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CINEMA
Cineasta mostra sua mistura de "Ratinho" com "TV Mulher"
AMIR LABAKI
enviado especial a Park City (EUA)
Num ano fraco em nomes conhecidos, Nancy Savoca desembarcou
anteontem como "grande mestra"
no festival de Sundance 99, para a
noite de abertura do evento, em
Park City (Altman o abriu na vizinha Salt Lake City). O filme chama-se "The 24 Hour Woman"
(Mulher 24 Horas). Muito barulho
por nada.
É seu quarto longa-metragem.
Seu primeiro filme, o drama romântico "True Love", venceu o
festival há exatos dez anos. Prestes
a dar à luz, ela não estava presente
na ocasião. Anteontem aconteceu
seu batismo no festival.
Sua presença valeu-lhe a capa da
corrente "Filmmaker", a revista
dos independentes norte-americanos.
Todo o zumbido em torno de Savoca parece ligado menos ao que já
fez do que ao promete fazer. A cineasta tem em desenvolvimento
uma cinebiografia de Janis Joplin.
Fala-se em Julia Roberts para o papel central. Delírio, claro. That's
Hollywood.
Savoca alterna projetos para
grandes estúdios e pequenas produções como "The 24 Hour Woman". Ela trabalha sempre em parceria com o marido, Richard Guay,
roteirista e co-produtor de seus filmes.
²
Filme autobiográfico
Seu novo filme é escancaradamente autobiográfico. "Muitas das
histórias foram inspiradas pelas
nossas crianças", babou Guay no
palco do imponente Eccles Theatre.
A idéia é retratar as agruras da
mulher contemporânea, dividida
entre o lar e o escritório. "The 24
Hour Woman" é também o nome
de um programa matinal de televisão, um improvável misto do nosso antigo "TV Mulher" com "Ratinho".
O filme começa com a produtora
do programa, Grace (Rosie Perez),
descobrindo-se grávida de seu marido, Eddie (Diego Serrano). Ambos são cineastas.
A gravidez é anunciada no ar e
pauta o programa durante os nove
meses seguintes. No entretempo,
Grace contrata uma assistente
(Marianne Jean-Baptiste), que deixa o marido desempregado em casa cuidando das três crianças -o
mesmo numero de filhos de Savoca-Guay.
"Mulheres à Beira de um Ataque
de Nervos", do espanhol Pedro Almodóvar, é o modelo evidente. A
própria Savoca reconhece. "Não
sei por que, talvez devido ao fato de
os personagens dele usarem saltos
altos o tempo todo", disse à "Filmmaker".
É infelizmente ainda tão raro ver
no cinema mulheres lidando com
seus problemas contemporâneos
que quando alguma consegue desenvolver uma carreira com quatro filmes numa década, todos parecem obrigados a saudá-la. Na tela, ainda mais que na vida, não bastam boas intenções.
²
O crítico
Amir Labaki está em Park City como
membro do júri latino-americano.
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