São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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NA REDE

Site Favela Tem Memória cataloga história de bairros carentes do Rio

Favelas criam seu passado virtual

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Favelário Nacional", Carlos Drummond de Andrade se perguntava nos primeiros versos: "Quem sou eu para te cantar, favela, que cantas em mim e para ninguém a noite inteira de sexta e a noite inteira de sábado e nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?".
Pois favelário, um neologismo, batiza o pequeno dicionário de nomes de morros do Rio de Janeiro numa das seções do site, ou sítio, Favela Tem Memória, do portal Viva Favela, "voltado para a democratização da informação e redução da exclusão digital" e ligado à ONG Viva Rio.
O site entrou no ar esta semana. A primeira fase contempla cinco regiões: Complexo do Alemão (zona norte), Cantagalo e Pavão-Pavãozinho (sul), Cidade de Deus (oeste), Complexo da Maré (norte) e Rocinha (sul).
A meta é atingir outros locais somando parcerias com entidades que já realizam ações afirmativas em torno da memória e da auto-estima dos moradores (exemplos do Centro Histórico da Rocinha e Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré).
A jornalista Cristiane Ramalho, 39, editora de conteúdo do Favela Tem Memória, afirma ter consciência de que a maioria dos brasileiros não dispõe de computador em casa, mas o acesso à internet, por meio de espaços na própria comunidade, constitui também forma de inclusão. Imagens e depoimentos colhidos irão ganhar versão impressa que circulará entre os moradores.
A equipe comandada por Ramalho faz uma cobertura jornalística de inspiração profissional, ainda que não haja formados entre as dez pessoas.
Locutora da rádio Panorama FM, no Cantagalo, Rita de Cássia, 38, quer escrever um livro à parte.
A moradora Deise Lane, 20, do Complexo da Maré, tem a chance de exercitar o ofício de fotógrafa que a mãe incentivara desde os 12 anos, sob resistência.
"O desafio maior é mostrar os lados verdadeiramente positivos ou negativos, o que normalmente a grande mídia não faz", diz Lane, também retratista do jornal comunitário "Cidadão".
Segundo a coordenadora do projeto, a antropóloga Regina Novaes, a população, não importa o andar, necessita construir sua identidade no presente a partir da valorização do passado.
"A memória da favela era como um baú fechado, esquecido no sótão de uma casa abandonada. Hoje, através de várias iniciativas comunitárias, ele começa a ser redescoberto, remexido e vai ganhando vida", diz Novaes, 52.
"Estamos convidando a todos a abrirem seus álbuns, buscarem lembranças de músicas, ditos e mitos guardados no fundo do baú da memória."


SITE: www.favelatemmemoria.com.br - realização: portal Viva Favela/ONG Viva Rio. Mais informações: tel. 0/xx/21/ 3826-1909, r. 3275. Patrocinadores: CNPq, Fundação para a Infância e Adolescência e Petrobras.


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