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OSCAR
Artistas criticam decisão da Academia de escolher Antonio Banderas para interpretar a canção do uruguaio Jorge Drexler
Veto a músico de "Diários" estimula carta-protesto
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
O produtor que dirigirá a transmissão televisiva do Oscar neste
domingo vetou o nome do uruguaio Jorge Drexler para cantar
sua própria obra, "Al Otro Lado
del Río", como é praxe na cerimônia. A música do filme "Diários de
Motocicleta", dirigido pelo brasileiro Walter Salles, concorre a melhor canção original. Segundo a
Folha apurou, o veto irritou os
envolvidos no filme e personalidades do meio cultural latino-americano, que divulgariam uma
carta-protesto na noite de ontem.
Há pouco mais de uma semana,
o produtor norte-americano Gil
Cates anunciou que o cantor pop
espanhol Enrique Iglesias cantaria a música acompanhado do
guitarrista mexicano Carlos Santana, mas logo voltou atrás diante
da reação do público no Uruguai,
Argentina e Espanha e do próprio
Drexler, que ameaçou retirar a
canção da competição -decisão
que ganha mais peso quando se
leva em conta que a sua é a primeira canção em espanhol a concorrer ao Oscar em 77 anos.
A Folha apurou que, depois de
Iglesias, Cates convidou o casal de
cantores-atores Marc Anthony e
Jennifer Lopez, que recusaram
por conflito de agenda. O produtor chegou então a um nome de
consenso, Antonio Banderas, que
deve cantar "Al Otro Lado del
Río" no domingo acompanhado
de Santana. O ator só aceitou o
convite depois de consultar Drexler, que deu sinal verde para o espanhol. Banderas talvez fale ao vivo que quem deveria estar no palco era o próprio autor, não ele.
Além disso, em sinal de protesto, o mexicano Gael García Bernal
recusou o convite de introduzir o
momento em que a canção vai ser
mostrada na cerimônia. O ator interpreta Che Guevara em "Diários
de Motocicleta", e é praxe que um
dos atores do filme faça isso. Ainda não foi anunciado quem introduzirá "Al Otro Lado del Río",
mas as atrizes Penélope Cruz, espanhola, e Salma Hayek, mexicana, já confirmaram presença.
A carta-protesto deve ter assinaturas de, entre outros, os diretores
mexicanos Alejandro González
Iñárritu e Alfonso Cuarón. "Gostaríamos de expressar nossa insatisfação com o que parece ser eticamente inaceitável para nós", diz
rascunho da carta. "A decisão que
nos está sendo imposta não é somente desrespeitosa com o artista
como autor. Também demonstra
um completo desinteresse pelas
diversas matizes culturais que
existem em nosso continente."
O autor do imbróglio não é a
Academia, que afinal indicou
uma música cantada em espanhol
pela primeira vez na história, mas
Cates, 70, um diretor de filmes B e
produtor-executivo em sua 12ª direção não-consecutiva da cerimônia, que foi chamado de volta para
tentar aumentar a audiência da
premiação, em queda livre. Foi
sua idéia, por exemplo, convidar
o comediante negro Chris Rock
para apresentar a festa deste ano.
Indagado sobre as mudanças, disse: "Preocupo-me apenas com a
audiência, que quer ver astros".
A "limpeza étnica" atingiu outras pessoas. A inglesa Minnie
Driver, inicialmente escalada para
defender a música que canta em
"O Fantasma da Ópera", "Learn
to Be Lonely", sofreu veto semelhante. Por decisão de Cates, a
atriz foi substituída pela cantora
negra Beyoncé Knowles. A mesma Beyoncé, uma das maiores
vendedoras de disco para o mercado pop, também destronou o
coro de meninos franceses que
originalmente canta "Vois Sur
Ton Chemin" em "A Voz do Coração" -no domingo, os pequenos gauleses serão substituídos
pelo American Boychoir, que
cantará com ela a versão em inglês "Look to Your Path".
"Gostaria de ter sido comunicado de que não cantaria ou pelo
menos consultado pela produção
sobre a decisão, o que nunca
aconteceu", disse à Folha Jorge
Drexler. Para Walter Salles, a decisão "desrespeita o autor, tem um
caráter impositivo e mostra desinteresse ou, pior, ignorância em
relação à diversidade cultural que
existe na América do Sul".
Mas o diretor contrapõe isso
com os mais de 40 prêmios e indicações do filme -"Diários" concorre ainda ao César no sábado:
"Estamos felizes, tivemos o prêmio da crítica londrina, os dois
prêmios no Bafta, o Goya para o
roteirista José Rivera. E, mais importante, "Diários" chega aos 10
milhões de espectadores, mais do
que poderíamos esperar".
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