São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Artistas veem violência na arquitetura

Paulo Climachauska e Rafael Carneiro expõem trabalhos sobre guerra e vigilância, no Paço das Artes

DA REPORTAGEM LOCAL

Escombros de guerra se desenham em contas de subtração. Da mesma forma que a violência da arquitetura se traduz na frieza de espaços anônimos. Paulo Climachauska faz linhas reduzindo números, começando numa centena, para linhas mais grossas, ou dezena, para as mais finas, até chegar no zero. Rafael Carneiro põe um embrulho imenso no centro das composições, jogando para as margens tudo o que pode definir sua arquitetura. Nome consagrado e jovem artista em ascensão, Climachauska e Carneiro, nessa ordem, expõem suas obras lado a lado em mostra que abre hoje no Paço das Artes, em SP.
Numa série de 16 desenhos, Climachauska reduz a números diminutos a arquitetura de palácios e refinarias de petróleo bombardeados em guerras ao longo da chamada rota da seda, que liga Ocidente e Oriente. Carneiro extrai da internet imagens de laboratórios, depósitos entulhados -a parafernália cinza do mundo corporativo. Na tela que mostra agora no Paço, exalta a ambiguidade de um volume bem no meio da cena. "Algum tipo de material ocupa o centro, a arquitetura e o espaço vazio foram deslocados", descreve Carneiro. "As coisas acontecem nas margens."
É o mesmo caráter esparso, econômico, das composições de Climachauska. Suas estruturas flutuam em cálculos diáfanos, chamuscados de ponta a ponta. Trazem no corpo quase transparente, alicerçado sobre as contas da destruição, prelúdios de um colapso iminente. Embora esse sistema atravesse a obra do artista, é potente essa adequação de contas fracas demais, de resultados pífios, para representar as injustiças da guerra. "Eu construo subtraindo", diz Climachauska.
"O mundo não é formado pela soma, mas pela subtração, cada escolha é uma subtração." Nas duas telas que expõe agora, o bicho da seda aparece com o corpo transfigurado em cartografia bélica, como o mapa da mina dos ataques aéreos. Têm o mesmo excesso de tinta, não cor, do volume opaco de Carneiro, como se apontasse, na mancha grossa demais, a fraqueza de uma rota erodida. (SM)


PAULO CLIMACHAUSKA E RAFAEL CARNEIRO

Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 11h30 às 19h; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30; até 3/4
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, tel. 0/xx/11/3814-4832, São Paulo)
Quanto: entrada franca


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