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Letras formam libelo contra a injustiça social
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
Num tom de samba-enredo, o trio
Mzuri Sana abre
seu novo CD anunciando
que, "segundo a tradição
machadiana", tudo cabe
na mesma ópera.
Eles se referem a "Dom
Casmurro" (1899), de Machado de Assis. É nesse romance que o narrador, um
oligarca magoado com a
sorte, cita a teoria de um
velho tenor. O amigo lhe
afirma que a vida é uma
ópera com libreto escrito
por Deus e música fornecida por Satanás.
Não existe "tradição
machadiana". A doutrina
operística, defendida por
um personagem bufo, é ardilosamente inserida pelo
narrador, que depois desfiaria seu caso contra a
mulher Capitu. Há aí níveis de impostura.
As letras do Mzuri têm
um sentido mais unívoco.
Elas exigem que a tomemos pelo que são: um libelo contra a injustiça social.
Seu mundo é simples,
franco e maniqueísta. Enquanto o escritor sugere
que o leitor que desconfie
sempre, os rappers clamam a confiança do ouvinte. O pacto é outro.
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