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FRANÇA
Produtos naturais, soja, carneiro, coelho e até cavalo compõem pratos
Vaca louca muda hábitos franceses
CLAUDIA ASSEF
DE PARIS
Em tempos de vaca louca, os
franceses só confiam de olhos fechados na "Vache Qui Ri", a vaquinha simpática que aparece nos
produtos da marca de queijo industrializado mais tradicional do
país.
Longe das embalagens de requeijão, a vaca anda cada vez menos popular no país do steak tartar.
Na rede de supermercados Carrefour, por exemplo, o frango e a
carne de porco já vendem mais do
que a carne bovina.
Segundo a assessoria de imprensa do Carrefour, a redução
chegou a 50% em algumas lojas
do país.
Alguns supermercados, como
os da rede Franprix, resolveram
aumentar o espaço do bife de soja
na seção de enlatados.
Outros bombaram a venda da
carne de carneiro, de coelho e até
de cavalo, o que não chega a ser
uma aberração na França -o
país tem abatedouros especializados em equinos, inclusive.
Outra novidade é o aparecimento de lojinhas on line de produtos naturais. A Agri-euro.com,
por exemplo, promete entregas
rápidas, em qualquer região da
França, de produtos naturebas.
De café sem cafeína à carne de soja e queijo tofu, os alimentos ditos
saudáveis começam a fazer mais
sentido agora na França, país que
ainda considera um prato com
90% de maionese e 10% de cenoura como "salada".
A paranóia da vaca louca atingiu também os restaurantes e lanchonetes do país. Na semana passada, a rede McDonald's bombardeou o país com anúncios para
divulgar que a carne usada em
seus hambúrgueres "é 100% segura". Mesmo assim, o freguês do
McDonald's também tem preferido os lanches de frango.
Para não perder seus clientes, a
rede de restaurantes Buffalo Grill,
especializada em steaks e costeletas de vaca, resolveu radicalizar.
Na entrada de cada um de seus
restaurantes, pode-se encontrar
um cartaz gigantesco, com os dizeres: "Importamos nossa carne
da Argentina, por isso ela continua saborosa e livre da EEB (encefalite espongiforme bovina, o nome científico do mal da vaca louca)". Convidativo, não?
Quem não consegue viver sem
um bom steak au poivre, mas não
quer ser obrigado a lembrar que
os tempos são de vaca louca, tem
mesmo de frequentar os restaurantes mais caros e sofisticados.
No Le Jules Verne, restaurante
podre de chique instalado na Torre Eiffel, a clientela continua pedindo seus steaks tartar sem medo.
"Não tem nem cabimento nos
perguntarem se a carne é boa ou
não", diz o chef de cozinha e gerente do Jules Verne, Alain Reix.
Segundo ele, quem frequenta o
restaurante, além de ter de amargar algumas semanas numa lista
de espera, não vai pagar menos do
que R$ 250 para jantar.
"Quem vem ao Jules Verne sabe
que vai comer uma carne de primeiríssima, por isso aqui não se
fala em vaca louca", garante.
Os açougues tradicionais do
país também esperam contar com
a fidelidade do cliente para não ir
à falência.
O La Rouge des Prés, que fica na
região da Bretanha, garante que a
carne que vende é segura.
"Temos um acordo com os criadores que nos vendem carne", diz
Rene Morvan, gerente do açougue. "Só compramos a carne se
eles assinarem um documento dizendo que seus animais foram
testados contra todas as doenças",
explica Morvan.
Por isso, segundo ele, as vendas
não caíram no La Rouge Prés.
"Nesse mercado, só vai sobreviver
quem conseguir manter a confiança do cliente", acredita.
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