São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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Diretor não pensava em fazer parte da história do agente

especial para a Folha
em Los Angeles

Michael Apted não é apenas um cineasta com uma das carreiras mais diversificadas da atualidade, como também o que talvez mais tem demonstrado interesse em questões socio-antropológicas pertinentes à nossa civilização.
Esse cineasta britânico, de produções independentes, brilhantes documentários e dramas, aceitou o convite para fazer sua primeira grande produção de ação em Hollywood, "007 - O Mundo Não É o Bastante", na condição de o filme trazer um James Bond mais humano, confrontando-se com o lado ambíguo de sua própria moral e personalidade.
O resultado desse redirecionamento na carreira dele pode, desde já, ser apontado como um dos melhores filmes do franchise mais lucrativo da história do cinema dos últimos tempos.
Michael Apted, 58, estudou advocacia e história na Universidade de Cambridge, onde conheceu e se uniu aos jovens que no futuro se transformariam no popularíssimo Monty Python (grupo de comediantes britânicos).
Após dirigir programas para a televisão inglesa, ele fez o consagrado documentário "7up", primeiro de uma série de filmes que vêm acompanhando a vida e as aspirações de jovens de diferentes classes sociais. O último documentário da série, lançado no ano passado, chama-se "42up", já que os garotos de 7 anos do passado são hoje quarentões.
Leia trechos de entrevista exclusiva que o diretor concedeu à Folha. (CC)

Folha - Como você explica o imenso e prolongado sucesso do personagem James Bond?
Michael Apted -
Primeiro pelo fato de as histórias de James Bond serem interessantes e misturarem o lado clássico inglês e o mundo moderno de novas tecnologias. Cada filme sempre oferece novidades, seja um novo ator no papel principal, novas garotas, diferentes lugares, piadas ou invenções futurísticas. Em segundo lugar, acho que as pessoas têm uma relação de amizade com o personagem, que passa de geração a geração. Eu cresci na época de Sean Connery, meu filho acompanhou Roger Moore e meu neto pertence à era Pierce Brosnan.

Folha - Você foi um fã do agente 007 quando jovem?
Apted -
Confesso que não. Quando comecei minha carreira, meus interesses eram bastante diferentes dos filmes de Bond. Não passava pela minha cabeça fazer parte dessa história um dia.

Folha - Você se importa de ser visto como cineasta, sociólogo e antropólogo?
Apted -
Não. Acredito na minha alma de documentarista. Quando resolvi fazer "007 - O Mundo Não É o Bastante", minha primeira decisão foi ver de perto os oleodutos da região do Mar Cáspio que seria mostrada no filme. Queria reunir informações sobre o local, seu povo e seus costumes. Em meus trabalhos, começo sempre com um instinto de documentarista. Minha idéia não era só mostrar lugares exóticos, mas contar histórias sobre eles.

Folha - O interessante no filme é que ele mostra cenas de pura adrenalina e, ao mesmo tempo, conta com honestidade histórias sobre seres humanos
Apted -
Concordo. Queria fazer um filme de James Bond, ou seja, uma superprodução de ação, trazendo personagens interessantes. Por essa razão eles me contrataram. Não queriam um diretor conhecido por filmes de ação, mas alguém com experiência em dramas e preocupado com a apresentação dos personagens. Hoje sei muito mais sobre a complexidade de fazer uma superprodução como essa. Dos riscos com os atores e extras durante as filmagens, das dificuldades de cuidar de tantos detalhes e como evitar que um gigantesco set se transforme num verdadeiro caos. Espero que o sucesso desse filme viabilize, no futuro, meus projetos pessoais que, no momento, estão engavetados, já que ninguém quer investir em diretores sem sucessos de bilheteria em seus currículos.

Folha - Quais foram suas principais influências?
Apted -
O primeiro filme sério que assisti foi "Morangos Silvestres", de Bergman. Foi um filme que me fascinou e ampliou minha visão sobre o cinema. Nos anos 60, me encantei com o cinema europeu. Na década de 70, passei a curtir mais o cinema americano, porque sentia que ele estava sendo feito para as massas. Na Europa, as produções começavam a me cansar pelo seu hermetismo e discurso direcionados apenas a seus criadores e entendidos de cinema. Por essa razão resolvi fazer cinema nos EUA.


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