São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Crítica

Drama repensa macheza no faroeste

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Numa época mais hipócrita, mas não necessariamente menos sensata, ninguém pensava que caubóis, que passavam meses sem ver uma mulher, pudessem ser homossexuais.
Os atores que representavam caubóis, menos ainda. Hoje sabemos que Randolph Scott era gay. Mas, vendo seus filmes, ainda não dizemos isso: a macheza é um território sagrado do faroeste.
"O Segredo de Brokeback Mountain" (Telecine Pipoca, 20h) nos fez repensar tudo isso. Primeiro: o faroeste, como gênero, não diz respeito à macheza, mas a um mundo em que as funções masculinas e femininas são distintas e discriminadas. Elas nem dizem respeito à sexualidade. Em poucas palavras: o homem mata (caça, produz, alimenta), a mulher dá à luz (reproduz, entretém o lar).
Segundo: podemos pensar que caubóis passavam meses sem ver uma mulher. Como se desapertavam os rapazes? O homossexualismo devia ser corrente no Velho Oeste. "O Segredo" vai a uma época em que certas partições passaram por mudanças. E, nessa época, os dois caubóis mantêm vidas duplas: são casados com mulheres, mas amantes entre si.
O que há de mais interessante neste melodrama é a delicadeza com que trata os sentimentos. E talvez a cena mais tocante seja aquela em que a filha de um deles lhe pede para vir ao seu casamento. E ele, que não tem lugar no mundo, talvez encontre, por um pouco de tempo, seu lugar.


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