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JAZZ
Faltou um pouco de sal para Wynton Marsalis
ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A Lincoln Center Jazz Orchestra é uma grande orquestra de jazz? É. Wynton Marsalis é o maior trompetista vivo?
Provavelmente. E a Orquestra Experimental de Repertório deu
conta do recado? Com altos e baixos, mas deu. Então o concerto foi
maravilhoso? Não. Dá para explicar? Talvez.
Começando pelo melhor. No
segundo bis, depois da previsível
ovação da platéia lotada, Marsalis
finalmente veio à frente do placo e
tocou trompete. Não que no resto
do programa não tivesse tocado,
lá atrás, na terceira fila da LCJO,
esbanjando colcheias e modéstia.
Mas não era demais pedir um solo
ao mais celebrado nome do jazz
dos últimos 15 anos. (O primeiro
bis ele dividiu com todos.)
No solo, Marsalis é tudo, ou
quase tudo o que se espera. Deu
um show de atletismo musical,
que também foi um show de imaginação e bom humor. Tocou cascatas de fusas em "circular breathing" (soprando e respirando ao
mesmo tempo para não interromper o fluxo). Deu risadas musicais. Rasgou agudos e agudíssimos. Só o som desse trompete já
vira uma obsessão para quem ouviu. Só faltou, então... aquilo que
não é nem atlético nem imaginativo na música. Mas um bis não é o
melhor lugar para isso.
Cada músico da LCJO, de fato, é
um virtuose de seu instrumento.
E os 15 astros brilham nesse céu
de crepom que eles criam com
um misto de reverência e ironia.
Como na suíte "Quebra-Nozes",
em versão de Duke Ellington
(1899-1974), que se equilibra num
limite frágil entre a recriação e a
recreação. Ali se escutam os acordes mais lindos para uma orquestra de metais; e, desde o primeiro
ataque, a LCJO tem uma presença
musical irresistível. Mas é preciso
ter total apego às nostalgias do
"duque" para responder a essa
música sem nenhum travo.
Intercalados com os movimentos da suíte de Ellington, a Orquestra Experimental de Repertório interpretou a música original
de Tchaikovski (1840-93). Começou mal, mas foi melhorando ao
longo da noite. Não é justo comparar as duas forças, mas é inevitável. Dirigida por Jamil Maluf, a
OER faz um esforço notável de
treinamento de novos músicos. Já
chega a ser uma boa orquestra jovem -o que não é pouco, mas
ainda não é o máximo a que pode
chegar. E estava tocando, afinal,
ao lado dos máximos.
Segunda parte: o ponto alto foi a
última peça, o nono movimento
de "All Rise", de Marsalis, uma
composição gigantesca, para orquestra sinfônica, orquestra de
jazz e coro, estreada em 1999. Esse
"Gran Baile de la Reina" vai do
mambo ao tango, passando por
várias mudanças de tempo e compasso, em clima de "Caribe y sueño". LCJO e OER entraram em fase, cada qual na sua galáxia.
Mas então o concerto não foi
maravilhoso? Não. Para a OER,
foi uma noite rara e a orquestra
está de parabéns. Para a LCJO, foi
só mais uma noite, entre o propriamente artístico e o educativo.
Quando os músicos são tão bons
assim, isso já é o bastante para
deixar qualquer um feliz. Mas as
maravilhas só vieram à tona aqui
e ali, em relances.
O concerto encantou e divertiu
todo mundo, mas não comoveu
ninguém. Deixou a gente com sede da música que a LCJO e Marsalis podem tocar. Noutro contexto,
com outro propósito, numa próxima visita, talvez.
Wynton Marsalis
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/222-8698)
Quanto: de R$ 15 a R$ 100
Quando: domingo, às 11h
Onde: pça. da Paz, no parque Ibirapuera
(av. Pedro Álvares Cabral, s/nš)
Quanto: entrada franca
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