São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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Momentos da moda

João Wainer/Folha Imagem
A revelação Mariana Weickert, eleita a melhor modelo segundo os jornalistas presentes ao Morumbi, como a mulher-réptil de Villaventura, em vestido de veludo furtacor


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Depois de cinco dias de desfiles, terminou na última sexta-feira o MorumbiFashion Brasil, que lançou em São Paulo a moda para o outono-inverno de 19 confecções. Confira a seguir alguns dos melhores momentos e tendências de estilo para a próxima estação. As roupas chegam às lojas em março.

Alexandre Herchcovitch sai consagrado, com um desfile histórico que aciona o ufanismo do público de moda: aos 27 anos, o estilista vai desfilar essa mesma coleção em Londres, no final de fevereiro.

Com Herchcovitch, o streetwear encontra a alfaiataria; o jeans vira couture; o Japão chega à Espanha; o látex é segunda pele. As arrojadas misturas do estilista chegam à maturidade fashion.

Walter Rodrigues fez uma revolução. Fresco feito uma debutante, o estilista aciona seu Japão do coração em silhuetas sem cintura, que brincam com babados e assimetrias, na delicadeza de seus materiais. Seu inverno é mais simplificado, mas por isso mesmo ainda mais elegante e glamouroso. Seu despojamento demonstra coragem e muito talento.

Fause Haten brinda o mercado no Brasil com uma moda conceitual e moderna, que atende com as camisas brancas, coqueluche da estação, e com criativos trabalhos sobre a textura do tecido. Orgânico e fashion, sexy como nunca.

Marcelo Sommer sai do MorumbiFashion eleito o rei do streetwear comercial, acertando todas na Zapping (neoprenes e camuflados perfeitos) e na marca que leva seu nome (pelúcia; xadrezes; tricôs de boneco de neve). Quem tem medo da moda clubber? Não Sommer, desbravando tecidos e trazendo (ufa!) um pouco de humor à sisudíssima moda paulista.

Reinaldo Lourenço redefine novos contornos para sua elegância, mexendo em seu estilo, sempre em ebulição. Cria silhuetas diferenciadas, modernistas, onde o fashion duela com o clássico (como no perfil de suas clientes, talvez), no antagonismo de materiais e simetrias. O mais lindo rosê bordado se destaca entre o branco, o preto, o verde e o amarelo.

Explosão de cores (agora com mote amazônico) para Lino Villaventura, que produz de novo as mais chocantes imagens de moda desta estação. Limpeza de formas e sofisticação dos looks, cada vez mais depurados, em pareôs jeans, leggings, plissados e veludos. A inspiração é o camaleão, não por acaso a síntese do conceito da transformação que é senha para a transformação vem também do conceito de utilitarismo detonado em outubro nas passarelas internacionais. Ele aparece no fundamento das bolsas acopladas ao corpo que invadiu o MorumbiFashion, em diferentes recursos de edição de moda; no efeito ilusionista do trompe-l'oeil (saia e blusa que na verdade é macacão; Renato Loureiro; Zoomp) ou nas peças de dupla (ou tripla) função da G, onde saias viram vestidos; mangas se tornam bolsos etc.

Corretas até dizer chega, faltou um grande momento fashion nas passarelas de Zoomp e Forum, os gigantes da moda brasileira. As mudanças das duas marcas são silenciosas. Perde a passarela, ganham as prateleiras das lojas.

Algumas marcas retrabalham tendências como a "new bohemian" (os novos boêmios, com o pé no freak, que esteve em Equilíbrio e Ellus); o esportivo tipo Prada mais uma vez. Permanecem o hype aos materiais tecnológicos, bem como o náilon e o neoprene, junto aos efeitos de silicone aplicados sobre o algodão. O náilon aparece na saia matelassê branca de Renato Loureiro, que usa o material também no colete tipo esqui, preto. O material domina a Iódice.

Ao lado do natural (o linho e o próprio algodão), uma das marcas deste inverno fim-de-século é justamente a manufatura, o efeito da mão do homem sobre do tecido, o aspecto artesanal de bordados e apliques. Eles estiveram brilhantemente na coleção de Lino Villaventura, sobretudo nas barbatanas dobráveis e nas escamas de peixes ressecadas transformadas em delicados bordados.

Do hype do natural vem a ascensão dos tricôs, que estiveram por todo lado, mesmo. Destacam-se M.Officer, Forum, Patachou (em cartela de cores de bom gosto, em azuis e marrons), e Renato Loureiro, com 15 tipos de pontos. Para o estilista mineiro, os naturais, grossos, em saias longas e suéteres, ou os tipo irlandeses, que viraram barrados e blusões. O esportivo laranja-"mertiolate" do estilista é moderno e chique.

Tendência curtume em alta, em lindos looks para Reinaldo Lourenço, em pele de vaca (saias, blusas, casacos), e Fause Haten, que trabalhou peles de coelhos nos barrados de calças e boleros. O couro em si também está com tudo. Nas calças masculinas em branco, para Renato Loureiro e Forum, ou, na Zoomp, seja a criativa calça com black jeans no "gilet" ou na volta do formato perfecto (será que chegou a ir algum dia?) na jaqueta. Alexandre Herchcovitch também acredita no hype, no total look tipo fetiche. Em calças amarelas, na Forum, é imbatível.

Numa temporada de acessórios (bolsinhas hippies e os tais bolsos acoplados), destaca-se a iniciativa da Arezzo, criando sapatos diferenciados para sete estilistas (a bota acima do joelho de Walter Rodrigues é um assombro). A FIT ganha pelo conforto de seu slipper de lã cinza. A mesma marca brilhana saia e no vestido em moleton tipo "cobertor-de-mendigo".



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