São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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CINEMA ESTRÉIA

O mundo é mais que suficiente

da Redação

A chegada de Pierce Brosnan ao cargo de agente 007, em 1995, coincide com um sopro de vida dado ao personagem criado por Ian Fleming (e Sean Connery) -e não apenas por se tratar de um ator competente e adequado.
Primeiro "007 contra Goldeneye" (1995), depois "007 - O Amanhã Nunca Morre" (1997) conseguiram tirar James Bond do âmbito da Guerra Fria.
Se o primeiro valia sobretudo pela chegada do novo ator ao papel, o segundo tinha o mérito bem maior de escantear de vez russos e terroristas em geral. O vilão era a mídia e seu poder de dominação. Enfim, um vilão atual.
Se o novo James Bond, "007 - O Mundo Não É o Bastante", dá alguns passos atrás, é menos por perder de vista a necessidade de visar questões contemporâneas do que por manifestar uma energia minguada.
Ok. Isso em parte vem do argumento (sobre manobras para dominar a produção de petróleo), em parte das arbitrariedades do roteiro (em princípio, James Bond deve proteger Elektra, filha de grande magnata petrolífero assassinado, mas a história nos induz a crer em uma coisa, quando na verdade o que se passa é outra coisa -uma trapaça imperdoável).
Em parte por isso, esse lado cartão-postal típico da série se acentua. Ora estamos em Bilbao, Espanha, ora na Escócia ou em Istambul. São paisagens sem nenhuma especificidade. O oleoduto de que trata o filme poderia estar na Turquia ou na Bélgica -a única diferença está na paisagem, no tom de aventura oriental que certos locais sugerem.
Com isso, as cenas de ação -que sempre foram a medula dos filmes de 007- parecem quase sempre frias e distantes. Não importa a correria que envolvam ou o número de explosões, falta-lhes vitalidade e movimento (movimento, não agitação).
Como bem lembrava Hitchcock, a força de um filme desse tipo depende em grande parte da força de seu vilão. E, em "O Mundo Não É o Bastante", passamos a maior parte do tempo sem saber com clareza nem mesmo quem é o verdadeiro rival de Bond. Com isso, a ação não raro gira em falso. A tela se agita, mas não leva a parte alguma.
Por fim, o filme anterior da série -"O Amanhã Nunca Morre"- beneficiava-se de um diretor muito bom (Roger Spottiswoode), capaz de compreender a complexidade de realizar um James Bond nos anos 90. O diretor de "O Mundo Não É o Bastante", Michael Apted, parece se interessar menos pela aventura do que pelo emprego. Desincumbe-se da tarefa de maneira meramente burocrática: empacota um 007 a mais e ponto. Ao contrário do que possa sugerir o título, o mundo é mais que suficiente, é até excessivo para um James Bond tão raquítico.
(INÁCIO ARAUJO)


Avaliação:  


Filme: 007 - O Mundo Não É o Bastante (The World Is Not Enough)
Diretor: Michael Apted
Produção: EUA, 1999
Com: Pierce Brosnan, Sophie Marceau e Robert Carlyle
Quando: a partir de hoje, no Top Cine 2, Center Iguatemi 3 e circuito




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