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NO ARCO DA HISTÓRIA
Obra traça amplo panorama da produção arquitetônica brasileira dos séculos 16 ao 20
"Patrimônio" é campo para investigações
Reprodução do livro "O Patrimônio Construído"
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Vista da igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta (ES), construção tombada pelo Iphan |
GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA
O livro "O Patrimônio
Construído - As 100 Mais
Belas Edificações do Brasil" apresenta um excelente panorama do
acervo edificado brasileiro. A riqueza e a vastidão do material,
criteriosamente escolhido entre
os cerca de 1.500 bens tombados
pelo Iphan, é suficiente para permitir tanto a fruição de cada edifício isoladamente, quanto a compreensão de agrupamentos maiores, relações de conjunto.
Essas possibilidades de leitura
estão vivamente indicadas nos
ensaios monográficos que apresentam os três capítulos do livro,
divididos cronologicamente em: a
arquitetura dos séculos 16 e 17, a
do 18, e a do 19 e 20.
A publicação prima tanto pelo
rigor editorial quanto pela qualidade gráfica. No caso do trabalho
de pesquisa, a organização e apresentação de tais capítulos ficou ao
encargo de Alexei Bueno, Augusto da Silva Telles e Lauro Cavalcanti, respeitados pesquisadores e
profissionais dentro da área de
teoria da arquitetura e patrimônio histórico.
Também no campo visual a edição merece destaque: foi encomendado ao fotógrafo Cristiano
Mascaro a documentação integral
desse acervo, o que permitiu uma
importante e competente uniformidade de linguagem.
A seleção apresentada é coerente com a história do Iphan, que
valorizou sobretudo a produção
do século 18, sediada em Minas
Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Por
outro lado, compensa um pouco
o desprezo da instituição pela
produção do século 19.
Mas no geral, a variedade do
material apresentado dá substância a múltiplas e possíveis formulações teóricas, fazendo do livro
um campo aberto para investigações de toda ordem.
Por exemplo, é particularmente
impactante a sensação que se tem
ao encontrar, logo em seguida às
páginas que mostram a riquíssima decoração do eclético Palácio
das Laranjeiras, uma foto em close de uma sequência de planos
brancos da casa à rua Itápolis do
arquiteto modernista Gregori
Warchavchik.
Passado o susto, é possível trilhar por meio das imagens o percurso que liga a arquitetura moderna, de volumes prismáticos e
sóbrios, à "saúde plástica" (na expressão de Mário de Andrade) da
produção colonial feita no Brasil
entre os séculos 16 e 17, que Lucio
Costa valorizava por ser "desataviada" e oposta aos excessos acadêmicos importados no século 19.
Os exemplos maiores dessa herança estão na arquitetura civil e
se tornam especialmente nítidos
com as imagens da impressionante Casa da Torre de Garcia D'Ávila
e Capela, no sertão da Bahia.
Esse nexo entre as arquiteturas
moderna e colonial brasileiras,
completado com o elo entre a liberdade formal de Niemeyer e o
barroco mineiro, é o núcleo conceitual da idéia de patrimônio
criada pelo Iphan.
O livro, logicamente, indica essa
trilha. Mas é suficientemente
aberto para sugerir outras leituras, como, por exemplo, linhas de
continuidade entre a monumentalidade da nossa arquitetura moderna e a arquitetura palaciana do
século 19, em uma relação de escala não encontrável na produção
colonial.
O Patrimônio Construído - As
100 Mais Belas Edificações do
Brasil
Autores: Cristiano Mascaro, Alexei
Bueno, Augusto da Silva Telles e Lauro
Cavalcanti
Editora: Capivara
Quanto: R$ 143 (500 págs.)
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