São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIA

"SEXO, PUDOR E LÁGRIMAS"
Diretor mexicano retrata clichês da guerra dos sexos entre três casais

ESPECIAL PARA A FOLHA

A inevitável precariedade e a inelutável insuficiência das relações amorosas: tal é o tema de "Sexo, Pudor e Lágrimas", comédia mexicana que se enquadra no gênero já um tanto ultrapassado da guerra dos sexos.
É bem verdade que nos teatros populares esse é um filão ainda comum. O filme começou assim, como uma montagem teatral das mais populares, e terminou como a terceira maior bilheteria da história do cinema mexicano.
O seu autor, o dramaturgo Antônio Serrano, desenvolve aqui duas situações que se revelam, no paralelismo da narrativa, das mais simétricas: num apartamento, há um intelectual impotente e sua mulher ninfômana, saudosa dos tempos em que o marido era um "homo erectus". Na janela em frente, um yuppie arrivista, o clichê do publicitário que perdeu a alma, briga diariamente com sua infeliz companheira, o clichê da dondoca abandonada.
Em ambos os lados da rua, a crise dos casais eclode de vez com a chegada de um terceiro: o ex-namorado da ninfômana, um mochileiro hedonista e algo patético, interpretado por um astro das novelas mexicanas (Demián Bichir), e a ex-namorada do publicitário, uma compenetrada zoóloga que, não sendo tão histérica quanto as demais mulheres do filme, revela-se a mais frágil -é ela quem ensina às demais que existem certas espécies de animais que não se reproduzem em cativeiro: os machos tornam-se muito violentos, e as fêmeas, irascíveis.
Serrano quer nos revelar os recalques de seus personagens e promove uma verdadeira sessão de regressão. Depois de cumprir seus respectivos ritos de traição e separação, os casais passam dos triângulos (amorosos) para uma subdivisão por gênero.
Enquanto o "clube do Bolinha" reclama, de um lado, do clitóris que nunca achou, o "clube da Luluzinha" lamenta, do outro, o fato do Q.I. dos homens não ser proporcional ao tamanho do pênis. Enfim, nenhuma novidade: as mulheres terão de aprender a se emancipar, e os homens, a se virar sozinhos. Só não conseguirão levar por muito tempo a idealizada vida feliz de castidade. (TIAGO MATA MACHADO)


Sexo, Pudor e Lágrimas
Sexo, Pudor y Lágrimas
   Direção: Antônio Serrano Produção: EUA, 2000 Com: Suzana Zabaleta, Victor Hugo Martín, Demián Bichir Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Lumière, Morumbi e Vitrine




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