São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2001

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FESTIVAL DE BRASÍLIA

Cineasta de "Ação entre Amigos" faz mistério com longa

Beto Brant recheia com suspense seu "Invasor"

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Beto Brant, 37, chega hoje à capital do país trazendo debaixo do braço seu novo filme, "O Invasor", recém-saído do forno.
Terceiro longa-metragem do realizador de "Os Matadores" (1997) e "Ação entre Amigos" (1998), "O Invasor" será exibido amanhã na competição do 34º Festival de Cinema de Brasília.
O filme chega ao evento cercado de expectativa, não só pelo retrospecto do diretor, mas também porque Brant escondeu até agora seu rebento a sete chaves. Não fez sessões para a imprensa e não concedeu entrevistas.
Sabe-se apenas que o enredo envolve corrupção e violência no mundo da construção civil.
"O Invasor" custou R$ 700 mil e foi rodado em São Paulo em março e abril. Tem no elenco Marco Rica, Alexandre Borges, Malu Mader e Paulo Miklos, dos Titãs.
Antes de embarcar para Brasília, Brant cedeu à insistência da Folha e falou um pouco sobre o filme, oscilando entre a empolgação pela obra concluída e o temor de "abrir demais o jogo".

Folha - Você deixou de lado o longa-metragem que estava preparando, "O Amor e Outros Objetos Pontiagudos", para filmar "O Invasor". Por quê?
Beto Brant -
"O Amor..." era um projeto mais caro e complicado. Enquanto tentávamos viabilizá-lo, o roteiro de "O Invasor" foi selecionado para participar da oficina de roteiros do Sundance Institute, em julho de 1999.
Nas discussões da oficina, concebi uma maneira rápida e barata de produzi-lo, o que o habilitou ao concurso do Ministério da Cultura de apoio a longas de baixo orçamento (até R$ 1 milhão).

Folha - Que maneira era essa?
Brant -
"O Invasor" é um filme feito com câmera na mão, sem grande intervenção cenográfica e de iluminação. Foi rodado em super-16 mm e montado em Avid (equipamento de edição eletrônica). Depois telecinamos as cenas escolhidas em HDTV (TV de alta definição) e as transferimos à película de 35 mm digitalmente.

Folha - Que sinopse você poderia nos dar do filme?
Brant -
O roteiro é uma adaptação de uma novela não publicada do Marçal Aquino. Digamos que é a história de um profissional do crime (Paulo Miklos) que inferniza a vida de dois engenheiros (Marco Rica e Alexandre Borges).
Eles têm uma firma de construção civil e estão envolvidos em corrupção. Aquelas coisas: concorrências fraudulentas... E o bandidão explora isso.

Folha - Então é um filme com uma dimensão política?
Brant -
Sim, mas acho que sobretudo ética. É um tema que está aí todo dia. Parece que a história está acontecendo agora.

Folha - Seus filmes anteriores têm um registro quase documental da vida cotidiana nos locais em que são ambientados: a fronteira com o Paraguai em "Os Matadores", o interior de São Paulo e Minas em "Ação entre Amigos". "O Invasor" também tem isso?
Brant -
Quem vai dizer são vocês, mas acho que sim. Filmamos muito nas ruas, à noite. Nada foi feito em estúdio. Há cenas nos mais diversos bairros de São Paulo: Pacaembu, Vila Mariana, Vila Madalena, Itaim, Vila Olímpia. Isso, digamos, no pólo burguês da ação. E em bairros de periferia como Vila Brasilândia, Jardim Guarani, Parada de Taipas...
Rodamos com um filme altamente sensível, sem refletores ou com refletores muito bem escondidos. A câmera foi operada pelo próprio diretor de fotografia, Toca Seabra, que tem experiência em documentários.

Folha - É a estréia de Paulo Miklos como ator. Como foi isso?
Brant -
Ele se saiu muito bem. Quem ajudou muito na preparação dele foi o rapper Sabotage, que também fez música para o filme. O Sabotage passou para o Miklos a gíria da periferia, ajudou-o a encontrar a linguagem do personagem. O fato de os dois serem músicos ajudou na comunicação.


O jornalista José Geraldo Couto viajou a convite da organização do festival


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