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NA REDE
Site Favela Tem Memória cataloga história de bairros carentes do Rio
Favelas criam seu passado virtual
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Favelário Nacional", Carlos Drummond de Andrade se
perguntava nos primeiros versos:
"Quem sou eu para te cantar, favela, que cantas em mim e para
ninguém a noite inteira de sexta e
a noite inteira de sábado e nos
desconheces, como igualmente
não te conhecemos?".
Pois favelário, um neologismo,
batiza o pequeno dicionário de
nomes de morros do Rio de Janeiro numa das seções do site, ou sítio, Favela Tem Memória, do portal Viva Favela, "voltado para a
democratização da informação e
redução da exclusão digital" e ligado à ONG Viva Rio.
O site entrou no ar esta semana.
A primeira fase contempla cinco
regiões: Complexo do Alemão
(zona norte), Cantagalo e Pavão-Pavãozinho (sul), Cidade de Deus
(oeste), Complexo da Maré (norte) e Rocinha (sul).
A meta é atingir outros locais
somando parcerias com entidades que já realizam ações afirmativas em torno da memória e da
auto-estima dos moradores
(exemplos do Centro Histórico da
Rocinha e Centro de Estudos e
Ações Solidárias da Maré).
A jornalista Cristiane Ramalho,
39, editora de conteúdo do Favela
Tem Memória, afirma ter consciência de que a maioria dos brasileiros não dispõe de computador em casa, mas o acesso à internet, por meio de espaços na própria comunidade, constitui também forma de inclusão. Imagens e
depoimentos colhidos irão ganhar versão impressa que circulará entre os moradores.
A equipe comandada por Ramalho faz uma cobertura jornalística de inspiração profissional,
ainda que não haja formados entre as dez pessoas.
Locutora da rádio Panorama
FM, no Cantagalo, Rita de Cássia,
38, quer escrever um livro à parte.
A moradora Deise Lane, 20, do
Complexo da Maré, tem a chance
de exercitar o ofício de fotógrafa
que a mãe incentivara desde os 12
anos, sob resistência.
"O desafio maior é mostrar os
lados verdadeiramente positivos
ou negativos, o que normalmente
a grande mídia não faz", diz Lane,
também retratista do jornal comunitário "Cidadão".
Segundo a coordenadora do
projeto, a antropóloga Regina
Novaes, a população, não importa o andar, necessita construir sua
identidade no presente a partir da
valorização do passado.
"A memória da favela era como
um baú fechado, esquecido no sótão de uma casa abandonada. Hoje, através de várias iniciativas comunitárias, ele começa a ser redescoberto, remexido e vai ganhando vida", diz Novaes, 52.
"Estamos convidando a todos a
abrirem seus álbuns, buscarem
lembranças de músicas, ditos e
mitos guardados no fundo do baú
da memória."
SITE: www.favelatemmemoria.com.br
- realização: portal Viva Favela/ONG
Viva Rio. Mais informações: tel. 0/xx/21/
3826-1909, r. 3275. Patrocinadores:
CNPq, Fundação para a Infância e
Adolescência e Petrobras.
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