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FOTOGRAFIA
Edinger reencontra memória afetiva na zona sul carioca
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Fotografar uma cidade como o Rio de Janeiro, transformada em cidade-cenário pelo excesso de imagens de seus ícones
turísticos que circulam mundo
afora, é tarefa das mais árduas para os fotógrafos. Ao encontrar um
conceito e uma técnica original, o
fotógrafo Claudio Edinger, 51,
driblou essas dificuldades e realizou o livro "Rio", um dos bons
lançamentos deste final de ano.
Nascido no Rio de Janeiro,
Edinger logo se mudou para São
Paulo com sua família. Em 76, foi
para Nova York, onde ficou por
20 anos. Ao regressar, veio morar
novamente em São Paulo. "O Rio
de Janeiro, onde nasci e nunca vivi, passou a ser o idílio. Quando
criança, passava as férias lá, na casa de uma tia. Morando fora, evitava ouvir bossa nova porque a
saudade era uma tortura", diz.
Entre o exílio voluntário e o retorno ao país, Edinger se notabilizou por imprimir seus ensaios em
livros, entre os quais se destacam
"Chelsea Hotel" e "Venice Beach"
(ambos vencedores do Leica Medal of Excellence nos EUA), além
do impagável "Loucura", acerca
do manicômio do Juqueri. "Rio" é
seu décimo primeiro livro.
Ao adquirir uma câmera de formato 4 x 5 polegadas (10 x 12,5
cm), de difícil manuseio e normalmente utilizada em estúdio,
Edinger aprimorou uma técnica
que permite obter, no mesmo plano, zonas com e sem foco. "A 4
por 5 é uma filósofa da fotografia.
Quando a gente fotografa, não
tem como ver o que está sendo registrado. Ela permite que você a
conduza até certo ponto, depois é
como se fosse dotada de um poder de observação próprio", diz.
Se em livros anteriores Edinger
fez documentários com enfoque
mais clássico, nesse "Rio" o documental surge vitalizado por uma
profunda imersão introspectiva.
O mundo e as pessoas não são
necessariamente aquilo que parecem ser. A fração de realidade
com que o artista trabalha é reconfigurada para se adequar ao
seu estado de ânimo diante da
paisagem. Paisagem, aqui, subentendida não como o cenário atual
da cidade, mas sim como o espaço
possível do reencontro com suas
memórias. Nos melhores momentos de "Rio", Edinger brinca
com a escala da cidade, que parece se tornar uma maquete, como
na fotografia que mostra a região
do shopping Rio-Sul. Banhistas
por vezes se tornam gigantes, como a sensação de uma criança
diante de um ser adulto.
A memória de um lugar é formada por imagens fugidias, sem
contornos precisos. Lugar atemporal que guarda pouca ressonância do mundo real. A memória de um lugar é, em boa parte,
invenção, imaginação criativa.
Reconstruir uma cidade a partir
dos dados fragmentados dessa
memória inventiva e, assim, trazê-la para a realidade das páginas
de um livro foi o roteiro poético
percorrido pelo fotógrafo, que fez
com que sua estranha câmera
captasse mais suas apreensões interiores que a paisagem diante dela. Documentário pessoal, porém,
transferível.
Rio
Autor: Claudio Edinger
Editora: DBA
Quanto: R$ 90, em média (144 págs)
Exposição: de 5 a 18 de janeiro, de seg. a
sex. das 10h às 20h; dom., das 10h às 16h
Onde: galeria Espaço Paul Mitchell (r. da
Mata, 70, SP, tel. 0/xx/11/3079-0300)
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