|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO/LANÇAMENTO
"O MASSAGISTA MÍSTICO"
Obra satiriza mazelas culturais de Trinidad
Naipaul faz rir de sua terra em seu romance de estréia
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
N ão deveriam causar espanto
as recentes polêmicas criadas por V.S. Naipaul em relação
aos muçulmanos da Indonésia e
do Paquistão - ou as anteriores,
quando ele falou da Índia de seus
antepassados. Desde "O Massagista Místico" (57), o Nobel se dedica a baixar o sarrafo nas mazelas políticas e no atraso cultural
das antigas colônias européias.
Nesse seu primeiro romance, o
alvo é a comunidade indiana que
vive em seu país natal, Trinidad.
País? Conforme Naipaul já vitupera na introdução: "Embora os
políticos tenham se acostumado a
chamá-la de país, Trinidad não
passa de uma pequena ilha, que
em tamanho não supera Lancashire e em população é pouco menor que Nottingham".
É lá, nos anos 1940, que se desenrola a história de Ganesh Ramsumair -de professor hesitante a
massagista fracassado, de místico
de araque a político populista.
Sem talento, o jovem brâmane tira proveito da ignorância da população, que se deixa ludibriar
por "massagistas pouco qualificados e dentistas charlatões". Ele limita-se a acenar para as centenas
de livros que leu, a dizer que o paciente não tem nada de errado e a
receitar beberagens inócuas.
De massagista a místico é um
pulo, embora os frutos só comecem a ser colhidos depois que ele
exorciza um menino que acreditava ser perseguido por uma nuvem negra. A cena do esconjuro
atinge tons pungentes e cômicos,
com direito a cânticos frenéticos
em hindi, explosões e desmaios.
Ganesh também sonha em ser
escritor, numa época em que se
confunde talento literário com
obra impressa, livro publicado
com triunfo social. De início rejeitado, seu almanaque "101 Perguntas e Respostas sobre a Religião
Hindu", torna-se o primeiro best-seller da ilha depois que a história
da cura se espalha.
A graça de "O Massagista Místico" tende a diminuir com a ascensão de Ganesh, na medida em que
o narrador se distancia do personagem para descrever as intrigas
políticas. Mesmo assim, há cenas
hilariantes envolvendo a sua curta
carreira de jornalista e o jantar
que o governador oferece aos
broncos legisladores de Trinidad.
Tais episódios, associados a tipos impagáveis, como a tia apelidada de Grande Arrotadora, o sogro ladino Ramlogan, a intrigante
esposa Leela e o livreiro de pés
descalços Bissoon, garantem o interesse e o poder de fogo dessa sátira caribenha.
O Massagista Místico
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 30,50 (224 págs.)
Texto Anterior: Rodapé: Virtudes e vícios educacionais transparecem no perfil das nações Próximo Texto: "A Vida Íntima das Palavras": Escritor utiliza etimologia para criar abecedário de curiosidades Índice
|