São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A Bússola de Ouro" incomoda religiosos

Controvérsia chegou ao Vaticano, que chamou o filme de antinatalino

Baseado na trilogia de Philip Pullman, com elenco estelar encabeçado por Nicole Kidman e Daniel Craig, filme pode ter duas seqüências

RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES

Ao contrário do que pode fazer crer a ladainha de religiosos conservadores nos EUA e até o Vaticano, a "Bússola de Ouro" não aponta para direção alguma. O filme baseado na trilogia do escritor inglês Philip Pullman, "Fronteiras do Universo", estréia hoje no Brasil com seus efeitos especiais milionários e uma miríade dos mais famosos e bem pagos atores do mundo -como Nicole Kidman, Daniel Craig e Eva Green- para contar uma história confusa, que termina de forma anticlimática e com cara de caça-níqueis.
Mas o que leva ao desespero certos católicos do planeta não é a (falta de) qualidade do filme, e sim uma instituição que aparece na obra escrita e no longa, o "Magisterium". Se nos livros ela é explicitamente uma igreja toda-poderosa que pretende controlar e cercear o livre pensamento dos habitantes de um mundo paralelo, no filme ela é desprovida de qualquer caráter religioso, apresentando fumos de governo laico e totalitário.
Em entrevista à imprensa internacional no mês passado, em Londres, da qual a Folha participou, Green já alertava para o óbvio: livro e filme têm que ser pensados separadamente. "O "Magisterium", por exemplo, é um pouco diferente. No filme, é um poder que quer controlar tudo. É diferente do livro", disse a moça, que ainda credita "Os Sonhadores", de Bernardo Bertolucci, como ponto alto de sua carreira.
Questionada sobre uma possível alegoria política do filme, respondeu à Folha, de modo irônico: "Você quer que eu fale sobre o Bush?" Ela tinha razão, seria forçado; mas, no caso do filme, menos do que qualquer comparação com uma igreja.
Conservadores religiosos, porém, não prestam muita atenção em Green. Na semana passada, o jornal oficial do Vaticano, "L'Osservatore Romano", comemorou a "baixa" bilheteria do filme em seu primeiro fim de semana nos EUA (US$ 25 milhões), e afirmou que a história é antinatalina.
Trata-se da saga de uma pré-adolescente -"Lyra Belacqua", interpretada pela jovem Dakota Blue Richards- em busca das pessoas que mais lhe são caras: um amigo que foi raptado pelo tal governo totalitário, e que é mantido no pólo Norte com outras crianças, e seu tio -Daniel Craig, o mais recente James Bond, como "Lord Asriel"-, um cientista que também desafia o poder central e se encontra na mesma região.
Tudo se passa em um mundo paralelo em que as "almas" das pessoas são entidades em forma de animais que as acompanham para todo lado. Os "demônios" das crianças, ainda imaturas, mudam de espécie animal dependendo do seu estado de espírito. Os dos adultos têm algo a ver com seu caráter ou posição social -o do bravo cientista, tio da protagonista, é um tigre, enquanto os de vários serviçais são cachorros. Funcionários moralmente asquerosos do "Magisterium", metade policiais, metade espiões, são acompanhados por insetos.
O projeto, segundo o diretor Chris Weitz, "é o maior risco que a New Line", mesma produtora de "O Senhor dos Anéis", "já resolveu correr". Custou, nessa primeira etapa, US$ 150 milhões. Ele afirma que a idéia é adaptar a trilogia de Pullman -e ele e os principais atores já têm contratos assinados para as seqüências.
"Mas tudo depende do sucesso deste", diz o diretor.
O filme acaba apontando para uma continuação, o que cria uma sensação de obra inconclusa ou capítulo de série de televisão. "Esperamos não desapontar a platéia", diz Weitz.

Texto Anterior: Ex-sem-teto está entre os best-sellers da editora
Próximo Texto: Crítica: Embalagem não compensa falhas da trama
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.