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"EDUKATORS"
Filme discute bem a relação,
mas deixa de lado a revolução
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a vida real fosse um filme e
se o Brasil fosse a Áustria, passar uma semaninha na mão de seqüestradores até que não seria
mau negócio. A especulação (boba) vem à mente quando se assiste a "Edukators", de Hans Weingartner, que estréia no Brasil.
Rebobinando a fita, estamos em
companhia de Peter (Stipe Erceg),
Jule (Julia Jentsch) e Jan (Daniel
Brühl, de "Adeus, Lênin!"), três
jovens e os seus problemas.
Jan tem um problema com o capitalismo, que substitui a vontade
de viver a vida pela vontade de
consumir. Jule, mais mundana,
tem um problema com seus chefes no restaurante em que trabalha. E Peter? Bem, ele tem que ir à
Barcelona e, nesse meio tempo,
Jule, sua namorada, tem um flerte
com Jan, seu melhor amigo.
Pois é justamente aí que os problemas de "Edukators" começam: quando o triângulo amoroso formado na história passa a
ofuscar o frescor de sua abordagem política. Com um verniz moderninho, ao gosto do freguês do
cinema pop europeu, Weingartner propõe uma boa discussão sobre os rumos do ativismo político
destes tempos, que substitui o
molotov pela tortada na cara.
Auto-intitulando-se "os educadores", Jan e Peter invadem à noite as casas dos milionários do pedaço, tiram móveis do lugar e deixam um bilhete do tipo "seus dias
de ostentação estão contados".
Numa dessas ocasiões, as coisas
fogem ao script. Sem que Peter
saiba, Jan decide levar Jule para
uma das ações e é surpreendido
pelo morador. Solução (ou novo
problema): seqüestrar o ricaço.
Mas a inexperiência do grupo
diante da violência faz com que o
cativeiro, uma deliciosa casa de
campo nas montanhas, pareça
um retiro espiritual. Ideal para
discutir a relação, mas insuficiente para reformular a revolução.
Edukators
Die Fetten Jahre Sind Vorbei
Direção: Hans Weingartner
Produção: Alemanha/Áustria, 2004
Com: Daniel Brühl, Julia Jentsch
Quando: a partir de amanhã no Espaço
Unibanco, Frei Caneca Unibanco
Arteplex, HSBC Belas Artes e Sala UOL
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