São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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Pescador leva leitura a meninos internos

Léo do Peixe promove oficinas para entreter adolescentes que vivem no Cesap, centro correcional inaugurado perto de Pirapora

Com idades entre 15 e 16, internos preferem livros sobre sexo e drogas; diretora diz que é preciso "selecionar as leituras"

DO ENVIADO ESPECIAL A PIRAPORA

Se "Grande Sertão: Veredas" fosse narrado hoje, é provável que Riobaldo e Diadorim não se encontrassem pela primeira vez no rio São Francisco, quando ainda eram crianças, mas num centro correcional de menores, vigiados 24 horas por dia. "Pirapora era até muito recentemente o sexto município mais violento do Estado de Minas", diz Dalva Antonia Maria de Castro Galdino, advogada, comerciante, idealizadora e diretora do recém-inaugurado Centro Socioeducativo de Adolescentes de Pirapora, o Cesap, onde Léo do Peixe organiza uma oficina mensal de leitura.
Com 58 funcionários e capacidade para 20 internos (hoje, são dez, entre 15 e 16 anos, acomodados em celas de quatro cada uma), o Cesap é um caixote murado de cimento e arame farpado, construído a poucos quilômetros da cidade, isolado na estrada para Montes Claros.
O projeto é resultado de uma parceria entre o Estado, o município e empresários locais, todos assustados com a taxa de criminalidade da região: "Todo mundo quer saber por que eles cometem o ato infracional", diz a diretora.
Entre os internos, há quem cometeu homicídio. Alguns passaram pela cadeia pública. A idéia do centro é tentar reinserir o menor na sociedade. Além do banho de sol diário de uma hora, os adolescentes freqüentam aulas de matemática, português e inglês, cursos profissionalizantes e oficinas.
Léo do Peixe leva os livros e revistas de bicicleta. A maioria dos meninos gosta de assuntos que lhes dizem respeito diretamente, como sexo e drogas. "A gente tem que selecionar as leituras", ressalva Dalva Galdino. "Tem um que adora poesia", diz o pescador.
As situações familiares são dramáticas. "Tem menino de 15 anos que já é pai, com filho de 8 meses que ele nunca viu. E tem pai que não consegue vir visitar o filho preso. No início, ainda permitíamos que levassem livros para as celas, até que um adolescente tentou passar uma coisa para outro, dentro da Bíblia. A gente percebeu e retirou os livros. Ele mandava o outro ler um determinado salmo. Era um recado", diz a diretora. "Outro dia, um menino gritou para mim no meio da rua. Era um deles, que tinha sido solto", diz Léo do Peixe, sem disfarçar a felicidade. (BERNARDO CARVALHO)


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