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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

No arco da história


Lentes de Cristiano Mascaro captam cem mais bonitas edificações do Brasil


FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Afeito à dimensão urbana -especialmente a de São Paulo, que tem sido seu mote principal- o fotógrafo Cristiano Mascaro, 58, num "zoom", se aproximou da escala do edifício e, num alargamento do foco, disparou sua câmera através de grande parte do território nacional.
"Sempre estive ligado a essas coisas", diz Mascaro, ao começar a contar à Folha sua participação no livro "O Patrimônio Construído: As 100 Mais Belas Edificações do Brasil", lançado hoje em São Paulo.
De fato, a presença da arquitetura no trabalho de Mascaro não representa uma escolha casual: antes de ser fotógrafo, ele é arquiteto. E antes ainda -"desde moleque", relembra- tinha fixação no cenário urbano.
"Patrimônio Construído" nasceu de uma lista inicial de 120 sítios, escolhidos por seis especialistas, tendo por critério-base o tombamento pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional).
O reconhecimento federal -a determinação de preservação também pode vir de órgãos municipais ou estaduais- determina a relevância das obras, que se dividem em três períodos, cada qual apresentado por textos de estudiosos, que também comentam os edifícios individualmente.
Assim, as bases da arquitetura brasileira, nos séculos 16 e 17, foram tema de Alexei Bueno; Augusto da Silva Telles responde pelo século 18, com o barroco, que ganharia no Brasil contornos únicos; e Lauro Cavalcanti trilha o caminho para a modernidade, nos séculos 19 e 20.
Mascaro cobriu os cinco séculos em cinco meses; foram cerca de 7.000 cliques, dos quais mais de 500 estão em "Patrimônio Construído". Viajou sempre sozinho, indo de Belém do Pará à quase argentina São Miguel das Missões (RS), em carros alugados nos aeroportos, com regressos periódicos a São Paulo, para revelar os filmes e munir o designer Victor Burton de imagens.
A arquitetura é o "marco durável" do desenvolvimento da cultura de um povo, define Mascaro. O fotógrafo diz ter se espantado por notar quão fascinante ela é mesmo para os "leigos". "Pensava que era coisa de arquiteto", diz, "mas nossos monumentos são muito apreciados."
Os registros dessa impressão estão em fotos como a da igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, onde um grupo de turistas olha "embasbacado" para a obra de Aleijadinho, tendo ao fundo céu enevoado digno do barroco.
Em imagens como essa, conta Mascaro, foi que, apesar do roteiro preciso e da obrigação de ter a "foto clássica, obrigatória, quase literal" que permitisse identificar de pronto os edifícios, ele imprimiu um "discurso um pouco mais romântico", que fugisse de uma visão catalográfica. O fato de todos os registros virem de um mesmo olhar confere unidade ao livro e alça o fotógrafo da posição de coadjuvante à de autor.
"Desde a igreja de são Cosme e são Damião [em Igarassu (PE), é a mais antiga obra retratada, de 1535] até o MAM [do Rio, construído entre 1953 e 1968], percorri num arco, de forma vertiginosa, essa história toda", diz Mascaro, sem esconder uma ponta de orgulho da empreitada.


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