis, depois da previsível ovação da platéia lotada, Marsalis finalmente veio à frente do placo e tocou trompete. Não que no resto do programa não tivesse tocado, lá atrás, na terceira fila da LCJO, esbanjando colcheias e modéstia. Mas não era demais pedir um solo ao mais celebrado nome do jazz dos últimos 15 anos. (O primeiro bis ele dividiu com todos.)
No solo, Marsalis é tudo, ou quase tudo o que se espera. Deu um show de atletismo musical, que também foi um show de imaginação e bom humor. Tocou cascatas de fusas em "circular breathing" (soprando e respirando ao mesmo tempo para não interromper o fluxo). Deu risadas musicais. Rasgou agudos e agudíssimos. Só o som desse trompete já vira uma obsessão para quem ouviu. Só faltou, então... aquilo que não é nem atlético nem imaginativo na música. Mas um bis não é o melhor lugar para isso.
Cada músico da LCJO, de fato, é um virtuose de seu instrumento. E os 15 astros brilham nesse céu de crepom que eles criam com um misto de reverência e ironia. Como na suíte "Quebra-Nozes", em versão de Duke Ellington (1899-1974), que se equilibra num limite frágil entre a recriação e a recreação. Ali se escutam os acordes mais lindos para uma orquestra de metais; e, desde o primeiro ataque, a LCJO tem uma presença musical irresistível. Mas é preciso ter total apego às nostalgias do "duque" para responder a essa música sem nenhum travo.
Intercalados com os movimentos da suíte de Ellington, a Orquestra Experimental de Repertório interpretou a música original de Tchaikovski (1840-93). Começou mal, mas foi melhorando ao longo da noite. Não é justo comparar as duas forças, mas é inevitável. Dirigida por Jamil Maluf, a OER faz um esforço notável de treinamento de novos músicos. Já chega a ser uma boa orquestra jovem -o que não é pouco, mas ainda não é o máximo a que pode chegar. E estava tocando, afinal, ao lado dos máximos.
Segunda parte: o ponto alto foi a última peça, o nono movimento de "All Rise", de Marsalis, uma composição gigantesca, para orquestra sinfônica, orquestra de jazz e coro, estreada em 1999. Esse "Gran Baile de la Reina" vai do mambo ao tango, passando por várias mudanças de tempo e compasso, em clima de "Caribe y sueño". LCJO e OER entraram em fase, cada qual na sua galáxia.
Mas então o concerto não foi maravilhoso? Não. Para a OER, foi uma noite rara e a orquestra está de parabéns. Para a LCJO, foi só mais uma noite, entre o propriamente artístico e o educativo. Quando os músicos são tão bons assim, isso já é o bastante para deixar qualquer um feliz. Mas as maravilhas só vieram à tona aqui e ali, em relances.
O concerto encantou e divertiu todo mundo, mas não comoveu ninguém. Deixou a gente com sede da música que a LCJO e Marsalis podem tocar. Noutro contexto, com outro propósito, numa próxima visita, talvez.


Wynton Marsalis
    Quando: hoje, às 21h Onde: teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/222-8698) Quanto: de R$ 15 a R$ 100
Quando: domingo, às 11h Onde: pça. da Paz, no parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš) Quanto: entrada franca




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