São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Tindersticks encontra diversão na melancolia

Banda inglesa ameniza tom sombrio de suas composições em novo disco

Vocalista do grupo fala à Folha sobre "Falling Down a Mountain", seu oitavo álbum de estúdio, e as mudanças no grupo

EDSON VALENTE
EDITOR-ASSISTENTE DE IMÓVEIS

Não é simples catalogar a sonoridade do Tindersticks, grupo formado em Nottingham, Inglaterra, nos anos 90. Jazz, soul, indie rock, folk, pop de câmara são alguns dos rótulos que se sobrepõem para enquadrar um perfil dissonante dos padrões vigentes desde a época em que despontou. Um passeio pelas dez faixas de seu oitavo álbum de estúdio, "Falling Down a Mountain", lançado hoje na Europa, revela fotogramas das praias musicais em que a banda aportou em 17 anos de carreira. A estreia fonográfica, em grande estilo, liderou o ranking de melhores discos de 1993 do extinto semanário britânico "Melody Maker".
O que críticos retratavam como "soundtrack" da melancolia urbana europeia, balizados por referências do porte de Leonard Cohen e Nick Cave, evidenciou, ao longo da trajetória do grupo, elementos que singularizam sua identidade. Seus alicerces são a instrumentação variada, o lirismo de melodias e letras, um humor britânico cruel e o vocal profundo do "crooner" Stuart Staples. Sobre eles construiu-se a tristeza contida do primeiro álbum, que se abriu para a dramaticidade ultrarromântica dos dois seguintes (homônimo, 95, e "Curtains", 97), calcados em grandiosa orquestração.
Alçado ao pedestal de porta-voz dos corações partidos do final do século, o Tindersticks sacudiu o próprio status ao ritmo do soul em "Simple Pleasure" (99). E, após duas obras menos impactantes ("Can Our Love...", 2001, e "Waiting for the Moon", 2003), aparentava ter perdido o passo com a saída do violinista e arranjador Dickon Hinchliffe em 2006, quando o conjunto se desfez. Temia-se que a ausência de Hinchliffe comprometesse uma retomada -que se deu em 2007 e gerou "The Hungry Saw". Preencher a lacuna foi o degrau para a continuidade.
Em entrevista à Folha, Staples relativiza o trauma. "Sinto falta do convívio com Dickon, mas tenho gostado de explorar o espaço musical que ele ocupava", disse. "O formato da banda hoje é mais fluido." Dos seis integrantes iniciais, restam Stuart, Neil Fraser (guitarra) e David Boulter (piano, teclados, percussão). Flauta e violoncelo, de Joanne Fraser e Andy Nice, respectivamente, e o trompete de Terry Edwards dão corpo aos arranjos. Completam o line-up Earl Harvin (bateria), David Kitt (guitarra) e Dan McKinna (baixo).
Para Staples, o que mais distingue o novo trabalho dos demais é a autonomia das canções. "Os outros, a partir de "Curtains", têm uma narrativa que os atravessa. Em "Falling...", as músicas se conectam, mas não entram umas nas outras." Há muito de "déjà vu" no disco: um dueto com voz feminina ("Peanuts"), modelo já experimentado em 1995, 1997 e 2003; tintas de folk e country; cacoetes do soul. "She Rode me Down" repete a levada "mariachi" de "Her" (1993). A desolação de "Factory Girls" dialoga com "Cherry Blossoms" (1995).
O salto está no modo como os músicos exploram o universo que o próprio grupo criou. Como quem, de tanto sofrer, descobriu atalhos para curar os imbróglios do amor, seus corações partidos amadureceram. A leveza aparece nas palmas e nos lalalás de "Harmony Around my Table". Em "Factory Girls", Stuart romanceia ("É o vinho que me deixa triste, não o amor que nunca tive") para então refletir: "É tão fácil/como se levantar e não cair/ nada a fazer, nada a imaginar/ só coloque seus pés firmemente no chão". Nunca foi tão fácil e divertido ouvir Tindersticks.


FALLING DOWN A MOUNTAIN

Artista: Tindersticks
Lançamento: 4AD
Quanto: US$ 17,49 (R$ 32, sem taxa de envio; www.amazon.com)


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