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Diretor não pensava em fazer parte da história do agente
especial para a Folha
em Los Angeles
Michael Apted não é apenas um
cineasta com uma das carreiras
mais diversificadas da atualidade,
como também o que talvez mais
tem demonstrado interesse em
questões socio-antropológicas
pertinentes à nossa civilização.
Esse cineasta britânico, de produções independentes, brilhantes
documentários e dramas, aceitou
o convite para fazer sua primeira
grande produção de ação em
Hollywood, "007 - O Mundo Não
É o Bastante", na condição de o
filme trazer um James Bond mais
humano, confrontando-se com o
lado ambíguo de sua própria moral e personalidade.
O resultado desse redirecionamento na carreira dele pode, desde já, ser apontado como um dos
melhores filmes do franchise
mais lucrativo da história do cinema dos últimos tempos.
Michael Apted, 58, estudou advocacia e história na Universidade de Cambridge, onde conheceu
e se uniu aos jovens que no futuro
se transformariam no popularíssimo Monty Python (grupo de
comediantes britânicos).
Após dirigir programas para a
televisão inglesa, ele fez o consagrado documentário "7up", primeiro de uma série de filmes que
vêm acompanhando a vida e as
aspirações de jovens de diferentes
classes sociais. O último documentário da série, lançado no ano
passado, chama-se "42up", já que
os garotos de 7 anos do passado
são hoje quarentões.
Leia trechos de entrevista exclusiva que o diretor concedeu à Folha.
(CC)
Folha - Como você explica o
imenso e prolongado sucesso
do personagem James Bond?
Michael Apted - Primeiro pelo
fato de as histórias de James Bond
serem interessantes e misturarem
o lado clássico inglês e o mundo
moderno de novas tecnologias.
Cada filme sempre oferece novidades, seja um novo ator no papel
principal, novas garotas, diferentes lugares, piadas ou invenções
futurísticas. Em segundo lugar,
acho que as pessoas têm uma relação de amizade com o personagem, que passa de geração a geração. Eu cresci na época de Sean
Connery, meu filho acompanhou
Roger Moore e meu neto pertence
à era Pierce Brosnan.
Folha - Você foi um fã do
agente 007 quando jovem?
Apted - Confesso que não.
Quando comecei minha carreira,
meus interesses eram bastante diferentes dos filmes de Bond. Não
passava pela minha cabeça fazer
parte dessa história um dia.
Folha - Você se importa de ser
visto como cineasta, sociólogo e
antropólogo?
Apted - Não. Acredito na minha alma de documentarista.
Quando resolvi fazer "007 - O
Mundo Não É o Bastante", minha
primeira decisão foi ver de perto
os oleodutos da região do Mar
Cáspio que seria mostrada no filme. Queria reunir informações
sobre o local, seu povo e seus costumes. Em meus trabalhos, começo sempre com um instinto de
documentarista. Minha idéia não
era só mostrar lugares exóticos,
mas contar histórias sobre eles.
Folha - O interessante no filme
é que ele mostra cenas de pura
adrenalina e, ao mesmo tempo,
conta com honestidade histórias sobre seres humanos
Apted - Concordo. Queria fazer
um filme de James Bond, ou seja,
uma superprodução de ação, trazendo personagens interessantes.
Por essa razão eles me contrataram. Não queriam um diretor conhecido por filmes de ação, mas
alguém com experiência em dramas e preocupado com a apresentação dos personagens. Hoje sei
muito mais sobre a complexidade
de fazer uma superprodução como essa. Dos riscos com os atores
e extras durante as filmagens, das
dificuldades de cuidar de tantos
detalhes e como evitar que um gigantesco set se transforme num
verdadeiro caos. Espero que o sucesso desse filme viabilize, no futuro, meus projetos pessoais que,
no momento, estão engavetados,
já que ninguém quer investir em
diretores sem sucessos de bilheteria em seus currículos.
Folha - Quais foram suas principais influências?
Apted - O primeiro filme sério que assisti foi "Morangos Silvestres", de Bergman. Foi um filme que me fascinou e ampliou
minha visão sobre o cinema. Nos
anos 60, me encantei com o cinema europeu. Na década de 70,
passei a curtir mais o cinema
americano, porque sentia que ele
estava sendo feito para as massas.
Na Europa, as produções começavam a me cansar pelo seu hermetismo e discurso direcionados
apenas a seus criadores e entendidos de cinema. Por essa razão resolvi fazer cinema nos EUA.
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