São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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FRANÇA
Produtos naturais, soja, carneiro, coelho e até cavalo compõem pratos
Vaca louca muda hábitos franceses

CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

Em tempos de vaca louca, os franceses só confiam de olhos fechados na "Vache Qui Ri", a vaquinha simpática que aparece nos produtos da marca de queijo industrializado mais tradicional do país.
Longe das embalagens de requeijão, a vaca anda cada vez menos popular no país do steak tartar.
Na rede de supermercados Carrefour, por exemplo, o frango e a carne de porco já vendem mais do que a carne bovina.
Segundo a assessoria de imprensa do Carrefour, a redução chegou a 50% em algumas lojas do país.
Alguns supermercados, como os da rede Franprix, resolveram aumentar o espaço do bife de soja na seção de enlatados.
Outros bombaram a venda da carne de carneiro, de coelho e até de cavalo, o que não chega a ser uma aberração na França -o país tem abatedouros especializados em equinos, inclusive.
Outra novidade é o aparecimento de lojinhas on line de produtos naturais. A Agri-euro.com, por exemplo, promete entregas rápidas, em qualquer região da França, de produtos naturebas. De café sem cafeína à carne de soja e queijo tofu, os alimentos ditos saudáveis começam a fazer mais sentido agora na França, país que ainda considera um prato com 90% de maionese e 10% de cenoura como "salada".
A paranóia da vaca louca atingiu também os restaurantes e lanchonetes do país. Na semana passada, a rede McDonald's bombardeou o país com anúncios para divulgar que a carne usada em seus hambúrgueres "é 100% segura". Mesmo assim, o freguês do McDonald's também tem preferido os lanches de frango.
Para não perder seus clientes, a rede de restaurantes Buffalo Grill, especializada em steaks e costeletas de vaca, resolveu radicalizar.
Na entrada de cada um de seus restaurantes, pode-se encontrar um cartaz gigantesco, com os dizeres: "Importamos nossa carne da Argentina, por isso ela continua saborosa e livre da EEB (encefalite espongiforme bovina, o nome científico do mal da vaca louca)". Convidativo, não?
Quem não consegue viver sem um bom steak au poivre, mas não quer ser obrigado a lembrar que os tempos são de vaca louca, tem mesmo de frequentar os restaurantes mais caros e sofisticados.
No Le Jules Verne, restaurante podre de chique instalado na Torre Eiffel, a clientela continua pedindo seus steaks tartar sem medo.
"Não tem nem cabimento nos perguntarem se a carne é boa ou não", diz o chef de cozinha e gerente do Jules Verne, Alain Reix.
Segundo ele, quem frequenta o restaurante, além de ter de amargar algumas semanas numa lista de espera, não vai pagar menos do que R$ 250 para jantar.
"Quem vem ao Jules Verne sabe que vai comer uma carne de primeiríssima, por isso aqui não se fala em vaca louca", garante.
Os açougues tradicionais do país também esperam contar com a fidelidade do cliente para não ir à falência.
O La Rouge des Prés, que fica na região da Bretanha, garante que a carne que vende é segura.
"Temos um acordo com os criadores que nos vendem carne", diz Rene Morvan, gerente do açougue. "Só compramos a carne se eles assinarem um documento dizendo que seus animais foram testados contra todas as doenças", explica Morvan.
Por isso, segundo ele, as vendas não caíram no La Rouge Prés. "Nesse mercado, só vai sobreviver quem conseguir manter a confiança do cliente", acredita.


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