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CINEMA
Filmes como "Sobrevivendo ao Natal", "Um Natal Muito, Muito Louco" e "Papai Noel às Avessas" zombam da data
Na tela, Natal se torna a estação do cinismo
SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES
O que aconteceu com as expressões de alegria e conforto?
No passado, os filmes de Natal
eram definidos pelo exemplo da
cálida jornada de James Stewart
em "A Felicidade Não se Compra". Mais recentemente, as coisas se tornaram sombrias.
Com filmes como "Sobrevivendo ao Natal", "Um Natal Muito,
Muito Louco" e "Papai Noel às
Avessas", do ano passado, o Natal
de acordo com Hollywood, se tornou algo a ser suportado, em vez
de celebrado, e o sentimento vem
gerando todo um gênero de filmes sazonais que criticam as festas em lugar de comemorá-las.
Em "Sobrevivendo ao Natal",
que começa com uma velhinha se
suicidando ao enfiar a cabeça no
forno, Ben Affleck interpreta um
executivo fútil que paga a uma família que vive na casa em que
cresceu para recriar suas memórias natalinas de infância. Em
"Um Natal Muito, Muito Louco",
Tim Allen é atacado por todo o
bairro ao decidir que vai passar as
últimas semanas do ano no Caribe, em vez de tirar do porão seu
boneco de neve natalino.
Os temas não são novos. O sucesso "Um Duende em Nova
York", que faturou bem tanto nas
bilheterias de cinema em 2003
quanto no mercado de DVDs neste ano, traz Will Ferrell como um
eterno otimista que só se depara
com cinismo e cara feia em sua visita a Manhattan na temporada de
festas. E, em "Papai Noel às Avessas", Papai Noel é literalmente um
vilão criminoso cujo plano é roubar uma loja de departamentos.
Já em 1989, "Férias Frustradas
de Natal" zombava das festas.
Mas foi o sucesso "Esqueceram de
Mim", com Macaulay Culkin, em
1990, que realmente deu vida à
tendência. No filme, um menino
passa o Natal sozinho em casa,
impedindo que bandidos cometam um roubo. De lá para cá,
Hollywood desenvolveu um subgênero de comédias natalinas, entre as quais "Meu Papai É Noel",
de 1994, e a continuação, filmada
em 2002; "Um Herói de Brinquedo", de 1996; e "O Grinch" (2000).
Será o fim da ingenuidade natalina? Hoje em dia, "as pessoas
zombam do Natal", diz David
Thomson, historiador do cinema
que acaba de publicar uma história da indústria cinematográfica,
"The Whole Equation" [A Equação Inteira]. "Acredito que hoje o
mais comum seja interpretar o
Natal como essa pavorosa ocasião
familiar que reúne parentes que
não se gostam para beber e brigar.
Muitos dos filmes de Natal recentes funcionam desse jeito."
Valores natalinos
O velho gênero de filmes natalinos repletos de valores continua a
existir, mas parece ter migrado da
tela grande para a TV, que exibe
James Stewart fielmente a cada a
ano, e na qual nesta temporada de
festas os telespectadores poderão
assistir às mais recentes fábulas
natalinas, como a versão musical
que a NBC produziu para "A
Christmas Carol", e, na CBS, "A
Very Married Christmas" e
"When Angels Come to Town".
Um filme mais tradicional para
cinema, como "O Expresso Polar", da Warner Brothers, baseado
em um livro infantil sobre uma
viagem ao pólo Norte, é mais exceção que regra. O filme, que custou US$ 170 milhões, mostrou desempenho à moda antiga, aliás,
acumulando lentamente as receitas de bilheteria (US$ 110 milhões
até agora), em lugar de encontrar
sucesso ou fracasso instantâneos
muito mais comuns hoje em dia.
"Sobrevivendo ao Natal" estreou em outubro nos EUA, e fracassou rapidamente. Mas "Um
Natal Muito, Muito Louco", de
novembro, faturou respeitáveis
US$ 54,8 milhões até agora.
Há limites
Ainda assim, há limites para o
desejo da audiência de ver o espírito natalino sufocado por cinismo contemporâneo. Quando executivos do Revolution Studios, de
"Um Natal Muito, Muito Louco",
conduziram suas pesquisas de
mercado, descobriram que as audiências reagiam mal à idéia de
desrespeitar o Natal. O estúdio tirou de circulação cartazes que
usariam "no-ho-ho" como assinatura por sobre o título. "Achávamos que seria engraçado, não
cínico", disse Tom Sherak, sócio
do Revolution. "Quando mostramos aos grupos de discussão, as
pessoas disseram que não gostavam do no-ho-ho. O Natal continua a ser ho-ho-ho para elas."
E ainda que o mercado comercial norte-americano tenha recebido bem o filme, os críticos o
massacraram por sua mensagem
de conformismo natalino automático. Muitos deles classificaram o trabalho como "fascista", e
um jornalista chegou a defini-lo
como a pior manifestação concebível do pensamento atual de
Hollywood quanto ao Natal.
Mas isso só coloca o dilema em
destaque. Na verdade, filmes natalinos, e em especial comédias,
são muito difíceis de produzir.
Para que funcionem, não podem
ser inocentes demais nem cínicos
demais. Para executivos de Hollywood, é como procurar agulha no
palheiro. "Não estou procurando
comédias natalinas", confessou
Toby Emmerich, diretor de produção na New Line Cinema, que
desenvolveu "Um Duende em
Nova York". "Precisam ser lançadas numa determinada época do
ano, e isso reduz nossa flexibilidade. E soube que nem sempre funcionam bem no exterior."
Beth Polson, que escreveu e dirigiu "Secret Santa" para a NBC
no ano passado, disse que eles seguem uma fórmula específica,
mas que estranhamente é difícil
adaptar esse modelo para a tela
grande. O Natal "é um momento
em que famílias se unem em torno da TV enquanto embrulham
presentes, enfeitam a árvore e desejam determinada receita", disse. "Se for esperto, não se afasta
dela. É preciso uma criança, um
pouco de mistério, inspiração,
humor e, para coroar, uma lição a
aprender. São os elementos que
resultam num filme de sucesso".
Tradução de Paulo Migliacci
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