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LIVROS
`Negras Imagens' monta caleidoscópio negro
DENISE MOTA
da Redação
Da ``Vendedora de Banana'', retratada por R. Lindemann em
1890, ao jornal ``Versus'', de 1978,
que tinha uma seção chamada
Afro-Latino-América, o passado e
o presente dos negros brasileiros
estão reunidos em ``Negras Imagens'', coletânea de estudos publicada pela Edusp.
``Negras Imagens'' é mais um
lançamento que chega às livrarias
após extenso debate que a USP
promoveu sobre cultura negra e
discriminação racial em 1995, ano
do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares.
Como os outros livros da série
-``Estratégias e Políticas de
Combate à Discriminação Racial''
e ``Raça e Diversidade''-, já publicados, ``Negras Imagens'' traz
11 estudos de pesquisadores da
USP e da Unicamp sobre a formação do regime escravocrata brasileiro, o cotidiano da população negra e a adaptação cultural e social
dos ``ladinos''(negros nascidos no
Brasil) e ``crioulos'' (escravos vindos da África) após a abolição.
O livro aborda as múltiplas circunstâncias da chegada dos negros
ao Brasil (explicando as diferenças
de trabalho e de ``status'' entre o
escravo urbano, o doméstico e o
rural) até o uso da capoeira como
instrumento de dissimulação da
resistência escrava, além de dar
um breve histórico do movimento
negro atual.
``Negras Imagens'' monta um
caleidoscópio em que se mesclam
considerações acadêmicas a curiosidades de uma parte pouco conhecida da história brasileira.
Fica-se sabendo, por exemplo,
que a capoeira ficou na ilegalidade
até os anos 30, que um escravo
adulto valia 266.000 réis em 1830
-e teve sua cotação ``valorizada''
progressivamente, até valer
1.261.000 réis em 1860- ou que
``banzo'', forma de suicídio muito
praticada entre os escravos, consistia em ingerir terra até a morte.
Outro destaque do livro fica por
conta de pesquisas que denunciam
a confusão cultural que existe no
país, a começar pela autodefinição
dos brasileiros em relação à própria cor.
``Negras Imagens'' registra, por
exemplo, as respostas à Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1976, em que a população se descreveu com nada
menos que 136 inusitadas variações de cor.
Em pleno século 20, ainda há
quem se diga ``alva-escura'',
``cor-de-leite'', ``chocolate'', ``sapecada'', ``morena-roxa'', ``turva'' ou ``verde''.
Livro: Negras Imagens - Ensaios sobre
Cultura e Escravidão no Brasil
Organizado por: Lilia Moritz Schwarcz e
Letícia Vidor de Sousa Reis
Editora: Edusp
Preço: R$ 30
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