São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

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OSCAR

Pela primeira vez composição em espanhol concorre como melhor canção

"Azarão" Drexler e habitué Williams encabeçam lista

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dentre todas as qualidades do Oscar, seguramente ousadia não é um de seus pontos fortes. Como acontece todos os anos, a famosa Academia joga pelo certo e focaliza sua atenção nos filmes que engrandecem com sensibilidade melodramática as boas e velhas virtudes que já conhecemos, ou simplesmente nos épicos, filmes com crianças, sobre a Segunda Guerra, com animais falantes...
Geralmente, tanto o anúncio dos indicados quanto a premiação em si transcorrem sem grandes sustos. Em se falando de trilha sonora e canção original, por exemplo, no ano passado ambos os prêmios foram abocanhados pelo megalomaníaco "Senhor dos Anéis", o que foi empolgante para... alguém?
Neste ano, entretanto, uma pequena e agradável surpresa se instaurou entre os indicados: pela primeira vez uma composição em espanhol concorre ao prêmio de melhor canção, "Al Otro Lado del Río", do uruguaio Jorge Drexler, da trilha do filme "Diários de Motocicleta". Fã de bossa nova e adepto do mesmo tipo de delicadeza e melancolia na canção, ele foi convidado pelo próprio diretor do filme, Walter Salles, para compor algo para o longa, e escreveu "Al Otro Lado del Río" depois de ler o roteiro original.
Azarão, as chances de Drexler efetivamente ganhar o prêmio não devem ser muito grandes. Outro concorrente na mesma categoria é a banda norte-americana de pop-rock Counting Crows (que todo mundo só conhece pelo hit de meados dos anos 90 "Mr. Jones"), com a música "Accidentally in Love", da trilha de canções de "Shrek 2", indicação com leve gosto de jabá -ou será uma tentativa da Academia de se "comunicar com os jovens"?
A "canção-família" "Believe", da trilha de "O Expresso Polar", interpretada por Josh Groban (uma espécie de novo Andrea Bocelli), também surge entre os indicados, assim como "Learn to Be Lonely", canção com resquícios de Broadway do filme "O Fantasma da Ópera", feita pelo velho conhecido Andrew Lloyd Webber. Completando a lista, está o coro de "A Voz do Coração", com a boa canção "Vois Sur Ton Chemin" ("Look to Your Path", nos EUA), do francês Bruno Coulais.
Já na parte de trilhas originais, as surpresas inexistiram, o que era de esperar. As boas trilhas de "A Vila" e "Desventuras em Série" concorrem com a intensa "A Paixão de Cristo", a leve "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" e a singela "Em Busca da Terra do Nunca", todas feitas dentro do esquema de linha de produção do cinema americano.
John Williams, compositor da trilha de "Harry Potter", foi indicado a primeira vez em 1968 e depois outras 28 vezes, com seis vitórias no currículo. Já tanto Thomas Newman, de "Desventuras", como James Newton Howard, de "A Vila", já concorreram seis vezes, mas sempre voltaram para casa de mãos abanando. E Jan A.P. Kaczmarek, de "Em Busca da Terra do Nunca", e John Debney, de "A Paixão de Cristo", estão debutando na festa, apesar (ou por causa) de já terem composto para filmes como uma refilmagem polonesa épica de "Quo Vadis?" e "Homem-Aranha 2", respectivamente.


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