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FESTIVAL DE BRASÍLIA
Cineasta de "Ação entre Amigos" faz mistério com longa
Beto Brant recheia com suspense seu "Invasor"
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Beto Brant, 37, chega hoje à capital do país trazendo debaixo do
braço seu novo filme, "O Invasor", recém-saído do forno.
Terceiro longa-metragem do
realizador de "Os Matadores"
(1997) e "Ação entre Amigos"
(1998), "O Invasor" será exibido
amanhã na competição do 34º
Festival de Cinema de Brasília.
O filme chega ao evento cercado
de expectativa, não só pelo retrospecto do diretor, mas também
porque Brant escondeu até agora
seu rebento a sete chaves. Não fez
sessões para a imprensa e não
concedeu entrevistas.
Sabe-se apenas que o enredo
envolve corrupção e violência no
mundo da construção civil.
"O Invasor" custou R$ 700 mil e
foi rodado em São Paulo em março e abril. Tem no elenco Marco
Rica, Alexandre Borges, Malu
Mader e Paulo Miklos, dos Titãs.
Antes de embarcar para Brasília, Brant cedeu à insistência da
Folha e falou um pouco sobre o
filme, oscilando entre a empolgação pela obra concluída e o temor
de "abrir demais o jogo".
Folha - Você deixou de lado o longa-metragem que estava preparando, "O Amor e Outros Objetos
Pontiagudos", para filmar "O Invasor". Por quê?
Beto Brant - "O Amor..." era um
projeto mais caro e complicado.
Enquanto tentávamos viabilizá-lo, o roteiro de "O Invasor" foi selecionado para participar da oficina de roteiros do Sundance Institute, em julho de 1999.
Nas discussões da oficina, concebi uma maneira rápida e barata
de produzi-lo, o que o habilitou
ao concurso do Ministério da Cultura de apoio a longas de baixo
orçamento (até R$ 1 milhão).
Folha - Que maneira era essa?
Brant - "O Invasor" é um filme
feito com câmera na mão, sem
grande intervenção cenográfica e
de iluminação. Foi rodado em super-16 mm e montado em Avid
(equipamento de edição eletrônica). Depois telecinamos as cenas
escolhidas em HDTV (TV de alta
definição) e as transferimos à película de 35 mm digitalmente.
Folha - Que sinopse você poderia
nos dar do filme?
Brant - O roteiro é uma adaptação de uma novela não publicada
do Marçal Aquino. Digamos que
é a história de um profissional do
crime (Paulo Miklos) que inferniza a vida de dois engenheiros
(Marco Rica e Alexandre Borges).
Eles têm uma firma de construção civil e estão envolvidos em
corrupção. Aquelas coisas: concorrências fraudulentas... E o
bandidão explora isso.
Folha - Então é um filme com uma
dimensão política?
Brant - Sim, mas acho que sobretudo ética. É um tema que está
aí todo dia. Parece que a história
está acontecendo agora.
Folha - Seus filmes anteriores
têm um registro quase documental
da vida cotidiana nos locais em que
são ambientados: a fronteira com o
Paraguai em "Os Matadores", o interior de São Paulo e Minas em
"Ação entre Amigos". "O Invasor"
também tem isso?
Brant - Quem vai dizer são vocês, mas acho que sim. Filmamos
muito nas ruas, à noite. Nada foi
feito em estúdio. Há cenas nos
mais diversos bairros de São Paulo: Pacaembu, Vila Mariana, Vila
Madalena, Itaim, Vila Olímpia. Isso, digamos, no pólo burguês da
ação. E em bairros de periferia como Vila Brasilândia, Jardim Guarani, Parada de Taipas...
Rodamos com um filme altamente sensível, sem refletores ou
com refletores muito bem escondidos. A câmera foi operada pelo
próprio diretor de fotografia, Toca Seabra, que tem experiência
em documentários.
Folha - É a estréia de Paulo Miklos
como ator. Como foi isso?
Brant - Ele se saiu muito bem.
Quem ajudou muito na preparação dele foi o rapper Sabotage,
que também fez música para o filme. O Sabotage passou para o Miklos a gíria da periferia, ajudou-o
a encontrar a linguagem do personagem. O fato de os dois serem
músicos ajudou na comunicação.
O jornalista José Geraldo Couto viajou
a convite da organização do festival
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