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CRÍTICA
Filmaço sinaliza nova era em Hollywood
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
"O Informante", de Michael
Mann, é uma obra-prima, o tipo
de filme capaz de nos fazer recuperar a fé no cinema comercial
americano. É "cinemão" com "C"
maiúsculo, um desses filmes imponentes (e cada vez mais raros)
que vão permanecer por muitotempo como exemplo de bom cinema. Trata-se de um "thriller"
político carregado com a emoção
dos grandes filmes policiais e a
pungência de um drama humano
de primeira grandeza. É o que se
costuma chamar de um filmaço.
O filme é baseado numa história
real. Os dois personagens centrais
são Lowell Bergman (Al Pacino),
um genial e genioso produtor do
noticiário "60 Minutes" da rede
de TV CBS, e Jeffrey Wigand
(Russell Crowe), cientista de uma
fabricante de cigarros.
Wigand, o tal "informante" do
título, vive um conflito moral perturbador: sabe que as empresas
de cigarro adicionam substâncias
viciantes nos produtos, mas teme
abrir o bico e estragar sua carreira
vitoriosa. Até que encontra Bergman, um jornalista obcecado por
grandes "furos" e com um tino incrível para espremer suas fontes
até a última gota. Wigand é despedido por não aceitar a política
de pesquisa e prevenção de sua
empresa e, depois de muita insistência de Bergman, decide contar
tudo o que sabe.
A história parece simples. Mas o
testemunho de Wigand foi fundamental no caso que acabou se tornando o maior e mais custoso
processo criminal da história
americana, e que terminou recentemente com a condenação das
empresas de cigarro, obrigadas a
pagar multas num total de US$
246 bilhões.
O depoimento de Wigand foi
gravado mas não foi ao ar, por
causa de pressões sofridas pela
CBS. É aí que "O Informante" dá
um salto e passa de um simples
filme de tribunal a um complicado quebra-cabeças envolvendo a
mídia, o governo e as grandes corporações.
O filme vira um "thriller", com
mais reviravoltas e surpresas que
qualquer fita de mocinho e bandido. Estaria a CBS cedendo a pressões de grandes anunciantes para
não exibir a entrevista? Qual a linha que separa o compromisso
jornalístico de uma empresa de
seus interesses corporativos? Como funcionam as engrenagens do
poder?
Esta mistureba toda podia muito bem resultar num filme mais
que tedioso, se tivesse caído na
mão de um diretor menos competente. Mas Michael Mann caprichou e fez o grande filme que
vinha ensaiando desde sua estréia, com o ótimo "Thief", um
policial com James Caan (quem
não viu procure ver; vale a pena).
Tudo em "O Informante" é de
primeira: o roteiro (de Mann e
Eric Roth, Oscar por "Forrest
Gump") é fantástico. A montagem é esplêndida. O filme começa
num ritmo veloz e vai acelerando
até o final, sem pisar nos freios.
Não há um tiro ou perseguição de
automóvel na história, mas a tensão é digna de um grande filme
policial, tipo "Operação França".
E o que dizer dos atores? Um filme em que Al Pacino fica apenas
com a medalha de prata tem de
ser realmente especial. Sim, porque o show aqui é de Russell Crowe, um ator relativamente novo
que pastou por anos no inferno
dos papéis coadjuvantes e que
agora entra definitivamente para
o primeiro time. Assim como Michael Mann.
"O Informante" pode simbolizar uma nova era do cinema americano. Depois de atingir o fundo
do poço há alguns anos (quem
lembra de "Babe - O Porquinho
Atrapalhado" concorrendo ao
Oscar de melhor filme?), Hollywood parece que tomou jeito e
veio com uma safra fortíssima esse ano, incluindo "Beleza Americana", "Quero Ser John Malkovich", "Magnolia" e alguns outros. Cinema comercial e de qualidade. Taí uma combinação rara.
Avaliação:
Filme: O Informante (The Insider)
Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 1999
Com: Russell Crowe, Al Pacino
Onde: a partir de hoje, nos cines e
circuito
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