São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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DANÇA

Livro registra 20 anos de impulsos do grupo 1º Ato

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Faz 20 anos que o grupo 1º Ato marca nossa paisagem. Ao procurar uma linguagem própria, definiu novas possibilidades para a arte da dança, em cruzamento com o teatro. Para o 1º Ato, "o que importa é o que o gesto é capaz de transmitir"; e não foi pouco o que se transmitiu ao longo dessa história, registrada agora no livro "1º Ato 20 Anos".
Seguindo a inspiração de duas fundadoras, Suely Machado e Kátia Rabello, que permanecem até hoje na sua direção, a companhia procurou desde sempre criar um registro particular, somando diferenças. Mesmo a formação dos intérpretes responde a isso: aulas não só de balé clássico e dança moderna, mas também de canto e interpretação teatral. Professores e artistas vão dar laboratórios na sede do grupo em Belo Horizonte.
Como diz Paula Davis (ex-bailarina, atual assistente de direção), "o bailarino do 1º Ato estuda, pesquisa, procura nas mais diversas fontes, em tudo que seja vida, que tenha movimento". Os espetáculos são criações coletivas, dirigidas por Suely Machado, muitas vezes em colaboração com um diretor de teatro ou um coreógrafo.
O 1º Ato jamais andou em linha reta. Entre os vários labirintos pelos quais se arriscou, vale ressaltar "A Breve Interrupção do Fim", de Gerald Thomas, ou a mudança ocorrida em 1996, quando os bailarinos foram desafiados a criar um trabalho inteiramente produzido pela companhia. Quem se aventurou primeiro foi Tuca Pinheiro, responsável também pelo espetáculo mais recente, "Sem Lugar" (2002). Investidas como essas revelam bem a natureza do grupo, sempre aberta a impulsos diferentes.
"1º Ato 20 Anos" é uma mescla de documento e livro comemorativo. Em formato especial, foi dividido em duas metades: "Bastidores", com textos do jornalista Humberto Werneck, e "Palco", com comentários da pesquisadora Cássia Navas. Tudo fartamente ilustrado com fotos, incluindo as produzidas especialmente para o livro por Marcelo Coelho (nada a ver com o colunista da Folha).
O texto de Werneck vai mineiramente contando a trajetória da companhia. Recolhe depoimentos das diretoras e dos bailarinos e revela grandes nomes da dança que fizeram parte da história: Carlos Leite (1914-95), grupo Transforma, grupo Corpo, Freddy Romero, Isabel Santa Rosa (1931-2001), Dudude Hermann, Bettina Bellomo.
Ficam claras as dificuldades de sobrevivência de um grupo de dança no país, mesmo aqueles raros com patrocínio fixo, como é o caso do 1º Ato.
Na segunda parte, fotos dos espetáculos são apresentadas em contraponto com citações de Navas, frases isoladas, menos explicações do que sugestões do que foram os espetáculos.
Para os estudiosos, o livro fica devendo, quem sabe?, entrar mais propriamente na dança e discutir a importância do grupo no cenário brasileiro. Mas talvez não fosse o caso num livro comemorativo, sob risco de pecar pelo auto-elogio. De qualquer modo, só o registro da história da companhia já faz desse volume um marco na escassa bibliografia da dança nacional. E o livro faz muito mais: no encontro entre textos e fotos, em mais um desses territórios híbridos que o 1º Ato adora percorrer, ele recria o mais importante de tudo: a própria dança, início e meio dessa história em movimento.


1º Ato 20 Anos
   
Edição: grupo 1º Ato
Quanto: preço não definido (a obra será lançada em fevereiro); 192 págs.
Patrocinador: banco Rural



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