São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2002

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CRÍTICA

Kubrick em versão pobre

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

"Vanilla Sky" é um "De Olhos Bem Fechados" em versão pobre. O último filme de Kubrick foi referência óbvia para Cameron Crowe refilmar o título de Alejandro Amenábar.
Não só porque ambos têm no papel principal Tom Cruise, que nos dois filmes cria o irritante hábito de repetir em pergunta o que lhe é dito (Alguém: "Você vai participar de uma orgia". Ele: "Vou participar de uma orgia?".).
Mas também porque, ao contrário do original ("Abre los Ojos"), "Vanilla" se deixa levar por um ranço "de arte", que quer justificar até furos no roteiro.
David Aames (Cruise) é o herdeiro bonito e bem-sucedido de um império de comunicações. Sedutor inveterado, tem o apelido de "Citizen Dildo" (Cidadão Consolo, no sentido de vibrador).
Um de seus casos rotineiros é com Cameron Diaz, até que conhece Penélope Cruz. Logo há um acidente de carro, em que Aames sobrevive, mas fica desfigurado. A partir daí, narcisista, se comunica com o mundo usando uma máscara de látex e tem pesadelos.
O filme tem ótimos momentos, caso da cena em que Aames chega a uma Times Square completamente vazia -de tirar o fôlego. Ou como Crowe filma o acidente.
Mas o enredo se perde do meio para o final, quando se nota que nem tudo é o que parece. Essa reviravolta já resultou em excelentes filmes. Não é o caso. Tudo fica sem nexo e forçado, como se o talentoso Crowe tivesse desistido de dirigir o resto. Como disse a impagável Libby Gelman-Waxmar (na verdade o produtor Scott Rudin), da coluna "If You Ask me": os filmes de Cruise dividem-se entre os que ele não usa óculos (os bons) e os que usa (os ruins). Em "Vanilla Sky", ele põe logo uma máscara...


Vanilla Sky
Vanilla Sky
  
Direção: Cameron Crowe
Produção: EUA, 2001
Com: Tom Cruise, Penélope Cruz
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi, Unibanco Arteplex e circuito




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