São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Mônica Bergamo

@- bergamo@folhasp.com.br

João Sal/Folha Imagem
Bolsa com discos de vinil que o DJ leva do país


Invadimos o quarto de Fatboy Slim... ... e encontramos até CDs piratas em sua bagagem

"Olha lá! Está começando a chover. Nós damos azar. Sempre atraímos chuva", preocupa-se o DJ Norman Cook, codinome Fatboy Slim ("gordinho enxuto"), 42, no sofá do 17º andar de um hotel à beira-mar, em Salvador, na terça-feira. Faltam três horas para o músico inglês assumir os picapes do trio elétrico Demolidor e arrastar 5.000 pessoas que pagaram entre R$ 220 e R$ 300 para estar lá, vestindo o abadá do bloco. "Hoje não pode chover!!"

 

É questão de minutos para a boa notícia: fim da chuva. Sorte. Mais sorte do que Fatboy Slim tem tido nas festas de casamento. "Não faço mais. Desde que eu toquei lá [no enlace de Ronaldo e da apresentadora Daniella Cicarelli, em 2004, desfeito três meses depois], nunca mais fui "agendado" para nenhum casamento. Acho que não ajudei muito [risos]."
 

E por quanto dinheiro, aliás, terá saído o luxo de ter um dos DJs mais famosos do mundo tocando em seu próprio casório, um profissional cujo cachê pode passar de R$ 200 mil? "Não me lembro se cobrei. Eu cobrei?", pergunta a um produtor, que acaba de entrar de supetão no quarto. "Acho que ganhei uma camisa do time do Brasil autografada pelo Ronaldo. Ele é meu fã, então pediu para eu tocar lá." Só isso? "Bom, ele me beijou nos lábios. Depois a noiva também me beijou nos lábios."
 

Enquanto a chuva escorre pela janela, Fatboy Slim assiste à transmissão do Carnaval pela TV. Aponta para a tela: "Olha esse tanto de gente dançando! Isso é que é o amor! O amor, o amor, o amor!". Neste ano, a turnê do DJ incluiu dez shows pelo Brasil e mais um extra na casa do "Big Brother Brasil". "Não conheci o país direito, mas amei o pouco que vi. Não faço a menor questão de ir ao Pão de Açúcar, mas gosto de andar no meio das pessoas. Normalmente, eu fico muito no quarto, vendo aquela mesma maçã do hotel, sabe?"
 

"Só lamento duas coisas no Brasil", diz o DJ, diante da mesa com nove bitucas no cinzeiro e frutas comidas pela metade. "O [idioma] português é muito difícil, eu não consigo falar quase nada. Ah, aprendi a pronunciar uma palavra difícil: "Be-lo Ho-ri-zon-te"." Ele acende um cigarro: "Também lamento ser casado [com a radialista Zoe Ball]. Vejo tantas mulheres lindas aqui, mas aí olho para a aliança...".
 

O DJ conta que, entre uma apresentação e outra, conseguiu descansar alguns dias em um resort. "Só vou te contar que fica perto de Camboriú. Mas prometi para o dono que não contaria que estive lá", diz, sem explicar as razões do mistério. "Tinha uma fazenda de ostras. Comi tantas ostras! Amo ostras."
 

"Vem aqui ver os discos que eu comprei", convida, entrando no quarto (bagunçado) e espalhando CDs pelo chão. E eis que... surpresa! Tem até CD pirata no pacote, de Zé Ramalho a uma coletânea chamada "Festa", de axé e funk. "Esses foram bem baratos!", diz. Em outra mala, mais de 30 discos de vinil: "Instrumentos Populares do Nordeste", "Tropicália", Daniela Mercury. E o que ele acha do trabalho de Daniela, com quem gravou uma música e que o acompanhou em parte da turnê? "Gosto dela como pessoa." E da música? "Yehhh...", diz, fazendo um "mais ou menos" com a mão. "Não tem muito a ver com meu estilo, mas é legal a idéia de gravar com ela."
 

Camisa azul florida estendida sobre a tábua de passar, barbeador na tomada, Fatboy Slim está quase pronto para tomar a van rumo ao início do circuito Barra-Ondina. Fala um pouco sobre política. Ele aprova o premiê de seu país, Tony Blair, pela retirada das tropas do Iraque. E diz que odeia George W. Bush. "Ainda bem que os democratas vão ganhar as próximas eleições nos EUA. Não dá pra ficar com o Bush. O Bush está f...", diz, passando a mão direita no pescoço, como quem corta a própria garganta.

DANIEL BERGAMASCO (reportagem)

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