|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA ESTRÉIA
O mundo é mais que suficiente
da Redação
A chegada de Pierce Brosnan ao
cargo de agente 007, em 1995,
coincide com um sopro de vida
dado ao personagem criado por
Ian Fleming (e Sean Connery)
-e não apenas por se tratar de
um ator competente e adequado.
Primeiro "007 contra Goldeneye" (1995), depois "007 - O Amanhã Nunca Morre" (1997) conseguiram tirar James Bond do âmbito da Guerra Fria.
Se o primeiro valia sobretudo
pela chegada do novo ator ao papel, o segundo tinha o mérito bem
maior de escantear de vez russos e
terroristas em geral. O vilão era a
mídia e seu poder de dominação.
Enfim, um vilão atual.
Se o novo James Bond, "007 - O
Mundo Não É o Bastante", dá alguns passos atrás, é menos por
perder de vista a necessidade de
visar questões contemporâneas
do que por manifestar uma energia minguada.
Ok. Isso em parte vem do argumento (sobre manobras para dominar a produção de petróleo),
em parte das arbitrariedades do
roteiro (em princípio, James
Bond deve proteger Elektra, filha
de grande magnata petrolífero assassinado, mas a história nos induz a crer em uma coisa, quando
na verdade o que se passa é outra
coisa -uma trapaça imperdoável).
Em parte por isso, esse lado cartão-postal típico da série se acentua. Ora estamos em Bilbao, Espanha, ora na Escócia ou em Istambul. São paisagens sem nenhuma
especificidade. O oleoduto de que
trata o filme poderia estar na Turquia ou na Bélgica -a única diferença está na paisagem, no tom de
aventura oriental que certos locais sugerem.
Com isso, as cenas de ação
-que sempre foram a medula
dos filmes de 007- parecem quase sempre frias e distantes. Não
importa a correria que envolvam
ou o número de explosões, falta-lhes vitalidade e movimento (movimento, não agitação).
Como bem lembrava Hitchcock, a força de um filme desse tipo depende em grande parte da
força de seu vilão. E, em "O Mundo Não É o Bastante", passamos a
maior parte do tempo sem saber
com clareza nem mesmo quem é
o verdadeiro rival de Bond. Com
isso, a ação não raro gira em falso.
A tela se agita, mas não leva a parte alguma.
Por fim, o filme anterior da série
-"O Amanhã Nunca Morre"-
beneficiava-se de um diretor muito bom (Roger Spottiswoode), capaz de compreender a complexidade de realizar um James Bond
nos anos 90. O diretor de "O
Mundo Não É o Bastante", Michael Apted, parece se interessar
menos pela aventura do que pelo
emprego. Desincumbe-se da tarefa de maneira meramente burocrática: empacota um 007 a mais e
ponto. Ao contrário do que possa
sugerir o título, o mundo é mais
que suficiente, é até excessivo para um James Bond tão raquítico.
(INÁCIO ARAUJO)
Avaliação:
Filme: 007 - O Mundo Não É o Bastante
(The World Is Not Enough)
Diretor: Michael Apted
Produção: EUA, 1999
Com: Pierce Brosnan, Sophie Marceau e
Robert Carlyle
Quando: a partir de hoje, no Top Cine 2,
Center Iguatemi 3 e circuito
Texto Anterior: Diretor não pensava em fazer parte da história do agente Próximo Texto: Cantar tema ainda deixa astros pop orgulhosos Índice
|