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CRÍTICA
Cantor vê o mundo com pena
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
"Por favor , seja gentil",
pranteia longamente Rufus Wainwright na canção que
abre "Poses", sintetizando o remorso e a autocomiseração com
que constrói suas letras para tratar de sua devastação interior.
Composto de elegantes e melodiosas baladas, o segundo álbum
do cantor canadense parece ser
mesmo um grande pedido de
desculpas, seja pelas suas imperfeições pessoais, seja pelo mundo
que ele assiste de seu posto de observação, do lado de lá da fronteira do império norte-americano.
Em "Cigarettes and Chocolate
Milk", ele canta sua relação contraditória com os excessos ("tudo
de que gosto/ parece ser um pouco mais doce,/ um pouco mais
gorduroso,/ um pouco mais prejudicial para mim"), enquanto
em "Poses", ele lança seu ataque
ao estilo de vida que observou na
noite nova-iorquina no período
em que viveu naquela cidade
("todas essas atitudes/ de clássica
tortura/ arruinaram minha mente/ como uma cobra num jardim"). Em "California", explicita
o contraste entre seu "mood" interior e a vaidade reluzente dos
EUA sintetizada naquele Estado.
Mas só boas letras, arranjos cuidadosos e melodias belíssimas
não explicam porque "Poses" é
um excelente disco. É na maneira
como manipula sua voz que reside o trunfo de Wainwright. Inflexões vocais que lembram Thom
Yorke (Radiohead), um lirismo
tristonho à la Nick Drake e uma
ou outra tentativa de emular John
Lennon ("Rebel Prince") fazem
com que -mesmo só ao piano
ou acompanhado de cordas e
banda- o que ressalte seja sua
interpretação lamuriosa.
Vale ainda conferir Wainwright
na trilha de "Moulin Rouge"
("Compliante de la Butte") e sua
versão para "Across the Universe" (Lennon/McCartney), no site
(www.rufuswainwright.com).
Sejamos gentis. Ele merece.
Poses
Artista: Rufus Wainwright
Lançamento: FNM
Preço: R$ 25 (em média, o CD)
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