São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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Público poderá consultar 3.500 dos 52 mil livros raros

DE SÃO PAULO

"A hora é ingrata para a cultura em geral e, em particular, para as artes, coisa sem dúvida supérflua aos olhos dos políticos caipiras e demagógicos que temos."
A frase escrita por Sérgio Milliet em seu "Diário Crítico", em 1956, antecipava a decisão que tomaria em 1959, quando deixou a direção da Biblioteca Mário de Andrade depois de 13 anos à frente da instituição.
Milliet saiu da biblioteca desapontado com a "cegueira" dos administradores públicos, mas a deixou, também, com um patrimônio que até hoje espanta.
O espaço, fundado em 1925, foi inaugurado no ano seguinte, na rua 7 de Abril, como Biblioteca Municipal de São Paulo e possuía uma coleção formada por obras doadas pela Câmara Municipal a Mário de Andrade, nome que ganharia em 1960.
O acervo enriqueceria a partir das décadas de 1930 e 1940. Foi nessa época que, graças à doação e à compra das coleções de intelectuais como Paulo Prado, Eduardo Prado, Eugênio Egas, Félix Pacheco, Francisco Carvalho Franco e Otto Maria Carpeaux, o setor de obras raras ganhou relevância.

LUVAS
Hoje, são 52 mil os volumes raros e especiais que ficam guardados, quase todos, na torre de 22 andares em salas com senha de segurança. Mas uma pequena parte deles, composta por 3.500 exemplares, estará acessível ao público, mediante agendamento, a partir de hoje.
"A pessoa tem de estar com as mãos limpas, não pode estar mascando chiclete ou bala e tem de colocar luvas", explica a bibliotecária Joana de Andrade.
O livro mais antigo do acervo é uma suma teológica de Santo Agostinho de 1477. Questionado sobre a fragilidade do objeto, o coordenador do setor de obras raras, Rizio Bruno Santana, vai até as estantes envidraçadas, pega um pequenino volume em latim sobre agricultura e passa a folheá-lo.
"Ele não está desmontando, está? Olha aqui: Paris, 1543. Um livro de 500 anos atrás vai durar mais outros 500 anos", ensina ele.
O mesmo não se pode dizer dos livros atuais, feitos de outro tipo de fibra.

ARTE E ESTÉTICA
Menos "científica", mas não menos charmosa é a sala de artes, idealizada por Milliet. São 28 mil volumes sobre arte, estética, arquitetura, mobiliário, cinema, música etc. Essa sala dá para um terraço -que ficará fechado- com vista, de um lado, para o hotel Jaraguá e, de outro, para a torre.
Nessa torre, por anos, viveram jornais empilhados e livros tomados por cupins.
Em 2009, todos os volumes foram levados para um galpão, onde passaram por um processo de desinfecção. Neste ano, ao voltar para casa, não só encontraram estantes novas como passaram a ter pequeninos elevadores a seu dispor. (APS)


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