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Crítica
Drama repensa macheza no faroeste
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Numa época mais hipócrita,
mas não necessariamente menos sensata, ninguém pensava
que caubóis, que passavam meses sem ver uma mulher, pudessem ser homossexuais.
Os atores que representavam
caubóis, menos ainda. Hoje sabemos que Randolph Scott era
gay. Mas, vendo seus filmes,
ainda não dizemos isso: a macheza é um território sagrado
do faroeste.
"O Segredo de Brokeback
Mountain" (Telecine Pipoca,
20h) nos fez repensar tudo isso.
Primeiro: o faroeste, como gênero, não diz respeito à macheza, mas a um mundo em que as
funções masculinas e femininas são distintas e discriminadas. Elas nem dizem respeito à
sexualidade. Em poucas palavras: o homem mata (caça, produz, alimenta), a mulher dá à
luz (reproduz, entretém o lar).
Segundo: podemos pensar
que caubóis passavam meses
sem ver uma mulher. Como se
desapertavam os rapazes? O
homossexualismo devia ser
corrente no Velho Oeste. "O Segredo" vai a uma época em que
certas partições passaram por
mudanças. E, nessa época, os
dois caubóis mantêm vidas duplas: são casados com mulheres, mas amantes entre si.
O que há de mais interessante neste melodrama é a delicadeza com que trata os sentimentos. E talvez a cena mais
tocante seja aquela em que a filha de um deles lhe pede para
vir ao seu casamento. E ele, que
não tem lugar no mundo, talvez
encontre, por um pouco de
tempo, seu lugar.
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