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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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NO ARCO DA HISTÓRIA

Obra traça amplo panorama da produção arquitetônica brasileira dos séculos 16 ao 20

"Patrimônio" é campo para investigações

Reprodução do livro "O Patrimônio Construído"
Vista da igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta (ES), construção tombada pelo Iphan


GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA

O livro "O Patrimônio Construído - As 100 Mais Belas Edificações do Brasil" apresenta um excelente panorama do acervo edificado brasileiro. A riqueza e a vastidão do material, criteriosamente escolhido entre os cerca de 1.500 bens tombados pelo Iphan, é suficiente para permitir tanto a fruição de cada edifício isoladamente, quanto a compreensão de agrupamentos maiores, relações de conjunto.
Essas possibilidades de leitura estão vivamente indicadas nos ensaios monográficos que apresentam os três capítulos do livro, divididos cronologicamente em: a arquitetura dos séculos 16 e 17, a do 18, e a do 19 e 20.
A publicação prima tanto pelo rigor editorial quanto pela qualidade gráfica. No caso do trabalho de pesquisa, a organização e apresentação de tais capítulos ficou ao encargo de Alexei Bueno, Augusto da Silva Telles e Lauro Cavalcanti, respeitados pesquisadores e profissionais dentro da área de teoria da arquitetura e patrimônio histórico.
Também no campo visual a edição merece destaque: foi encomendado ao fotógrafo Cristiano Mascaro a documentação integral desse acervo, o que permitiu uma importante e competente uniformidade de linguagem.
A seleção apresentada é coerente com a história do Iphan, que valorizou sobretudo a produção do século 18, sediada em Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Por outro lado, compensa um pouco o desprezo da instituição pela produção do século 19.
Mas no geral, a variedade do material apresentado dá substância a múltiplas e possíveis formulações teóricas, fazendo do livro um campo aberto para investigações de toda ordem.
Por exemplo, é particularmente impactante a sensação que se tem ao encontrar, logo em seguida às páginas que mostram a riquíssima decoração do eclético Palácio das Laranjeiras, uma foto em close de uma sequência de planos brancos da casa à rua Itápolis do arquiteto modernista Gregori Warchavchik.
Passado o susto, é possível trilhar por meio das imagens o percurso que liga a arquitetura moderna, de volumes prismáticos e sóbrios, à "saúde plástica" (na expressão de Mário de Andrade) da produção colonial feita no Brasil entre os séculos 16 e 17, que Lucio Costa valorizava por ser "desataviada" e oposta aos excessos acadêmicos importados no século 19. Os exemplos maiores dessa herança estão na arquitetura civil e se tornam especialmente nítidos com as imagens da impressionante Casa da Torre de Garcia D'Ávila e Capela, no sertão da Bahia.
Esse nexo entre as arquiteturas moderna e colonial brasileiras, completado com o elo entre a liberdade formal de Niemeyer e o barroco mineiro, é o núcleo conceitual da idéia de patrimônio criada pelo Iphan.
O livro, logicamente, indica essa trilha. Mas é suficientemente aberto para sugerir outras leituras, como, por exemplo, linhas de continuidade entre a monumentalidade da nossa arquitetura moderna e a arquitetura palaciana do século 19, em uma relação de escala não encontrável na produção colonial.


O Patrimônio Construído - As 100 Mais Belas Edificações do Brasil     
Autores: Cristiano Mascaro, Alexei Bueno, Augusto da Silva Telles e Lauro Cavalcanti
Editora: Capivara
Quanto: R$ 143 (500 págs.)



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