São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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"Não pode parar, mas vive engarrafada"

DA REDAÇÃO

Irônico e polêmico, o gaúcho Eduardo Bueno, 45, é autor de alguns best-sellers sobre a história do Brasil. Seu quarto livro da série "Terra Brasilis" (Objetiva) está sendo finalizado. Vai se chamar "A Coroa, a Cruz e a Espada" e trata dos governos-gerais de Tomé de Sousa e Duarte da Costa, entre os anos de 1549 e 1556. Mais de cem páginas serão sobre São Paulo e sua fundação. (SC)

Folha - Comemorar os 450 anos da cidade faz algum sentido?
Eduardo Bueno -
Quem pode ser contra rememorar como São Paulo nasceu e por que deu no que deu? Só quem acha que do jeito que ficou está legal. Não me incluo entre esses. Mas, mesmo para quem acha que "comemorar" significa apenas "celebrar", pergunto: você não celebrou seus 15 anos, seus 18, seus 40, seus 80?

Folha - Qual seria a comemoração ideal para uma cidade com tantas diferenças sociais?
Bueno -
Na forma de uma reflexão lúdica, dinâmica, vibrante e intensa sobre os motivos históricos, facilmente explicáveis, aliás, pelos quais, 450 anos depois, a cidade mantém inalterado o processo de exclusão social, de fúria gananciosa, de desequilíbrio urbano, de descompasso com o mundo natural que a fez nascer e crescer no olho da tormenta.

Folha - São Paulo poderia ter vivido uma outra história? Qual?
Bueno -
Sabe Nova York? A cidade que começou errado, com suas gangues, ganas, cancros, caos -e que, de repente, deu certo graças a uma sociedade civil organizada e impositiva? Pois é.

Folha - Quem é o personagem histórico paulistano mais importante?
Bueno -
Sendo um obcecado seiscentista, acho que foi João Ramalho, o desterrado, o errante, o protobandeirante, o caçador de homens, o pirata do sertão, o coronel Kurtz de "Apocalipse Now" 430 anos antes do filme.

Folha - Quais são os estereótipos de São Paulo que você mais odeia?
Bueno -
Dizem que é "a cidade que não pode parar", mas vive engarrafada. Mas sinto falta da minha velha terra da garoa -que virou a terra da inversão térmica.


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