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Tindersticks encontra diversão na melancolia
Banda inglesa ameniza tom sombrio de suas composições em novo disco
Vocalista do grupo fala à Folha sobre "Falling Down a Mountain", seu oitavo álbum de estúdio, e
as mudanças no grupo
EDSON VALENTE
EDITOR-ASSISTENTE DE IMÓVEIS
Não é simples catalogar a sonoridade do Tindersticks, grupo formado em Nottingham,
Inglaterra, nos anos 90. Jazz,
soul, indie rock, folk, pop de câmara são alguns dos rótulos
que se sobrepõem para enquadrar um perfil dissonante dos
padrões vigentes desde a época
em que despontou.
Um passeio pelas dez faixas
de seu oitavo álbum de estúdio,
"Falling Down a Mountain",
lançado hoje na Europa, revela
fotogramas das praias musicais
em que a banda aportou em 17
anos de carreira. A estreia fonográfica, em grande estilo, liderou o ranking de melhores discos de 1993 do extinto semanário britânico "Melody Maker".
O que críticos retratavam
como "soundtrack" da melancolia urbana europeia, balizados por referências do porte de
Leonard Cohen e Nick Cave,
evidenciou, ao longo da trajetória do grupo, elementos que
singularizam sua identidade.
Seus alicerces são a instrumentação variada, o lirismo de
melodias e letras, um humor
britânico cruel e o vocal profundo do "crooner" Stuart Staples. Sobre eles construiu-se a
tristeza contida do primeiro álbum, que se abriu para a dramaticidade ultrarromântica
dos dois seguintes (homônimo,
95, e "Curtains", 97), calcados
em grandiosa orquestração.
Alçado ao pedestal de porta-voz dos corações partidos do final do século, o Tindersticks sacudiu o próprio status ao ritmo
do soul em "Simple Pleasure"
(99). E, após duas obras menos
impactantes ("Can Our Love...", 2001, e "Waiting for the
Moon", 2003), aparentava ter
perdido o passo com a saída do
violinista e arranjador Dickon
Hinchliffe em 2006, quando o
conjunto se desfez.
Temia-se que a ausência de
Hinchliffe comprometesse
uma retomada -que se deu em
2007 e gerou "The Hungry
Saw". Preencher a lacuna foi o
degrau para a continuidade.
Em entrevista à Folha, Staples relativiza o trauma. "Sinto
falta do convívio com Dickon,
mas tenho gostado de explorar
o espaço musical que ele ocupava", disse. "O formato da
banda hoje é mais fluido."
Dos seis integrantes iniciais,
restam Stuart, Neil Fraser (guitarra) e David Boulter (piano,
teclados, percussão). Flauta e
violoncelo, de Joanne Fraser e
Andy Nice, respectivamente, e
o trompete de Terry Edwards
dão corpo aos arranjos. Completam o line-up Earl Harvin
(bateria), David Kitt (guitarra)
e Dan McKinna (baixo).
Para Staples, o que mais distingue o novo trabalho dos demais é a autonomia das canções. "Os outros, a partir de
"Curtains", têm uma narrativa
que os atravessa. Em "Falling...",
as músicas se conectam, mas
não entram umas nas outras."
Há muito de "déjà vu" no disco: um dueto com voz feminina
("Peanuts"), modelo já experimentado em 1995, 1997 e 2003;
tintas de folk e country; cacoetes do soul. "She Rode me
Down" repete a levada "mariachi" de "Her" (1993). A desolação de "Factory Girls" dialoga
com "Cherry Blossoms" (1995).
O salto está no modo como
os músicos exploram o universo que o próprio grupo criou.
Como quem, de tanto sofrer,
descobriu atalhos para curar os
imbróglios do amor, seus corações partidos amadureceram.
A leveza aparece nas palmas
e nos lalalás de "Harmony
Around my Table". Em "Factory Girls", Stuart romanceia
("É o vinho que me deixa triste,
não o amor que nunca tive")
para então refletir: "É tão fácil/como se levantar e não cair/
nada a fazer, nada a imaginar/
só coloque seus pés firmemente no chão". Nunca foi tão fácil
e divertido ouvir Tindersticks.
FALLING DOWN A MOUNTAIN
Artista: Tindersticks
Lançamento: 4AD
Quanto: US$ 17,49 (R$ 32, sem taxa
de envio; www.amazon.com)
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