São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997.

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LIVROS
`Negras Imagens' monta caleidoscópio negro

DENISE MOTA
da Redação

Da ``Vendedora de Banana'', retratada por R. Lindemann em 1890, ao jornal ``Versus'', de 1978, que tinha uma seção chamada Afro-Latino-América, o passado e o presente dos negros brasileiros estão reunidos em ``Negras Imagens'', coletânea de estudos publicada pela Edusp.
``Negras Imagens'' é mais um lançamento que chega às livrarias após extenso debate que a USP promoveu sobre cultura negra e discriminação racial em 1995, ano do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares.
Como os outros livros da série -``Estratégias e Políticas de Combate à Discriminação Racial'' e ``Raça e Diversidade''-, já publicados, ``Negras Imagens'' traz 11 estudos de pesquisadores da USP e da Unicamp sobre a formação do regime escravocrata brasileiro, o cotidiano da população negra e a adaptação cultural e social dos ``ladinos''(negros nascidos no Brasil) e ``crioulos'' (escravos vindos da África) após a abolição.
O livro aborda as múltiplas circunstâncias da chegada dos negros ao Brasil (explicando as diferenças de trabalho e de ``status'' entre o escravo urbano, o doméstico e o rural) até o uso da capoeira como instrumento de dissimulação da resistência escrava, além de dar um breve histórico do movimento negro atual.
``Negras Imagens'' monta um caleidoscópio em que se mesclam considerações acadêmicas a curiosidades de uma parte pouco conhecida da história brasileira.
Fica-se sabendo, por exemplo, que a capoeira ficou na ilegalidade até os anos 30, que um escravo adulto valia 266.000 réis em 1830 -e teve sua cotação ``valorizada'' progressivamente, até valer 1.261.000 réis em 1860- ou que ``banzo'', forma de suicídio muito praticada entre os escravos, consistia em ingerir terra até a morte.
Outro destaque do livro fica por conta de pesquisas que denunciam a confusão cultural que existe no país, a começar pela autodefinição dos brasileiros em relação à própria cor.
``Negras Imagens'' registra, por exemplo, as respostas à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1976, em que a população se descreveu com nada menos que 136 inusitadas variações de cor.
Em pleno século 20, ainda há quem se diga ``alva-escura'', ``cor-de-leite'', ``chocolate'', ``sapecada'', ``morena-roxa'', ``turva'' ou ``verde''.

Livro: Negras Imagens - Ensaios sobre Cultura e Escravidão no Brasil Organizado por: Lilia Moritz Schwarcz e Letícia Vidor de Sousa Reis Editora: Edusp Preço: R$ 30

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