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RELÂMPAGOS
Ouvir
águas
JOÃO GILBERTO NOLL
Pombos na praça. Um homem jogava bola, como se
retirando num fundo de cenário. Imaginei fosse um
domingo. Depois vi mais e
mais gente chegando. Certamente um dia útil. Um
guri pediu. Fiz um murmúrio vago, não sei se de impaciência, mas logo disse: não
tenho, não tenho nada. E de
fato não tinha, a não ser que
ficasse nu. Uma lagartixa
passava por entre pedras
num canteiro. O PM rondava. E por trás de tudo um
córrego vazava seu lamento. Como assim?, pergunta
o companheiro no balcão
do café. Não sei, respondo:
mas me parece, me parece
que dei para ouvir águas...
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