|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
BBC aponta saídas para o modelo estatal
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Guardadas as devidas proporções, duas crises televisivas estimulam o debate sobre o
papel e a estrutura da TV pública
nos dias que correm. O caso da
BBC pode ajudar a pensar o caso
da TV Cultura.
A independência da emissora
pública britânica na cobertura da
participação do país na Guerra do
Iraque gerou confronto com o governo de Tony Blair. Embora a
justificativa oficial para a guerra
nunca tenha sido provada, na
ofensiva, o governo pretende enfraquecer a emissora.
A independência da BBC está
inscrita na forma de financiamento e no modelo administrativo
adotados. Mantida pela receita
proveniente de uma taxa paga por
todos os proprietários locais de
aparelhos televisivos, a rede pública inglesa conta com a simpatia
do público.
A emissora, inicialmente acostumada ao monopólio que o regime estatal garantia, soube se
adaptar à concorrência da iniciativa privada. Sem perder a ênfase
em um diferencial anti-sensacionalista, a rede leva em conta índices de audiência.
A combinação de qualidade
com sensibilidade para a interlocução com o telespectador resultou em um poderoso organismo
híbrido. A rede britânica expandiu suas atividades, entrou na era
digital, se preocupou com novas
mídias, desenvolveu a penetração
de seu noticiário internacional em
diversas partes do mundo, inclusive o Brasil.
O apoio da sociedade garantiu,
há cerca de 20 anos, a resistência
da BBC às investidas conservadoras do governo Margaret Thatcher (1979-1990). Esse mesmo
apoio estará em jogo em 2006,
quando o atual governo trabalhista aproveitará a revisão periódica
da carta da emissora para tentar
pulveriza-la.
A força da BBC atraiu a oposição oficial. A fragilidade da TV
Cultura atraiu a intervenção
branca do governo do Estado.
O caso inglês pode ser acompanhado através de mecanismos
abertos de consulta e informação.
Recomendo aos interessados
uma visita ao site da BBC (www.bbc.co.uk), para um panorama
impressionantemente aberto da
companhia, seus organismos, dirigentes, planos e avaliações.
Já no caso da TV Cultura, se não
houver uma estrutura que garanta autonomia financeira e controle da sociedade, ela nunca deixará
de ser governamental.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
Texto Anterior: Análise: Trupe expressou gírias e dúvidas da década de 70 Próximo Texto: Cinema: Documentário toca em ferida argentina Índice
|