São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000


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CRÍTICA
Filmaço sinaliza nova era em Hollywood

ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha

"O Informante", de Michael Mann, é uma obra-prima, o tipo de filme capaz de nos fazer recuperar a fé no cinema comercial americano. É "cinemão" com "C" maiúsculo, um desses filmes imponentes (e cada vez mais raros) que vão permanecer por muitotempo como exemplo de bom cinema. Trata-se de um "thriller" político carregado com a emoção dos grandes filmes policiais e a pungência de um drama humano de primeira grandeza. É o que se costuma chamar de um filmaço.
O filme é baseado numa história real. Os dois personagens centrais são Lowell Bergman (Al Pacino), um genial e genioso produtor do noticiário "60 Minutes" da rede de TV CBS, e Jeffrey Wigand (Russell Crowe), cientista de uma fabricante de cigarros.
Wigand, o tal "informante" do título, vive um conflito moral perturbador: sabe que as empresas de cigarro adicionam substâncias viciantes nos produtos, mas teme abrir o bico e estragar sua carreira vitoriosa. Até que encontra Bergman, um jornalista obcecado por grandes "furos" e com um tino incrível para espremer suas fontes até a última gota. Wigand é despedido por não aceitar a política de pesquisa e prevenção de sua empresa e, depois de muita insistência de Bergman, decide contar tudo o que sabe.
A história parece simples. Mas o testemunho de Wigand foi fundamental no caso que acabou se tornando o maior e mais custoso processo criminal da história americana, e que terminou recentemente com a condenação das empresas de cigarro, obrigadas a pagar multas num total de US$ 246 bilhões.
O depoimento de Wigand foi gravado mas não foi ao ar, por causa de pressões sofridas pela CBS. É aí que "O Informante" dá um salto e passa de um simples filme de tribunal a um complicado quebra-cabeças envolvendo a mídia, o governo e as grandes corporações.
O filme vira um "thriller", com mais reviravoltas e surpresas que qualquer fita de mocinho e bandido. Estaria a CBS cedendo a pressões de grandes anunciantes para não exibir a entrevista? Qual a linha que separa o compromisso jornalístico de uma empresa de seus interesses corporativos? Como funcionam as engrenagens do poder?
Esta mistureba toda podia muito bem resultar num filme mais que tedioso, se tivesse caído na mão de um diretor menos competente. Mas Michael Mann caprichou e fez o grande filme que vinha ensaiando desde sua estréia, com o ótimo "Thief", um policial com James Caan (quem não viu procure ver; vale a pena).
Tudo em "O Informante" é de primeira: o roteiro (de Mann e Eric Roth, Oscar por "Forrest Gump") é fantástico. A montagem é esplêndida. O filme começa num ritmo veloz e vai acelerando até o final, sem pisar nos freios. Não há um tiro ou perseguição de automóvel na história, mas a tensão é digna de um grande filme policial, tipo "Operação França".
E o que dizer dos atores? Um filme em que Al Pacino fica apenas com a medalha de prata tem de ser realmente especial. Sim, porque o show aqui é de Russell Crowe, um ator relativamente novo que pastou por anos no inferno dos papéis coadjuvantes e que agora entra definitivamente para o primeiro time. Assim como Michael Mann.
"O Informante" pode simbolizar uma nova era do cinema americano. Depois de atingir o fundo do poço há alguns anos (quem lembra de "Babe - O Porquinho Atrapalhado" concorrendo ao Oscar de melhor filme?), Hollywood parece que tomou jeito e veio com uma safra fortíssima esse ano, incluindo "Beleza Americana", "Quero Ser John Malkovich", "Magnolia" e alguns outros. Cinema comercial e de qualidade. Taí uma combinação rara.


Avaliação:     

Filme: O Informante (The Insider) Direção: Michael Mann Produção: EUA, 1999 Com: Russell Crowe, Al Pacino Onde: a partir de hoje, nos cines e circuito

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