São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

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ERIKA PALOMINO

OOPS: DE NOVO!
PRADA MUDA TUDO EM MILÃO

Peles, botas, galochas (são hype de novo), echarpes, capuzes, meias e mantôs. O arsenal fashion para enfrentar a maratona de desfiles na cidade fria & cinza não é brinquedo, não. Os fashionistas, no front das tendências, exercitam-se na guerra contra as baixas temperaturas por aqui. Mas, em Milão, tudo é tão chique, não?

 

Ainda que sem barulhentas erupções, essa temporada de desfiles de inverno 2005/2006 vai ser lembrada como a estação em que a Prada, mais uma vez, reorienta os rumos da moda. Em silêncio, faz derramar magma quente nos pés dos fashionistas, enquanto caía fina neve na cidade, numa semana gelada como há muito não se via.
A marca de Miuccia Prada se atira no território do minimalismo -o seu. Quer dizer, o dela. Não um revival do estilo praticado nos anos 90, mas o da simplicidade de caráter ilusionista. Na hora em que a grife abre o desfile com um... vestidinho de alças (!), um fundamento está no ar. Afinal, nada no Planeta Prada é por acaso. Mais mensagens viriam a seguir.
Com seu inverno, a marca se despe da decoração, do barroco, dos brocados, dos excessos. Também da explosão das cores (jamaicanas no verão) para voltar ao velho e bom preto. Quer dizer, não ao velho, mas ao novo preto. Ele é feito de muitos mantôs e de volumes (leia o conversê abaixo), de silhuetas arrojadas que desafiam a gravidade de maneira comercial -usável. Sim, a Prada quer vender. A construção lembra Balenciaga, o arquiteto da moda. O recurso da costura é o do inacabado, do gilet trompe-l'oeil na estampa (que certamente será copiada), nas nervuras em branco dos casacos. O efeito final é fechado, sóbrio, duro.
"Eu queria de volta algo estruturado, forte, próprio de uma mulher adulta, para recuar dos estúpidos babados, das estampas e da decoração", declarou Miuccia Prada à imprensa, nas palavras com o peso de discurso político.
Os neutros também cumprem importante papel nesse olhar essencial, nos cinzas e beges. E, enquanto o novo-novíssimo tenta cooptar seus adeptos, alguns hits se repetem na parada de sucessos, como a silhueta do pós-guerra de que a marca tanto gosta, com cintura marcada por cinto fino; a saia-lápis e cintura marcada; a sandália anos 40 (usada agora com meia-calça opaca) e mesmo os ilhoses das bolsas -vendeu pencas quanto tinha na Miu Miu.
Quer saber? Não é minha coleção favorita da Prada, não. Para mim é ainda árido demais. Mas como tudo o que eles fazem, daqui a pouco, todo mundo vai querer se vestir assim.


@ - epalomino@folhasp.com.br

GUARDA-ROUPA: COMO VOCE VAI SE VESTIR?
Depois do terremoto saída-de-Tom-Ford, a estilista Alessandra Fachinetti faz sua segunda coleção para a Gucci. Um militarismo andrógino aqui, uma silhueta popozuda justa ao corpo ali -a mulher de hoje é mesmo feita de opostos. A grife faz um desfile para ganhar campeonato: correto, sem brilhantismos ainda, mas garantindo seu lugar no primeiro grupo. A consumidora da Gucci vai ter o que comprar no primeiro bloco, de muito cetim, casacos de pele e bolsas croco, claro. Vai se sentir gostosa nos vestidos sinuosos, contemporâneos e sem excessos. E, se for magrinha e tiver cartão de crédito gold, pode reinar nos longos do final.
Em outra direção, a Burberry colheu os maiores elogios com seu estilista Christopher Bailey. O tema era a Londres de Biba, Ossie Clark, Celia Birtwell (tem mostra da Biba na Corso Como; confirmou!). Nada de ultranovo, mas num jeito natural e espontâneo. A coleção vai dar certo no inverno paulistano com sua loja no Iguatemi.
Também de olho na loja nova, aberta anteontem aqui em Milão, a Marni está mais adulta e mais sóbria. A cartela fica nos marrons, cinzas, beges, marinhos (o novo preto), economizando nas estampas. A silhueta fica no verão, trabalhando mais os volumes, e terminando com vestidos hippies, em generosas listras coloridas. Bonito. Simples. E caro.

CONVERSINHA

Um desfile da Prada é sempre um acontecimento muito excitante. Não é todo dia que se depara assim com o novo. E, como obra moderna que se preza, a moda da Prada deixa você assim meio desconcertado, tentando juntar lé com cré na sua cabeça. Foi desse jeito meio atônito, ainda dentro da sala, que encontrei o diretor da marca, Fabio Zambernardi. Eu estava acompanhada do diretor de arte Giovanni Bianco. Felicitamos o designer (o primeiro nome abaixo de Miuccia Prada) e não demoramos a atacá-lo com zilhões de perguntas ao mesmo tempo. A conversinha rápida a seguir se deu não em clima de entrevista, portanto, mas no delicioso rush pós-desfile. Tomo a liberdade de reproduzir um pouco dessa emoção aqui. Logo depois, Zambernardi saía correndo de volta para o backstage, onde ele deveria colocar de pé a segunda sessão do desfile de inverno da marca, cerca de uma hora depois, e completar mais um capítulo na história da moda.
 

Folha - Quem foi a menina incrível que abriu?
Zambernardi -
Sasha, uma russa. As sete primeiras meninas são ótimas. Entre elas estão algumas exclusivas da Prada nesta estação. Gosto de Vlada, Freja, Marla...
Folha - E tem também a Jeísa, que é brasileira!
Zambernardi -
Gosto muito dela, ela está cada vez mais bonita, está amadurecendo, tornando-se mulher e seu rosto está ficando realmente lindo.
Folha - Os volumes, incríveis.
Zambernardi -
Sim. Estamos gostando muito de volumes.
Folha - Parecem meio Balenciaga dos anos 50.
Zambernardi -
Talvez... Um pouco alta moda, um pouco Comme des Garçons...
Folha - Por que os mantôs?
Zambernardi -
Estávamos querendo trabalhar volumes e com vestidos e mantôs é possível ter mais controle sobre a silhueta.
Folha - E a música? É bem diferente da música da Prada...
Zambernardi -
Queríamos algo bem duro e forte desta vez.

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