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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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LITERATURA/LANÇAMENTO

Crítico Harold Bloom lança série que introduz público jovem a clássicos da literatura

O cânone juvenil

Toni Albir - 21.mai.2002/France Presse
O crítico e teórico norte-americano Harold Bloom, que tem lançado no Brasil o livro "Primavera"


RODRIGO MOURA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

À parte do debate (político-)literário que vem protagonizando ao longo das últimas décadas (mas nem tão longe assim), o crítico e teórico norte-americano Harold Bloom, 72, há quase meio século professor da Universidade de Yale, sabe ser um dos mais entusiasmados críticos daquela que é a sua paixão, a literatura.
Obras suas como "Como e Por Que Ler" e "O Cânone Ocidental" têm por objetivo "ensinar a ler", tarefa impossível, contudo louvável. Isso porque ele acerta sempre ao dividir com seus leitores os prazeres com o texto -a base dessa mesma paixão, a seu ver divisível e multiplicável.
Mais recentemente, Bloom dedicou seu tempo a organizar uma série de antologias reunindo prosa e verso para leitores jovens. São 39 contos e fábulas e 74 poemas enfeixados em quatro volumes, dos quais a editora Objetiva acaba de lançar o primeiro ("Primavera") para o público brasileiro.
"Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes de Todas as Idades", um título preciso, elegante e irônico. A estratégia, de conceito bastante questionável, foi de reunir obras de grandes autores ocidentais que servissem de portas de entrada à literatura.
Para isso, em primeiro lugar, Bloom abole a categoria "literatura para criança", algo que "teve alguma utilidade e algum mérito no século passado, mas que agora é, muitas vezes, a máscara de um emburrecimento que está destruindo a nossa cultura literária". "Minha pesquisa para a antologia tenta justamente borrar essa divisão", disse, em entrevista à Folha.
Como contexto histórico, Bloom se põe face a face com o consumo massificado de imagens, ou, como ele prefere, com a "ameaça da tirania da tela" - filmes, TV e computadores-, propondo a saída pelo resgate dos valores humanos via literatura.
Sua escolha recai então sobre narradores com vocação fantasista (Kipling e Chesterton, por exemplo) ou naturalista (Zola) e também sobre poemas "nonsense", como o apetitoso "Supersopa, Tão Verde e Tão Rica", de Lewis Carroll, românticos (Keats), clássicos (Shakespeare). Sempre obras pré-1914, anteriores à mudança de sensibilidade empreendida pelos diversos modernismos e pela experiência ocidental com a Primeira Guerra.
Na entrevista à Folha, feita por telefone de sua casa, em New Haven (EUA), enquanto fazia caminhadas por prescrição médica de um pós-operatório cardíaco, Bloom comentou seu projeto e desancou o bruxo preferido das crianças supostamente tiranizadas pela tela. ""Harry Potter" é das coisas mais mal escritas que já li."


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