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"A Bússola de Ouro" incomoda religiosos
Controvérsia chegou ao Vaticano, que chamou o filme de antinatalino
Baseado na trilogia de Philip Pullman, com elenco estelar encabeçado por Nicole Kidman e Daniel Craig, filme pode ter duas seqüências
RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES
Ao contrário do que pode fazer crer a ladainha de religiosos
conservadores nos EUA e até o
Vaticano, a "Bússola de Ouro"
não aponta para direção alguma. O filme baseado na trilogia
do escritor inglês Philip Pullman, "Fronteiras do Universo",
estréia hoje no Brasil com seus
efeitos especiais milionários e
uma miríade dos mais famosos
e bem pagos atores do mundo
-como Nicole Kidman, Daniel
Craig e Eva Green- para contar uma história confusa, que
termina de forma anticlimática
e com cara de caça-níqueis.
Mas o que leva ao desespero
certos católicos do planeta não
é a (falta de) qualidade do filme,
e sim uma instituição que aparece na obra escrita e no longa,
o "Magisterium". Se nos livros
ela é explicitamente uma igreja
toda-poderosa que pretende
controlar e cercear o livre pensamento dos habitantes de um
mundo paralelo, no filme ela é
desprovida de qualquer caráter
religioso, apresentando fumos
de governo laico e totalitário.
Em entrevista à imprensa internacional no mês passado,
em Londres, da qual a Folha
participou, Green já alertava
para o óbvio: livro e filme têm
que ser pensados separadamente. "O "Magisterium", por
exemplo, é um pouco diferente.
No filme, é um poder que quer
controlar tudo. É diferente do
livro", disse a moça, que ainda
credita "Os Sonhadores", de
Bernardo Bertolucci, como
ponto alto de sua carreira.
Questionada sobre uma possível alegoria política do filme,
respondeu à Folha, de modo
irônico: "Você quer que eu fale
sobre o Bush?" Ela tinha razão,
seria forçado; mas, no caso do
filme, menos do que qualquer
comparação com uma igreja.
Conservadores religiosos,
porém, não prestam muita
atenção em Green. Na semana
passada, o jornal oficial do Vaticano, "L'Osservatore Romano", comemorou a "baixa" bilheteria do filme em seu primeiro fim de semana nos EUA
(US$ 25 milhões), e afirmou
que a história é antinatalina.
Trata-se da saga de uma pré-adolescente -"Lyra Belacqua",
interpretada pela jovem Dakota Blue Richards- em busca
das pessoas que mais lhe são
caras: um amigo que foi raptado pelo tal governo totalitário,
e que é mantido no pólo Norte
com outras crianças, e seu tio
-Daniel Craig, o mais recente
James Bond, como "Lord Asriel"-, um cientista que também desafia o poder central e
se encontra na mesma região.
Tudo se passa em um mundo
paralelo em que as "almas" das
pessoas são entidades em forma de animais que as acompanham para todo lado. Os "demônios" das crianças, ainda imaturas, mudam de espécie
animal dependendo do seu estado de espírito. Os dos adultos
têm algo a ver com seu caráter
ou posição social -o do bravo
cientista, tio da protagonista, é
um tigre, enquanto os de vários
serviçais são cachorros. Funcionários moralmente asquerosos do "Magisterium", metade policiais, metade espiões, são acompanhados por insetos.
O projeto, segundo o diretor
Chris Weitz, "é o maior risco
que a New Line", mesma produtora de "O Senhor dos
Anéis", "já resolveu correr".
Custou, nessa primeira etapa,
US$ 150 milhões. Ele afirma
que a idéia é adaptar a trilogia
de Pullman -e ele e os principais atores já têm contratos assinados para as seqüências.
"Mas tudo depende do sucesso deste", diz o diretor.
O filme acaba apontando para uma continuação, o que cria
uma sensação de obra inconclusa ou capítulo de série de televisão. "Esperamos não desapontar a platéia", diz Weitz.
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