São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
Cineasta mostra sua mistura de "Ratinho" com "TV Mulher"

AMIR LABAKI
enviado especial a Park City (EUA)

Num ano fraco em nomes conhecidos, Nancy Savoca desembarcou anteontem como "grande mestra" no festival de Sundance 99, para a noite de abertura do evento, em Park City (Altman o abriu na vizinha Salt Lake City). O filme chama-se "The 24 Hour Woman" (Mulher 24 Horas). Muito barulho por nada.
É seu quarto longa-metragem. Seu primeiro filme, o drama romântico "True Love", venceu o festival há exatos dez anos. Prestes a dar à luz, ela não estava presente na ocasião. Anteontem aconteceu seu batismo no festival.
Sua presença valeu-lhe a capa da corrente "Filmmaker", a revista dos independentes norte-americanos.
Todo o zumbido em torno de Savoca parece ligado menos ao que já fez do que ao promete fazer. A cineasta tem em desenvolvimento uma cinebiografia de Janis Joplin. Fala-se em Julia Roberts para o papel central. Delírio, claro. That's Hollywood.
Savoca alterna projetos para grandes estúdios e pequenas produções como "The 24 Hour Woman". Ela trabalha sempre em parceria com o marido, Richard Guay, roteirista e co-produtor de seus filmes.
²
Filme autobiográfico Seu novo filme é escancaradamente autobiográfico. "Muitas das histórias foram inspiradas pelas nossas crianças", babou Guay no palco do imponente Eccles Theatre.
A idéia é retratar as agruras da mulher contemporânea, dividida entre o lar e o escritório. "The 24 Hour Woman" é também o nome de um programa matinal de televisão, um improvável misto do nosso antigo "TV Mulher" com "Ratinho".
O filme começa com a produtora do programa, Grace (Rosie Perez), descobrindo-se grávida de seu marido, Eddie (Diego Serrano). Ambos são cineastas.
A gravidez é anunciada no ar e pauta o programa durante os nove meses seguintes. No entretempo, Grace contrata uma assistente (Marianne Jean-Baptiste), que deixa o marido desempregado em casa cuidando das três crianças -o mesmo numero de filhos de Savoca-Guay.
"Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", do espanhol Pedro Almodóvar, é o modelo evidente. A própria Savoca reconhece. "Não sei por que, talvez devido ao fato de os personagens dele usarem saltos altos o tempo todo", disse à "Filmmaker".
É infelizmente ainda tão raro ver no cinema mulheres lidando com seus problemas contemporâneos que quando alguma consegue desenvolver uma carreira com quatro filmes numa década, todos parecem obrigados a saudá-la. Na tela, ainda mais que na vida, não bastam boas intenções.
²


O crítico Amir Labaki está em Park City como membro do júri latino-americano.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.