São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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Letras formam libelo contra a injustiça social

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

Num tom de samba-enredo, o trio Mzuri Sana abre seu novo CD anunciando que, "segundo a tradição machadiana", tudo cabe na mesma ópera.
Eles se referem a "Dom Casmurro" (1899), de Machado de Assis. É nesse romance que o narrador, um oligarca magoado com a sorte, cita a teoria de um velho tenor. O amigo lhe afirma que a vida é uma ópera com libreto escrito por Deus e música fornecida por Satanás.
Não existe "tradição machadiana". A doutrina operística, defendida por um personagem bufo, é ardilosamente inserida pelo narrador, que depois desfiaria seu caso contra a mulher Capitu. Há aí níveis de impostura.
As letras do Mzuri têm um sentido mais unívoco. Elas exigem que a tomemos pelo que são: um libelo contra a injustiça social. Seu mundo é simples, franco e maniqueísta. Enquanto o escritor sugere que o leitor que desconfie sempre, os rappers clamam a confiança do ouvinte. O pacto é outro.


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