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DANÇA
Livro registra 20 anos de impulsos do grupo 1º Ato
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Faz 20 anos que o grupo 1º
Ato marca nossa paisagem.
Ao procurar uma linguagem própria, definiu novas possibilidades
para a arte da dança, em cruzamento com o teatro. Para o 1º Ato,
"o que importa é o que o gesto é
capaz de transmitir"; e não foi
pouco o que se transmitiu ao longo dessa história, registrada agora
no livro "1º Ato 20 Anos".
Seguindo a inspiração de duas
fundadoras, Suely Machado e Kátia Rabello, que permanecem até
hoje na sua direção, a companhia
procurou desde sempre criar um
registro particular, somando diferenças. Mesmo a formação dos
intérpretes responde a isso: aulas
não só de balé clássico e dança
moderna, mas também de canto e
interpretação teatral. Professores
e artistas vão dar laboratórios na
sede do grupo em Belo Horizonte.
Como diz Paula Davis (ex-bailarina, atual assistente de direção),
"o bailarino do 1º Ato estuda, pesquisa, procura nas mais diversas
fontes, em tudo que seja vida, que
tenha movimento". Os espetáculos são criações coletivas, dirigidas por Suely Machado, muitas
vezes em colaboração com um diretor de teatro ou um coreógrafo.
O 1º Ato jamais andou em linha
reta. Entre os vários labirintos pelos quais se arriscou, vale ressaltar
"A Breve Interrupção do Fim", de
Gerald Thomas, ou a mudança
ocorrida em 1996, quando os bailarinos foram desafiados a criar
um trabalho inteiramente produzido pela companhia. Quem se
aventurou primeiro foi Tuca Pinheiro, responsável também pelo
espetáculo mais recente, "Sem
Lugar" (2002). Investidas como
essas revelam bem a natureza do
grupo, sempre aberta a impulsos
diferentes.
"1º Ato 20 Anos" é uma mescla
de documento e livro comemorativo. Em formato especial, foi dividido em duas metades: "Bastidores", com textos do jornalista
Humberto Werneck, e "Palco",
com comentários da pesquisadora Cássia Navas. Tudo fartamente
ilustrado com fotos, incluindo as
produzidas especialmente para o
livro por Marcelo Coelho (nada a
ver com o colunista da Folha).
O texto de Werneck vai mineiramente contando a trajetória da
companhia. Recolhe depoimentos das diretoras e dos bailarinos e
revela grandes nomes da dança
que fizeram parte da história:
Carlos Leite (1914-95), grupo
Transforma, grupo Corpo,
Freddy Romero, Isabel Santa Rosa (1931-2001), Dudude Hermann, Bettina Bellomo.
Ficam claras as dificuldades de
sobrevivência de um grupo de
dança no país, mesmo aqueles raros com patrocínio fixo, como é o
caso do 1º Ato.
Na segunda parte, fotos dos espetáculos são apresentadas em
contraponto com citações de Navas, frases isoladas, menos explicações do que sugestões do que
foram os espetáculos.
Para os estudiosos, o livro fica
devendo, quem sabe?, entrar mais
propriamente na dança e discutir
a importância do grupo no cenário brasileiro. Mas talvez não fosse
o caso num livro comemorativo,
sob risco de pecar pelo auto-elogio. De qualquer modo, só o registro da história da companhia já
faz desse volume um marco na escassa bibliografia da dança nacional. E o livro faz muito mais: no
encontro entre textos e fotos, em
mais um desses territórios híbridos que o 1º Ato adora percorrer,
ele recria o mais importante de tudo: a própria dança, início e meio
dessa história em movimento.
1º Ato 20 Anos
Edição: grupo 1º Ato
Quanto: preço não definido (a obra será
lançada em fevereiro); 192 págs.
Patrocinador: banco Rural
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