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CINEMA
Sesc Santana exibe clássicos de Watson Macedo, Carlos Manga e José Carlos Burle em sessões gratuitas no Carnaval
Ciclo retoma a ingenuidade da chanchada
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A palavra "ingênuo" é a que
mais se escuta em "Assim
Era a Atlântida", um dos filmes
do miniciclo dedicado à chanchada de hoje a terça no Sesc Santana.
A ingenuidade é o centro do discurso de justificação que caracteriza esta antologia de chanchadas
dos anos 50, feita para exaltá-la.
Mas as coisas são assim no cinema brasileiro, não lhe basta existir, é preciso sempre justificar-se.
No seu tempo, a chanchada era
execrada não por ingênua, mas
pela suposta falta de qualidade.
"Assim Era a Atlântida" (terça, às
17h) procura ser uma resposta a
isso. Suas imagens demonstram
que se fazia muito mais do que seria lícito esperar, nas condições
inóspitas em que se trabalhava na
companhia de Severiano Ribeiro.
Mas, quando esse filme foi feito,
em 1974, já existia outro entendimento. Oswald de Andrade já havia sido reabilitado e, graças aos
esforços de cineastas ditos "marginais", a chanchada já era vista
como o momento antropofágico
por excelência de nosso cinema.
Tratava-se de tomar como
apoio o cinema estrangeiro, assimilar-lhe as virturdes e formular
uma resposta própria. Isso será
visível, talvez até demais, em "Matar ou Correr" (amanhã, 17h), paródia dirigida por Carlos Manga
que tomava como base o faroeste
"Matar ou Morrer", enorme sucesso na época. Manga recriava
entre nós, com muita desenvoltura, o estilo dos filmes americanos.
José Carlos Burle, de "Carnaval
Atlântida" (hoje, 17h), era provavelmente o mais profundo do trio
de ferro da chanchada, que se
completava com Watson Macedo. Neste filme, ele não só faz rir
com Oscarito como opõe o saber
erudito ao popular, o universal ao
nacional e o professor Xenofontes
ao Carnaval. É um retrato exemplar do nacionalismo dos anos 50.
Tal retrato completa-se com o
gracioso "Aviso aos Navegantes"
(segunda, 17h), de Watson Macedo, o tio de Eliana Macedo, um
dos ícones do gênero ao lado de
comediantes como Grande Otelo
e dos cantores de rádio.
Tratava-se de um cinema pobre
e dirigido a um público inculto,
que em seus bons momentos produziu a imagem até hoje insubstituível da vida, dos costumes e do
humor carioca naqueles anos.
Chanchadas
Quando: de hoje a ter., às 17h
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont
Villares, 579, SP, tel. 0/xx/11/6971-8700)
Quanto: entrada franca
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