São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Drexler diz que vai à cerimônia

DA CALIFÓRNIA

Leia a entrevista que o músico uruguaio Jorge Drexler deu à Folha, de Los Angeles: (SD)

Folha - Por que você não cantará sua música, como é praxe?
Jorge Drexler -
É uma discrepância de critérios. Eu, nas minhas canções, Walter, nos seus filmes, tomamos nossas decisões levando em conta apenas os critérios artísticos e estéticos. Numa grande transmissão de TV, os critérios artísticos não são nem os primeiros nem os segundos, só os da audiência. Para eles, não é importante respeitar a coerência entre a estética da canção apresentada e a a que vai ser mostrada no show. Se baseiam numa figura midiática

Folha - E Banderas é isso?
Drexler -
Sim. Mas levando em conta esta situação estranha, o Antonio teve uma atitude muito elegante, falou conosco, disse que cantaria só se nós quiséssemos e que defenderia a música com todo o carinho que pudesse. Eu ficaria encantado, seria uma honra se Caetano Veloso cantasse, como sugerimos. Mas eles nunca perguntaram nossa opinião e só estão interessados em estrelas.

Folha - Pela audiência?
Drexler -
Sim, e eu não jogo nessa liga. Conheço minhas limitações e opções, sei o que posso fazer com um violão na mão e um microfone, mas sei que não sou uma figura midiática. A exposição que esta música tem é um parasita, não o mais importante, e eles consideram o mais importante. São critérios contraditórios. A audiência nos EUA é tratada de uma maneira fundamentalista, é muito importante para os produtores que todo o mundo veja apenas o programa deles.

Folha - Como você soube que não seria você?
Drexler -
Ninguém me ligou diretamente. Não foi elegante.

Folha - Valeu ser indicado?
Drexler -
É muito importante não perder a perspectiva de que isso é um fato cultural de relevância, uma academia de fala inglesa abrir as portas para uma canção espanhola. Em 1945, Ary Barroso foi indicado por "Brazil", mas era a versão em inglês. Perdeu.

Folha - E você, vai ganhar?
Drexler -
Não sei, é um mistério para mim. Mas vou à cerimônia, porque isso não é uma obrigação, é um direito, ganhei este lugar. Tenho muito orgulho desta canção, vou caminhar pelo tapete vermelho no domingo de cabeça erguida, não vou me esconder.


Texto Anterior: Oscar: Veto a músico de "Diários" estimula carta-protesto
Próximo Texto: Trecho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.