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DA RUA
Água e sal
FERNANDO BONASSI
Francisco passa as suas noites suspirando no bar, diante
de copos suados e petiscos indigestos. Clara passa as dela
suspirando diante da TV,
acabando-se em chocolates
gordurentos. O que começou
com distribuição de caras
feias e muxoxos transformou-se num braço de ferro
sexual. Francisco e Clara, no
momento, estão como aquele
comercial de biscoito: ela não
dá porque ele bebe, e ele bebe
porque ela não dá. E assim levam a vida, se estranhando na
porta do banheiro, dividindo
seu silêncio raivoso entre
uma garfada e outra. Estão
sempre falando com uns e
outros sobre essa infelicidade,
embora nunca tenham tocado no assunto entre si. Numa
hora dessas, quando resolverem se enfrentar, alguma coisa pode nem acontecer.
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