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Vencedor do Globo de Ouro renova produção tcheca
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
O cinema tcheco se renova repetindo uma velha fórmula do mestre Jirí Menzel, o mais autêntico
símbolo kafkiano de resistência à
barbárie que russificou o país desde o fim da Segunda Guerra.
Menzel tinha 30 anos quando recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 68, por "Trens Estreitamente Vigiados".
Na então Tchecoslováquia, depois da invasão soviética em 68,
caiu em desgraça e sofreu censura
sistemática, mas teimou em nunca
abandonar o país.
Agora, Jan Sverak, um discípulo
e assistente de Menzel, pode repetir o sucesso aos 32 anos, com o seu
quarto filme "Kolya" (que aqui
terá acrescido o subtítulo imbecil
"Uma Lição de Amor").
O fato de ter levado o Globo de
Ouro como melhor filme estrangeiro da temporada americana poderá influenciar a lista dos cinco
finalistas para a mesma categoria
na próxima rodada do Oscar.
"Kolya" revela a resistência de
um típico anti-herói do regime socialista. Anulado em seu talento
musical de violoncelista, rebaixado e humilhado, Louka (Zdenek
Sverák) sobrevive restaurando velhas lápides de cemitérios.
O processo kafkiano que o atinge
se perde nas mesquinharias do poder no partido comunista. Sua carreira musical é interrompida com
um inquestionável processo sumário.
Nos labirintos da paranóia, sua
resistência revela as emoções de
um inconformismo travestido de
conformismo e resignação.
Louka simboliza a alegria de viver na clandestinidade. Suas emoções e a música que o acompanha
confundem-se com o pleno domínio de uma pontuação escapista.
Seja nas paisagens de uma Boêmia
ainda distante da truculência do
partido e dos invasores soviéticos,
seja no refúgio dos cemitérios.
Até que a russificação atinge o
jovial sexagenário. Na forma voraz
de um choque cultural, de um casamento por conveniência, de
uma russa trambiqueira atrás de
um passaporte tcheco.
A mulher parte em seguida, mas
o faz "herdar" um filho russo de
cinco anos chamado Kojya.
Agora Louka tem um filho que
não é seu para cuidar, precisa representar um desajeitado papel de
pai para não levantar mais suspeitas sobre o seu casamento arranjado, com um inesperado problema
maior para resolver -a difícil comunicação com o "filho" que só
fala russo e a inevitável afeição que
o começa a prendê-lo à criança.
Com a chamada "Revolução de
Veludo", a desintegração do bloco socialista, a mãe russa volta para reclamar o filho abandonado e
outra vez interfere na pequena felicidade do músico.
Assim se faz este pequeno filme
cheio de grandes emoções. A
mea-culpa em Hollywood redime-se de tempos em tempos pinçando filmes assim.
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