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"Não pode parar, mas vive engarrafada"
DA REDAÇÃO
Irônico e polêmico, o gaúcho
Eduardo Bueno, 45, é autor de alguns best-sellers sobre a história
do Brasil. Seu quarto livro da série
"Terra Brasilis" (Objetiva) está
sendo finalizado. Vai se chamar
"A Coroa, a Cruz e a Espada" e
trata dos governos-gerais de Tomé de Sousa e Duarte da Costa,
entre os anos de 1549 e 1556. Mais
de cem páginas serão sobre São
Paulo e sua fundação.
(SC)
Folha - Comemorar os 450 anos
da cidade faz algum sentido?
Eduardo Bueno - Quem pode ser
contra rememorar como São
Paulo nasceu e por que deu no
que deu? Só quem acha que do jeito que ficou está legal. Não me incluo entre esses. Mas, mesmo para quem acha que "comemorar"
significa apenas "celebrar", pergunto: você não celebrou seus 15
anos, seus 18, seus 40, seus 80?
Folha - Qual seria a comemoração
ideal para uma cidade com tantas
diferenças sociais?
Bueno - Na forma de uma reflexão lúdica, dinâmica, vibrante e
intensa sobre os motivos históricos, facilmente explicáveis, aliás,
pelos quais, 450 anos depois, a cidade mantém inalterado o processo de exclusão social, de fúria
gananciosa, de desequilíbrio urbano, de descompasso com o
mundo natural que a fez nascer e
crescer no olho da tormenta.
Folha - São Paulo poderia ter vivido uma outra história? Qual?
Bueno - Sabe Nova York? A cidade que começou errado, com suas
gangues, ganas, cancros, caos -e
que, de repente, deu certo graças a
uma sociedade civil organizada e
impositiva? Pois é.
Folha - Quem é o personagem histórico paulistano mais importante?
Bueno - Sendo um obcecado
seiscentista, acho que foi João Ramalho, o desterrado, o errante, o
protobandeirante, o caçador de
homens, o pirata do sertão, o coronel Kurtz de "Apocalipse Now"
430 anos antes do filme.
Folha - Quais são os estereótipos
de São Paulo que você mais odeia?
Bueno - Dizem que é "a cidade
que não pode parar", mas vive engarrafada. Mas sinto falta da minha velha terra da garoa -que virou a terra da inversão térmica.
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