São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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MUNDO GOURMET
Restaurante Piazza Navona cumpre sua função

JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

"Pai, já não viemos antes aqui?", perguntou minha filha de 10 anos, quando entramos pela primeira vez no restaurante Piazza Navona. Disse que não, ela insistiu: se lembrava de ter encontrado a amiga mais velha, Elisa, com a mãe e o avô (no caso, o crítico Antonio Candido). E a mesa em que tinha sentado. E de todos os que estavam em nossa mesa.
Mas não, não era o mesmo lugar. Apesar da semelhança com outro restaurante, também novo, também num flat, também da mesma cadeia, também enfadonhamente arrumado, o Ravello -também dos mesmos proprietários. Não eram filiais de um mesmo restaurante, mas casas diferentes que a falta de imaginação fez muito parecidas.
Apesar da impressão negativa, há que se reconhecer que um restaurante assim cumpre sua função. Pelo menos internamente: se formos considerá-lo como um restaurante de hotel, ele é capaz de atender os hóspedes com um cardápio menos padronizado que o usual. Seus proprietários, aliás, são do ramo. Um deles é dono do La Rochelle (um dos pioneiros em flats na cidade) e, com os outros, detém também o Terme di Caracalla, além do Ravello.
O Piazza Navona serve uma cozinha italiana com pretensões modernas e apresentação esforçada, sob a batuta do chef francês Yonn Corderon, de 28 anos. Tem fettuccine aos frutos do mar, mas também risoto de confit de pato e vinho do Porto; tem ossobuco com risoto à milanesa, mas também gnocchi bicolores com camarões e ameixas.
Entre o antigo e o moderno, coleciona acertos e erros. Um pavê de salmão suculento, com cremoso risoto com cebolinha, arroz selvagem e molho pesto; e um cacofônico cordeiro com polenta de trufas ao molho de mostarda em grão, ingredientes imiscíveis, protagonizando calorosa luta de sabores no prato. Em volta, assistindo, aquelas paredes que já vimos antes por aí.


Cotação: $$$°Avaliação: regular



Restaurante: Piazza Navona (r. Pedroso Alvarenga, 1.256, Itaim Bibi, tel. 0/xx/11/3078-2013) Horário: de seg. a sáb., das 12h às 15h e das 19h às 24h; dom., das 12h às 15h e das 19h às 23h Ambiente: entediante cara de flat Serviço: correto Cozinha: italiana, com altos e baixos Quanto: entradas, de R$ 8,50 a R$ 17; pratos principais, de R$ 18 a R$ 36; sobremesas, de R$ 5,50 a R$ 7,50


$ (até R$ 22); $$ (de R$ 22,01 a R$ 42); $$$ (de R$ 42,01 a R$ 62); $$$$ (acima de R$ 62). Avaliação: excelente    ; ótimo   ; bom  ; regular (sem estrela); ruim  

REFLEXÃO
Hambúrguer proletário vence o de picanha?
A Fifties é uma das melhores lanchonetes da cidade. Bem instalada, com manobrista e tudo, seus sanduíches são caprichados. Sua principal atração é o pioneiro hambúrguer de picanha. Mas será que ele é tão bom quanto, por exemplo, o seu hambúrguer normal? Arrisco-me a dizer que não. O de picanha me parece, digamos, aristocrático demais para o que veio. Aquela carne pura, sem gordura, não enche a boca. Prefiro o hambúrguer proletário, feito com a velha carne moída, uma carne menos macia e mais misturada com gordura, sim. Como bife, poderia não funcionar; mas, como hambúrguer, fica mais saborosa; e, graças à gordura, tem mais liga, esfarinha menos. Além de ser mais barata.

MÉRITO
Julia Child ganha a Legião de Honra
A autora americana de culinária e apresentadora de programas de TV Julia Child recebeu nos EUA a Legião de Honra, a mais alta honraria civil concedida pelo governo da França. Julia é adorada pelos gourmets americanos, para os quais, com seus programas e livros, ela descortinou a cozinha francesa nos últimos 40 anos.


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